Ondas de calor como a Lucifer,
durante a qual, no início de Agosto, as temperaturas subiram acima dos 40º e se
mantiveram acima dos 20º à noite, em locais tão improváveis como a zona alpina
da Eslovénia, ou fenómenos como o que assolou Portugal e Espanha em Junho,
ajudando à deflagração de mortíferos incêndios como o de Pedrógão Grande, vão
tornar-se a norma em meados do século XXI. Isto caso as nações do mundo se
provem incapazes de agir para reduzir as alterações climáticas globais
provocadas por acção humana. É este o alerta deixado num estudo agora divulgado
pela World Weather Attribution, uma associação que reúne cientistas de todo o
mundo na análise dos efeitos das alterações climáticas na recorrência de
fenómenos naturais extremos.
Ainda que as alterações
climáticas não possam ser responsabilizadas de forma directa e isolada por cada
um dos desastres naturais que têm ocorrido, existe uma relação entre o primeiro
fenómeno e o facto de os segundos acontecerem cada vez mais frequentemente.
Comparando a recorrência recente de fenómenos extremos com os registos
históricos e com modelos informáticos de evolução do clima num ambiente
simulado sem a influência das emissões de carbono, a World Weather Attribution
conclui que as alterações climáticas já estão a ter impacto na frequência de
eventos extremos.
A organização indica que o risco
de uma onda de calor como a que atingiu Portugal e Espanha em Junho tornou-se
dez vezes maior em comparação com os registos do século XX. E que os Invernos
quentes sentidos recentemente no continente europeu se tornaram num
acontecimento 60 vezes mais provável, ou que o branqueamento em massa da Grande
Barreira do Coral australiana, e consequente e grave fragilização gigantesca
estrutura natural, se tornou uma realidade cuja probabilidade de acontecer
aumentou 175 vezes relativamente à era pré-industrial.
“No início da primeira década de
1900, um Verão como o que vivemos agora teria sido extremamente raro”, afirmou
em comunicado Geer Jan van Oldenborgh, investigador sénior no Instituto
Meteorológico Real dos Países Baixos, citado pela Reuters, acrescentando que,
neste momento, “em todo o sul da Europa, a possibilidade de assistirmos a uma
onda de calor tão quente como a do Verão passado todos os Verões é de 1 em 10”.
Mais de 35 mil pessoas morreram
na Europa como consequência da onda de calor de 2003, enquanto na Rússia,
dezenas de milhares de mortes foram atribuídas a uma vaga de calor intenso
registada em 2010. Em zonas mais quentes noutras zonas do globo, a ameaça,
naturalmente, é ainda maior. “É urgente que as cidades trabalhem com cientistas
e especialistas em saúde pública no desenvolvimento de planos de acção, porque
o calor extremo tornar-se-á a norma a meio deste século”, alerta Robert
Vautard, investigador no Laboratório de Ciências Ambientais e do Clima, em
França.
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Fonte: PÚBLICO
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