Ao início da manhã do passado dia 10 de Abril, em Vila Chã, concelho de Vila do
Conde, ocorreu um episódio de vento muito forte que causou destruição
significativa em instalações agropecuárias e algumas habitações. De acordo com
os elementos disponíveis, esta destruição ter-se-á traduzido essencialmente por
destelhamentos, danos em janelas e muros, tendo sido igualmente registada
destruição em árvores. A natureza dos danos revela consistência com estragos
tipicamente produzidos por um tornado.
O território do continente encontrava-se, então, sob a
influência de uma depressão complexa, cujo núcleo principal se centrava a
sudoeste da Irlanda. Na sua circulação a depressão transportava ar relativamente
frio e húmido, em que se organizaram diversas linhas de instabilidade que
afectaram Portugal continental durante a madrugada daquele dia. Ao início da
manhã verificou-se a aproximação e passagem da respectiva superfície frontal
fria sobre o litoral da região Norte. Esta perturbação evoluiu como um sistema
convectivo quási-linear. Trata-se de um sistema com significativas ondulações,
que as observações com radar mostram sob a forma de deformações no campo da
reflectividade (ou da intensidade da precipitação). Estas, por sua vez, são
consequência directa de movimentos de rotação relativamente organizados,
estabelecidos em níveis baixos (em geral abaixo de 3 quilómetros de altitude).
Em alguns casos, estes movimentos de eixo essencialmente vertical podem ser
amplificados de modo a produzir fenómenos de tipo tornado. Por via de regra,
neste contexto meteorológico, os tornados produzidos são de curta duração e
baixa intensidade.
Pelas 6:46 UTC (7:46, hora local) a observação do
campo da precipitação mostra um destes padrões ondulatórios (eco em arco) ainda
sobre o mar, mas já nas proximidades do local de Vila Chã, onde ocorreu o
tornado. Na correspondente observação da velocidade em relação à tempestade é
visível um padrão de dipolo de rotação, que reflecte um movimento de sentido
ciclónico (sentido anti-horário) a que o fenómeno esteve associado. O perfil
vertical do vento observado pelo radar de Arouca/Pico do Gralheiro mostra que o
vento, de sudoeste, se intensificava substancialmente numa camada baixa. Para
além do vórtice cuja assinatura se identificou junto a Vila Chã, as observações
permitem identificar muitos outros vórtices organizados ao longo da referida
perturbação frontal.
A natureza dos danos verificados por via documental
sugere ter-se tratado de um tornado F1/T2 (rajada 3s, na gama 33-42 m/s). “F”
designa a escala de Fujita clássica e “T” a escala de TORRO (Tornado and Storm
Research Organization).
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Fonte: IPMA
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