O governo divulgou, esta
sexta-feira, alguns pontos do capítulo 6 do relatório sobre os incêndios de
Pedrógão Grande, que fazem uma análise detalhada a casos de sobrevivência, a
vítimas mortais encontradas e a problemas nas comunicações. Os pontos em causa
no relatório elaborado pelo Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais da
Universidade de Coimbra, analisam várias situações, entre elas casos de
sobrevivência por as pessoas terem permanecido em casa ou em tanques de água,
alguns feridos que foram socorridos, as pessoas que foram encontradas já sem
vida, mas salvaguardam a identidade dos envolvidos, bem como alguns dos locais
onde ocorreram as situações.
A Comissão Nacional de Protecção
Dados (CNPD) vetou a publicação integral do capítulo 6 do relatório elaborado
por Domingos Xavier Viegas sobre os incêndios de Pedrógão Grande, permitindo
apenas que os familiares das vítimas tenham acesso à informação. Apesar do
veto, a Comissão Nacional de Protecção Dados autorizou a publicação de alguns
pontos do capítulo 6, desde que previamente sejam colocados no anonimato
"alguns elementos que podem permitir indirectamente a identificação dos intervenientes"
e que "cada um dos intervenientes der o consentimento".
Os pontos divulgados esta
sexta-feira começam por analisar alguns casos de sobrevivência de pessoas que
conseguiram escapar ao refugiar-se em tanques de água ou piscinas, como o caso
de 11 pessoas que entraram num tanque em Nodeirinho. O relatório analisa também
casos de pessoas que permaneceram em casa e acabaram por sobreviver, mas também
os motivos que levaram muitas a abandonarem as suas habitações.
O documento salienta ainda o
testemunho de um dos primeiros bombeiros a sair para o incêndio, com uma análise
detalhada do seu percurso e do que foi encontrando, tendo recolhido alguns
feridos pelo caminho. Esta pessoa fez um dos primeiros pedidos de socorro
registados pela fita do tempo, cerca das 19:25.
É também revelado o percurso de
um elemento que saiu para o local a pedido do Comandante Nacional para fazer o
reconhecimento do perímetro do incêndio de Pedrógão Grande, acompanhado por
elementos da Força Especial de Bombeiros, a 17 de Junho, que descreve que
encontrou "uma criança caída no chão" perto do Outão. "A criança
estava inconsciente e tinha queimaduras na parte posterior do braço e nas
pernas também. Estava de calções, 't-shirt' e sandálias", refere o
documento, acrescentando que havia fogo de ambos os lados da estrada. Depois de
socorreram a criança e uns idosos numa fase seguinte, a equipa foi informada de
que haveria problemas na estrada 236-1.
"Deixaram o carro parado
porque havia um pinheiro caído, junto ao tronco encontraram um cadáver. Aqui
começa todo o procedimento de levantamento dos corpos que iam vendo. Foram à
procura nos veículos todos, nalguns foi possível identificar cadáveres, muitos
dentro dos veículos (a maior parte)", acrescenta o relatório. Nesse troço
fizeram a identificação de "19 ou 20 corpos" e fizeram essa
comunicação.
"Uma vez que não conseguiram
falar directamente com o PCO – Posto de Comando Operacional – (não tinha rede
telemóvel e o SIRESP também não permitia fazer isso) fizeram essa comunicação
para Lisboa, via rádio. Trocaram de canal, ligaram o canal nacional e passaram
essa informação para o Comando Nacional, quem estivesse via rádio naquele canal
ouviria a conversa", salienta o relatório. A informação referia que foram detectadas
19 vítimas mortais nesse troço, mas que "o número seria superior".
Ao longo do percurso que os
bombeiros continuaram a efectuar, que decorreu até à manhã do dia 18, foram
encontrando outras vítimas mortais, explicando que deixaram "os corpos
tapados" e identificaram "as coordenadas geográficas".
Os pontos hoje divulgados do
relatório terminam com o caso de um homem que socorreu pessoas e acabou por
voltar ao lugar de Adega, informando a GNR que sabia que ainda lá estavam mais
pessoas feridas. "Os agentes deixaram-no prosseguir, por sua conta e risco",
frisa o documento, referindo que o homem conseguiu recolher mais pessoas para
serem socorridas.
Em 17 de Junho e durante vários
dias, fogos florestais devastaram extensas áreas, sobretudo em Pedrógão Grande,
provocando 64 vítimas mortais e mais de 200 feridos, além de elevados prejuízos
materiais.
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Fonte: Jornal de Notícias
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