Os incêndios mortais de Pedrógão Grande, a 17 de Junho, e da zona
centro, a 15 de Outubro, poderão estar relacionados com um fenómeno raro, com
um nome difícil de pronunciar: pirocumulonimbo. Dois elementos da Comissão
Técnica Independente que investigaram os fogos do início do verão que mataram
64 pessoas acreditam que foi isso que aconteceu, segundo contaram à TSF.
"Pirocumulonimbo é uma tempestade criada por um incêndio",
diz Paulo Fernandes, doutorado em Ciências Florestais e Ambientais da
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). De entre as imagens que viu
e os relatos que ouviu acerca dos incêndios, destaca a nuvem do incêndio, que
descreve como "muito desenvolvida, muito alta, que a determinada altura
começou a produzir relâmpagos e trovões". "Esse é um dos sinais do
pirocumulonimbo", conclui.
Este fenómeno já havia sido descrito pela Comissão Técnica
Independente relativamente ao incêndio de Pedrógão. "É uma nuvem de fumo
que sobe muito alto, a 10 quilómetros, 12. Quando essa nuvem sobe tão alto,
além da condensação, forma-se gelo e é o atrito entre os cristais de gelo que
pode provocar raios, provocados pelo próprio incêndios, e que por vezes dão
origem a novas ignições", descreve o Paulo Fernandes, para quem a
existência de um pirocumulonimbo "explicaria, pelo menos em parte, a
devastação a que se assistiu nestes dois grandes incêndios do interior".
De acordo com o que o investigador afirmou à TSF, "um incêndio florestal
típico não causa aquela destruição", sendo necessário para isso acontecer
"vento forte, com projecções a grande distância de materiais
incandescentes".
Carlos Fonseca, outro elemento da
Comissão Técnica Independente, diz à mesma rádio que aquilo que viu foi
"um incêndio de uma dimensão, de uma violência, de uma rapidez como nunca
tinha assistido". O investigador, que também andou no terreno a combater
as chamas junto da sua propriedade, recorda as? "labaredas com mais de 30
metros, com fumos de múltiplas cores", um cenário com "toda uma
dinâmica atmosférica estranha".
Hélio Madeiras
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Fonte: Diário de Notícias
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