
Imaginemos um edifício atmosférico que conta com dois andares (rés-do-chão e primeiro andar, assinalados por r/c e 1º no esquema), cada qual com dois apartamentos (esquerdo e direito, assinalados por E e D no esquema). A parede interna que separa os apartamentos ( linha x – x` no esquema) constituí o eixo vertical do cavado (vaguada, em espanhol); este eixo do cavado separa os apartamentos do lado direito (que constituem a parte dianteira ou secção anterior do cavado) dos apartamentos do lado esquerdo (que constituem a parte traseira ou secção posterior do cavado, ou o mesmo que a parte dianteira de uma cunha).
Por sua vez a linha no esquema assinalada pelas letras y – y` separa os apartamentos do andar térreo (r/c) dos apartamentos do primeiro andar (na atmosfera ocorre ao nível dos 600 hPa).
Em cada um dos apartamentos atmosféricos ocorrem processos de convergência ou de divergência horizontal. Na convergência horizontal, ocorre uma acumulação de ar proveniente dos arredores e que se desloca horizontalmente; pelo contrário, na divergência horizontal ocorre uma emissão de ar para os arredores, deslocando-se horizontalmente. Refira-se que, na atmosfera, ao nível dos 600 hPa praticamente não existe convergência nem divergência, pelo que é dominado por “Nível de não divergência” – NND.
Na secção anterior ou parte dianteira do cavado, e entre a superfície terrestre e o NND (apartamento D r/c; 1a) verifica-se a existência de convergência horizontal (acumulação de ar). Este ar que se acumula vai elevar-se, passando para o apartamento superior (apartamento D 1º; 1b), onde a divergência horizontal existente imediatamente o expulsa ou o emite horizontalmente para os arredores – 2a).
Já na parte posterior do cavado, ou dianteira da cunha (apartamento E 1º; 2b), a convergência horizontal cria uma acumulação de ar -3a), o qual é dirigido por subsidência (descida de ar) até ao andar térreo (apartamento E r/c; 3b). Aqui, à medida que o ar chega, a divergência horizontal existente vai expulsá-lo para os arredores – 4a); parte desse ar regressa ao seu ponto de origem – 4b) e reinicia o ciclo de movimentos do ar - 1a).
Todos estes processos são contínuos e simultâneos, mas variam de intensidade de acordo com o estado de desenvolvimento do cavado ou “vaguada”.
Mas, porque é que se forma a baixa pressão junto à superfície ? A convergência horizontal existente no apartamento D r/c (parte dianteira do cavado) provoca uma acumulação de ar que não irá aí ficar, uma vez que ascende logo ao apartamento superior D 1º, o qual apresenta um maior volume ou espaço que o apartamento anterior.
No apartamento D 1º ocorre uma emissão ou expulsão de grandes volumes de ar, que tinha vindo do apartamento inferior (D r/c).
Em síntese, é maior o volume de ar que sai do apartamento D 1º do que chega do apartamento D r/c. Portanto, a coluna de ar vertical formada pelos apartamentos D r/c e D 1º vai perdendo ar ao longo do tempo. Este facto é notado pela diminuição da pressão junto à superfície (“chão” do apartamento D r/c).
Os processos que ocorrem no apartamento D 1º actuam como uma bomba de ar, absorvendo o ar do apartamento inferior (D r/c) e emitindo-o todo horizontalmente. Assim, uma baixa em superfície é uma área horizontal acima da qual existe uma coluna de ar mais leve que o ar existente à sua volta.
Com o tempo, o volume de ar que se acumula no apartamento E 1º é maior que o volume de ar perdido pelo apartamento inferior (E r/c). Então, gradualmente vai aumentando a massa da coluna vertical formada pelos apartamentos posteriores (E 1º e E r/c). Este facto provoca um aumento da pressão atmosférica no “chão” do apartamento E r/c.
No esquema, o “tecto” do edifício atmosférico corresponde à tropopausa (camada de separação entre a troposfera e a estratosfera) – encontra-se aos 250 hPa, entre os 10 e os 13 quilómetros de altitude).
A subida que ocorre na sessão anterior ou dianteira do cavado ou “vaguada”, especialmente quando entra em cena ar quente e húmido, determina a formação de abundante nebulosidade e precipitações. Pelo contrário, na sessão posterior do cavado ou anterior de uma cunha, a subsidência de ar favorece a dissipação de nebulosidade, a diminuição da humidade do ar e a ocorrência de bom tempo.
1 comentário:
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