sexta-feira, 22 de setembro de 2006

470. Degelo é "preocupante" devido à subida do nível do mar

O ritmo acelerado do degelo na Gronelândia e no Árctico "é preocupante", segundo o especialista em alterações climáticas, Filipe Duarte Santos, que alerta para os efeitos na subida do nível do mar. As observações por satélite confirmam que nos últimos anos a superfície das massas geladas perpétuas está a diminuir rapidamente, segundo estudos científicos divulgados recentemente e que mostram a extensão do degelo no Árctico e na Gronelândia.
"Esta questão é muito preocupante porque se tratam de campos de gelo acima do nível do mar e cujo derretimento faz subir as águas, ao contrário do que acontece com os gelos oceânicos", disse à Lusa Filipe Duarte Santos, que lidera o projecto SIAM (Alterações Climáticas em Portugal: Cenários, Impactos e Medidas de Adaptação). As consequências podem ser desastrosas, sobretudo para os países com zonas costeiras e arenosas mais baixas, alertou. Filipe Duarte Santos citou estudos científicos que indicam que se a concentração de dióxido de carbono na atmosfera passar das actuais 380 partes por milhão, para 450 ou 500, o degelo da Gronelândia será irreversível, provocando uma subida do mar de sete metros num prazo de mil anos.
Imagens de satélite divulgadas terça-feira pela Agência Espacial Europeia (ESA) revelaram a existência de uma preocupante fractura na calota polar Árctica, com uma superfície superior à do Reino Unido. "Esta situação é diferente de tudo o que foi observado em anteriores situações de degelo", nos finais do Verão, salientou Mark Drinkwater, da Unidade de Oceanos e Gelos da ESA.As imagens, captadas entre 23 e 25 de Agosto revelam que a falha se estende do arquipélago norueguês de Spitzbergen até ao Pólo Norte, através do Árctico russo. Além disso, confirma que as concentrações de gelo registadas na superfície compreendida entre Spitzbergen, o Pólo Norte e as ilhas mais setentrionais da Rússia (Sévernaya Zemlya), são "muito menores" do que as observadas nos últimos anos.
"É fácil imaginar que um navio pudesse alcançar o Pólo Norte sem dificuldade através de Spitzbergen ou do Norte da Sibéria, por o que é normalmente uma camada de gelo", sublinhou Drinkwater. Entre 5 e 10 por cento dos gelos árcticos permanentes partiram-se nas últimas tempestades estivais porque tinham uma espessura menor e eram mais frágeis, segundo a ESA. A Agência Espacial Europeia lembrou que a extensão mínima de gelo no Árctico, que se observa no fim do Verão, alcançou em 2005 um "mínimo histórico" de 5,5 milhões de quilómetros quadrados, face aos oito milhões usuais no início dos anos 80.
Um outro estudo, divulgado quarta-feira pela revista Nature, e citado no site Planet Ark mostra que a camada de gelo na Gronelândia está a derreter muito mais rapidamente do que os cientistas previam. Uma análise das observações por satélite revelou que a taxa de degelo subiu 250 por cento nos períodos de Abril de 2002 a Abril de 2004 e Maio de 2004 a Abril de 2006, sobretudo no Sul da Gronelândia.
A camada de gelo está a perder anualmente 284 quilómetros cúbicos, o equivalente a uma subida do nível do mar de 0,5 milímetros. A análise demonstra que o ritmo de degelo é cada vez mais acelerado. "Estava a perder já bastante massa antes de 2004, mas verifica- se agora uma grande aceleração, o que significa que as coisas estão a mudar", disse Isabella Velicogna, da Universidade do Colorado e do Jet propulsion Laboratory da NASA. Os cientistas acreditam que a média das temperaturas globais vai aumentar entre um e seis graus neste século, a não ser que se tomem medidas urgentes para reduzir as emissões de dióxido de carbono.
Agência LUSA 2006-09-21

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