Durante o verão as regiões mais quentes da Península Ibérica estendem-se desde o vale do Guadalquivir em Espanha até ao interior do Alentejo. Em sentido contrário, ao largo da costa portuguesa as massas de ar oceânicas são bem mais frescas e húmidas. As diferenças de temperatura entre estas gera um comportamento no regime de ventos que causa a persistência de fluxo de norte sobre a costa Portuguesa, este fluxo de norte é acentuado pela influencia do Anticiclone dos Açores e das baixas pressões térmicas sobre o norte de África e interior Ibérico.
A este predomínio de circulação de norte muitas vezes chamamos de regime de nortada. A nortada ainda tem outro efeito importante, esta arrefece o oceano junto à costa, num fenómeno chamado upwelling. Temos assim ventos de norte, ar oceânico mais fresco e águas frias junto à costa ocidental, enquanto que no interior predominam massas de ar muito mais quentes.
O ar húmido que vem do oceano arrefece ainda mais sobre o oceano mais frio junto da costa, promovendo ainda mais o surgimento de nevoeiros costeiros. “O clima mais fresco do litoral deve-se a condições geográficas particulares, e pode ser visto como um recurso num cenário em que o clima está a aquecer e os Verões estão a ficar insuportáveis no interior e noutras regiões como o Mediterrâneo. “
Na meteorologia há um factor que é da maior importância, a geografia. Elementos geográficos como ocupação do solo, a distribuição e as formas do relevo e a influência humana no meio natural têm impactos muito relevantes no comportamento da atmosfera. No caso das nortadas e da faixa costeira centro, temos dois pontos muito importantes que são o facto do litoral se estender sobre o oceano, gerando uma protuberância, e o facto de haver um sistema de serras costeiras com altitudes entre 300 e 600m logo poucos km para o interior.
No caso do litoral centro, este está muito mais exposto ao regime de ventos de norte e noroeste, que empurram o ar oceânico mais fresco e húmido sobre o território… este ar ao encontrar as serras costeiras é canalizado para sul, e acelera, intensificando o próprio vento sentido à superfície. As serras também são altas o suficiente para impedir o ar oceânico de progredir para o interior, e como uma barragem actuam no sentido de reter as massas de nuvens baixas que vêem do mar.
É por este motivo que cada lado das serras temos localidades com climas muito diferentes, Peniche por exemplo tem os Verões mais frescos de Portugal, enquanto que Santarém ou Lisboa têm Verões muito mais quentes. Troços costeiros abrigados da influência dos ventos frios de norte, como o Algarve, Baía de Setúbal ou Baía de Cascais, observam também Verões muito mais quentes do que troços expostos aos ventos.
Mas estes climas mais frescos são uma oportunidade! Num futuro em que o aquecimento global gera cada vez mais ondas de calor e os climas do interior se tornam cada vez mais quentes, muita gente virá à procura destas regiões costeiras mais frescas e agradáveis. Estimamos que ao longo das próximas décadas as regiões costeiras sejam cada vez mais procuradas pelos turistas.
Alem disso, o regime de nortada e upwelling são também um recurso natural importante, dado que permitem que as águas oceânicas sejam mais oxigenadas e carregadas de nutrientes, tornando a produtividade biológica muito maior.
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Fonte (imagens e texto): BestWeather
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