O planeta está entrando em literal e acelerado estado de ebulição. Os cientistas e ecologistas explicam que a camada de ozônio, rompida e fragilizada pela exagerada carga de poluição de todos os níveis, já não consegue conter o excesso de raios ultravioletas despejados sobre a terra. O globo aquece, as geleiras trópicas derretem, aumentando o volume dos oceanos. Com isso, as alterações climáticas e ambientais vão se evoluindo de ano a ano, numa escalada altamente ameaçadora ao futuro da vida sobre o planeta azul.
O homem destrói a terra em nome do progresso. A evolução tecnológica associada à ganância e ao egoísmo forma um gás letal para a consciência dos povos. Primeiro, o processo da cegueira ética, que nubla a visão de governantes e instituições afins, em suas ineficientes políticas públicas de proteção ambiental. O processo de destruição generalizada e indiscriminada do ecossistema patrocina, naturalmente, a também progressiva perda na qualidade da vida, o que tecnicamente é chamado de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).
O grande problema é que, embora todos estejamos vendo isso acontecer aí debaixo do nosso nariz, ou longe dele, pouco se nos damos conta da nossa real obrigação de fazer alguma coisa mais consistente para ver mudar esse quadro desolador. Há sempre, da parte de cada indivíduo, uma pronta disposição de se isentar da culpa e/ou da responsabilidade pelos danos causados à natureza e ao meio ambiente. Na verdade é mesmo bem mais cômodo dizer que a culpa do desequilíbrio ambiental é de nações desenvolvidas e altamente industrializadas como os Estados Unidos, que nem quiseram assinar o Tratado de Kioto, que continuam produzindo artefatos atômicos e promovendo testes nucleares. Sim, é mais fácil dizer que a culpa dessa destruição ecossistêmica toda é de cidades como São Paulo, com suas selvas de chaminés ajofrando fumaça tóxica ao ar 24 hora por dia, com seus dutos canalizando todo tipo de poluentes químicos e nucleares para rios, lagos e mares. A culpa da destruição da Amazônia, a devastação das florestas é dos madeireiros, dos grileiros, dos exploradores clandestinos de madeira, inclusive em reservas indígenas. Da mesma forma que a culpa é dos garimpeiros, que jogam mercúrio nas águas, assoreiam os mananciais e, com suas dragas e tratores acabam com tudo que encontram pela frente. Também são culpados os produtores rurais, os sojicultores, que, continuadamente, despejam toneladas e toneladas de pesticidas nas suas lavouras. A culpa desse fumacê todo, considerado normal para essa época do ano, que provoca tantas doenças respiratórias, tantos malefícios à saúde e ao bem estar das pessoas; esse clima denso e pesado que seca tudo e torna o ar simplesmente irrespirável, é “serviço” dos outros. Tudo isso é culpa de alguém que coloca fogo no terreno baldio, no monte de lixo, que faz alguma coisa que agride ao meio ambiente. Jamais achamos que a culpa é também nossa. Difícil aceitar que tantas vezes contribuímos com esse gradativo e pesado mutirão de destruição ambiental, até através da queima de um cigarro, o uso desnecessário de veículos.
De fato, os índices de degradação ambiental estão batendo recordes atrás de recordes. Esse ano, já em julho, em determinadas regiões do Centro-Oeste, por exemplo, a temperatura média subiu mais de três graus este ano, e a umidade relativa do ar já atinge marcas críticas e altamente preocupantes (17%), ou seja, fora do normal. No Sul do País, região fria, o calor é causticante e a população se protege como pode debaixo dos chuveiros, dentro de mananciais, piscinas etc. Nos Estados Unidos, a população em pânico pede socorro debaixo de um calor tórrido acima dos 40 graus, com a umidade do ar em níveis jamais vistos na história da história da América. Por enquanto tem água para minorar e até controlar essa situação. Mas isso, segundo os cientistas, não será por muito tempo. Mesmo assim, além dos ciscos, dos terrenos baldios, das matas, dos combustíveis dos veículos e das fábricas e todo o inferno que arde a terra, a consciência política parece virar cinzas também.
JCC
FONTE: CORREIO CACERENSE (Editorial de 25 de Julho de 2006)
JCC
FONTE: CORREIO CACERENSE (Editorial de 25 de Julho de 2006)
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