quinta-feira, 7 de setembro de 2006

422. Ambiente: seca em Trás-os-Montes

Douro espanhol no limite
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As reservas de água da bacia hidrográfica do Douro espanhol atingem valores históricos de falta de água. As barragens estão agora com apenas 34,5 por cento da sua capacidade máxima, um valor superior em apenas 1,7 por cento da capacidade de armazenamento registada no ano passado, quando ocorreu a pior seca dos últimos cem anos.
Perante a falta de água, Espanha não poderá, no entanto, este ano, a exemplo de 2005, ‘fechar a torneira do Douro’ recorrendo ao argumento de “situação excepcional de seca”. Para ser aberto o regime de excepção e serem efectuados cortes de água no caudal mínimo do rio teria de ser observada, em 1 de Junho último, uma precipitação anual acumulada inferior a 243 milímetros.
Segundo fonte do Instituto da Água (INAG), o valor observado foi superior, ou seja, 310 milímetros, pelo que não foi pedido por Espanha o regime de excepção. Após 1 de Junho o pedido já não pode ser feito. A mesma fonte adiantou que, em todas as estações que medem as quantidades de água recebidas nas barragens de Miranda do Douro, Pocinho e Crestuma, foram já observados os totais mínimos que Espanha deveria enviar.
Em Portugal, a situação é um pouco mais animadora, mas a falta de água armazenada é igualmente notória. O Douro é, entre as principais bacias hidrográficas do país, a que apresenta maiores dificuldades de armazenamento de água.
No seu conjunto, as cinco barragens com registos no Instituto da Água (INAG) contam com 55,3 por cento da capacidade máxima de armazenamento. Um valor idêntico ao registado em Agosto de 2005, quando foram observados 53 por cento do volume total, segundo divulgou o INAG. Valores bem mais baixos do que a média observada entre 1990 e 2000, que indica 67,3 por cento da capacidade máxima.
Em Agosto de 2004, a bacia do Douro apresentava um volume máximo de 75,4 por cento e em 2003 de 70 por cento. As situações mais complicadas, segundo o INAG, são observadas nas barragens de Varosa, com uma reserva de apenas 21 por cento e de Vilar/Tabuaço, com 40 por cento.
AGRICULTURA NO LIMITE - Na agricultura transmontana, os limites da falta de água verificaram-se nas culturas de regadio. Alexandre Abreu Lima, vice-presidente da Confederação de Agricultores de Portugal, disse ao CM que “a água é escassa, mas não foi ainda operado um esquema de racionamento”. Setembro surge como um mês decisivo, no entender dos agricultores. “Se a chuva não chegar este mês, como as barragens estão no limite, a situação será problemática”, sublinhou Abreu Lima, que aponta as barragens de Santa Justa, Vilarelhos e Burga como exemplos de albufeiras com menos reservas. Segundo o INAG, a região apresenta características de seca, ao contrário do resto do País.
ESPANHA NÃO CORTOU ÁGUA - O director técnico da Confederação Hidrológica do Guadiana, em Badajoz, José Martinez, reconheceu ontem a existência de um erro dos serviços cujos dados indicavam transferências nulas de água na fronteira com Portugal, ou não davam indicação de valores. José Martinez atribui esses dados incorrectos a “falta de actualização de dados”, causada porventura “pelo período de férias em Agosto”. “Temos registo diário dos valores e nunca foi violado o acordo com Portugal”, garantiu.
Também o presidente do Instituto da Água, Orlando Borges, sublinha que o convénio internacional dos rios ibéricos não esteve em causa em nenhum dos cursos de água. “O valor mínimo registado, em termos de caudal médio diário, na estação fronteiriça do Monte da Vinha, foi de 3,8 metros cúbicos por segundo.” Um valor acima do mínimo estabelecido pelo convénio, que é de dois metros cúbicos por segundo. Douro, Tejo, Minho e Lima são os restantes rios abrangidos pela gestão partilhada de ambos os países.
POLUIÇÃO ATINGE MÁXIMOS - Portugal está a perder a batalha para cumprir as metas de redução da poluição assumidas pelo Protocolo de Quioto. Francisco Ferreira, dirigente da Quercus, diz que 2005 deverá ser o ano recorde de emissão de gases do efeito de estufa. O mesmo responsável estima que até 2012, o Estado, através do bolso dos contribuintes, irá pagar 354 milhões de euros por exceder os limites impostos pelo Protocolo de Quioto. Desta verba, seis milhões são referentes a este ano.
Em 2004, o país produziu 84,54 milhões de toneladas de dióxido de carbono, 13 por cento acima do limite imposto por Quioto para 2012. O Instituto Nacional de Estatística revelou anteontem que, de 1999 a 2003, a “indústria transformadora, por via da indústria da refinação, foi a principal emissora de dióxido de carbono, revelando menor eficiência ambiental”.
ALQUEVA NORMAL - A albufeira de Alqueva apresenta hoje um armazenamento de 61,6 %, valor ‘normal’ para o Instituto da Água. A produção de electricidade é o principal responsável pela redução do volume, que nesta época deve estar abaixo do máximo para acolher as chuvas de Inverno.
CHUVAS NO OUTONO - O Instituto Nacional de Meteorologia de Espanha estima que a próxima época das chuvas se enquadrará nos valores médios.
ESPANHA SEM ÁGUA - Espanha atravessa a maior penúria de água da última década, com o valor médio das suas albufeiras fixado nos 42%.
ENCONTRO SOBRE RIOS - As bacias hidrográficas ibéricas serão o tema central do 5.º Congresso Ibérico de Gestão e Planificação de Água, que decorre em Dezembro, em Faro.
SITUAÇÃO DAS ALBUFEIRAS EM AGOSTO:
Lima: 53,2% (actual) / 65,7% (média de 1990 a 2000)
Cávado: 63,4% (actual) / 59,3% (média de 1990 a 2000)
Ave: 45,5% (actual) / 43,3% (média de 1990 a 2000)
Oeste: 21,4% (actual) / 46,4% (média de 1990 a 2000)
Sado: 36,6% (actual) / 42,5% (média de 1990 a 2000)
Douro: 55,3% (actual) / 67,3% (média de 1990 a 2000)
Mondego: 65% (actual) / 71,6% (média de 1990 a 2000)
Tejo: 68,3% (actual) / 63% (média de 1990 a 2000)
Mira: 61,9% (actual) / 73,4% (média de 1990 a 2000)
Guadiana: 60,7% (actual) / 52,3% (média de 1990 a 2000)
Arade: 37,9% (actual) / 35,5% (média de 1990 a 2000)
Barlavento: 57,9% (actual) / 51,4% (média de 1990 a 2000)
Em Agosto as barragens estavam com 60 por cento da capacidade máxima. Com 23,5 litros por metro quadrado, Agosto deste ano foi o mais chuvoso que a média de 11,6 litros por metro quadrado registada de 1940 a 1998.
Fonte: SNIRH /
Jornal Correio da Manhã (João Saramago)

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