quinta-feira, 31 de agosto de 2006

408. Espanha está a fechar torneira ao Guadiana


As autoridades espanholas estão, devido à seca, a fechar as "torneiras" às suas barragens no Sul da Península Ibérica e os efeitos já se estão a fazer sentir em Portugal. Desde Maio sucedem-se os dias sem pinga de água vinda de Espanha.
E a albufeira de Alqueva, no rio Guadiana, já registou 19 dias sem caudal afluente e outros 15 dias com um fluxo residual (inferior a 0,5 metros cúbicos por segundo), de acordo com dados do Instituto da Água, apesar de esta entidade alegar que "estes valores ainda não estão validados". Contudo, o Ministério do Ambiente de Espanha, através do seu habitual boletim hidrológico semanal, admite que secou o Guadiana, em Badajoz, durante a passada segunda-feira.
Os cortes totais de caudal no Guadiana contrariam o disposto no convénio dos rios internacionais, assinado pelos dois países ibéricos, em Novembro de 2000 (ver texto em baixo). A Espanha comprometia-se a deixar passar em Badajoz pelo menos dois metros cúbicos (dois mil litros) por segundo, apenas estando descomprometido em situações muito específicas de seca. Porém, esse regime de excepção tem de cumprir determinadas condicionantes meteorológicas, e Espanha não o invocou ainda.
Certo é que as consequências destes cortes de caudal no Guadiana começam a ser evidentes na albufeira de Alqueva, que actualmente está nos níveis mais baixos dos últimos dois anos. Após a inauguração, no início de 2002, a albufeira de Alqueva - com uma capacidade de 4150 hectómetros cúbicos, mais de quatro vezes a albufeira de Castelo de Bode) - nunca encheu. O máximo que atingiu foi em Junho de 2004, quando chegou a cerca de 80% do armazenamento total. Desde essa altura, tem vindo a "perder" água e ontem estava nos 61,6%, o valor mais baixo dos últimos anos. A situação ainda se torna pior em relação à sua capacidade útil - ou seja, o volume que pode ser utilizado para a rega e produção eléctrica. Como cerca de 25% da albufeira é "volume morto", não utilizável, o "copo" criado pela barragem de Alqueva está, actualmente, a meio.
A situação tenderá a agravar-se ainda mais nos próximos meses se a situação meteorológica não se alterar. De acordo com os últimos dados do Ministério do Ambiente de Espanha, os níveis de armazenamento das suas albufeiras cifram-se em apenas 42%, o valor mais baixo da última década. As bacias hidrográficas do Sul de Espanha estão a ser as mais afectadas e os transvases habituais - como os de Tejo para o Segura - já foram suspensos, mesmo para abastecimento público, por falta de água nas albufeiras de origem. O caso do Guadiana é mesmo dramático porque, em relação ao ano passado, existem agora menos cerca de mil hectómetros cúbicos - um volume superior ao da nossa albufeira de Castelo de Bode. Os restantes rios internacionais (Minho, Douro e Tejo) estão em situação menos gravosa.
Fonte:
Especial DN (Pedro Almeida Vieira, 31 de Agosto de 2006)

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