O futuro é quente, mas no sentido trágico da palavra. Uma análise publicada em hoje (nota: 13 de Agosto de 2004) na revista "Science" (
www.sciencemag.org) mostra que as ondas de calor no hemisfério Norte --como a que matou 20 mil pessoas na Europa em 2003-- serão mais freqüentes e longas no fim do século.O estudo foi realizado pelos climatologistas Gerald Meehl e Claudia Tebaldi, do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica dos Estados Unidos (NCAR, na sigla em inglês). Eles usaram o mesmo modelo climático aplicado pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática) no seu último relatório, publicado em 2001.
Primeiro, os dois testaram a eficiência do modelo na explicação de temperaturas verificadas entre 1961 e 1990 na América do Norte e na Europa --uma espécie de previsão do tempo de trás para a frente. Depois de obterem resultados próximos dos reais, projectaram eventos entre 2080 e 2099 inseridos em um quadro no qual nada muda nas políticas públicas ambientais em todo o mundo. "Esse cenário assume que, durante o século 21, nós continuaremos a nos portar da mesma maneira em relação o uso de energia, ao crescimento da economia e ao aumento da população", disse Meehl à Folha.
Os cientistas até analisaram se alguns poluentes encontrados na atmosfera, como aerossóis, poderiam reflectir a luz solar e diminuir o ritmo do aquecimento da Terra, mas não tiveram o resultado que esperavam. Durante o trabalho, Meehl e Tebaldi focaram duas vítimas notórias das ondas de calor: Chicago, no Meio-Oeste dos EUA, e Paris, França. Em 1995, temperaturas altas mataram 739 pessoas na cidade americana, além de arruinar plantações. No ano passado (2003), o verão europeu registrou mais de 40ºC, devido ao aquecimento anormal do Mediterrâneo. O calor matou quase 15 mil pessoas na França --a maioria idosos e pessoas de saúde debilitada.
Hoje, a duração média de ondas de calor na capital francesa varia de 8 a 13 dias. Segundo o estudo, ela pulará de 11 a 17 dias, e o evento ocorrerá duas vezes por ano a partir de 2080. O mesmo pode ocorrer em Chicago, onde as ondas de calor devem ter um dia a mais: nove, em vez de oito. Os resultados mostram que o aumento da absorção de calor causado pelos gases-estufa intensifica um padrão de circulação atmosférica incomum já observado na Europa e na América do Norte. Esses gases formam uma capa sobre a Terra, que impede o calor de fugir para o espaço.
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Novas regras
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"O facto de o modelo representar bem condições associadas a esses dois casos [Chicago e Paris] não garante que funcione em outras regiões", afirma o climatologista Chris Forest, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Ondas de calor são eventos extremos, causados quando um "bloqueio" na atmosfera, como uma elevação da pressão, impede que a humidade chegue a determinado local. Os dias são claros e quentes e as noites são menos frescas do que normalmente.
"Os gases-estufa forçam a atmosfera a agir sob novas regras expostas claramente em eventos climáticos extremos como ondas de calor", diz a climatologista Leila Vespoli, da USP. Para Meehl, as ondas de calor podem matar mais pessoas em um período de tempo mais curto do que quase qualquer outro evento climático.
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Fonte:
Texto ORIGINAL EM INGLÊS aqui
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