Os últimos grandes nevões em Bragança e em Montesinho ocorreram na década de 1990.
A falta de nevões em Montesinho é uma evidência das flutuações cíclicas do clima
entre o arrefecimento e o aquecimento, defende o meteorologista Dionísio
Gonçalves, que rejeita que exista alguma tendência em torno das
alterações.
Depois de um fim-de-semana de temperaturas acima dos
20 graus, Bragança está hoje incluída nos avisos de neve e, em situações
semelhantes, a primeira pergunta que surge é se "já neva em Montesinho". Com ou
sem previsões oficiais, a realidade é que "já não neva como antigamente, nem em
Montesinho, nem na cidade" de Bragança e a falta de nevões é "uma das únicas
evidências no clima regional" das alterações climáticas que, para o
meteorologista Dionísio Gonçalves, "são questões
cíclicas".
Os últimos grandes nevões consecutivos de que há
registo em Montesinho ocorreram nos anos "excepcionais" da viragem da década de
1960 para 1970, numa época em não se falava do aquecimento global ('Global
Warming'), mas do arrefecimento ('Global Cooling). "A temperatura nas décadas de
1960 e 1970 desceu significativamente e, o que se falava nos meios científicos,
era do 'Global Cooling' porque a temperatura estava a arrefecer, embora houvesse
uma poluição desmesurada", contou à Lusa.
Depois dos anos 80, a temperatura "recuperou e teria
atingido os máximos antes de chegar ao final do século". Agora está, continuou,
"para cima e para baixo, com grandes oscilações, e não se pode dizer que haja
uma tendência nítida de progressão".
Dionísio Gonçalves é professor catedrático jubilado de
Bragança e foi sempre um curioso do clima, o que o levou a fazer um doutoramento
em meteorologia e a estudar o clima da região ao longo da sua carreira. Em
entrevista à Lusa, lembrou que "só a partir do final da década de 80 é que se
começou a falar do Aquecimento Global de uma forma muito alarmista, dizendo que
se chegava ao fim do século XX com quatro a cinco graus acima da média". "Alias,
dizia-se mesmo que o Árctico estaria livre de gelo em 2013. Foi precisamente no
ano de 2012 para 2013 que o gelo aumentou dois mil quilómetros",
apontou.
Isto acontece, na opinião deste estudioso, "porque há
flutuações" e Dionísio Gonçalves acredita que a comunidade científica começou a
aperceber-se de que "não se pode simular o clima futuro, basear os modelos,
apenas nos gases de efeito de estufa, porque há outros componentes". E há também
"as questões políticas", enfatizou.
"O clima sempre esteve em alteração permanente. Agora,
sob o ponto de vista político e mundial, quer-se vincular de uma forma, talvez
exagerada, que é o Homem que está a forçar o clima para além daquilo que seria
normal", considerou. A ideia parece-lhe "sem pés nem cabeça" e defende: "não tem
muito cabimento chamarmos a nós essa capacidade de fazer aquecer e arrefecer o
globo".
Dionísio Gonçalves lembra que estas situações
climáticas já aconteciam antes, "mas politicamente e economicamente o mundo
tinha outras preocupações, como aquando do grande 'boom' depois da guerra". Os
últimos grandes nevões em Bragança e em Montesinho ocorreram na década de 1990.
A cidade entrou no ano de 1997 com vários dias sucessivos de neve e gelo que
provocaram constrangimentos e a queda de estruturas na zona
industrial.
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Fonte: Diário de
Notícias
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