quarta-feira, 25 de outubro de 2006

560. Quarta-feira, 25 de Outubro (Recortes da imprensa - II)

MAU TEMPO PROVOCOU ESTRAGOS EM TODO O PAÍS
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O mau tempo provocou hoje a morte de uma pessoa, cerca de 700 inundações, 335 quedas de árvores, dezenas de deslizamentos de terras e desabamentos, além de vias cortadas um pouco por todo o país. Os distritos de Lisboa, Leiria, Santarém, Castelo Branco, Coimbra e Guarda são os mais afectados.
Um autocarro com cerca de 50 crianças foi arrastado esta manhã pelas águas de um rio no concelho de Soure, sem causar vítimas, indicou o Centro Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Coimbra. As crianças foram todas retiradas e encontram-se bem, segundo os Bombeiros Voluntários.
O vendaval que assolou de madrugada a zona de Coimbra causou dezenas de inundações, mas sem notícia de vítimas. De acordo com os bombeiros, vive-se uma situação de "verdadeiro caos". O trânsito no IC2, a Norte de Coimbra, permanece interrompido no sentido Sul-Norte, após ter sido cortado de madrugada.
Vários concelhos do distrito de Leiria registaram inundações, sendo a cidade de Pombal a mais fustigada. A tromba de água que caiu na zona de Pombal provocou a inundação do centro da cidade, tendo ficado submersa a zona do Jardim Municipal, afirmou fonte da PSP local. A Câmara de Pombal accionou o Plano Municipal de Emergência para fazer face à situação causada pelo mau tempo no concelho, onde uma mulher com cerca de 80 anos que sofria de problemas cardíacos morreu de madrugada ao ver a sua casa inundada, na cidade.
Segundo o presidente da autarquia, Narciso Mota, "os prejuízos são incalculáveis". O acesso rodoviário ao centro da cidade de Pombal vai estar fechado nas próximas horas para permitir as operações de limpeza das vias.
Dezenas de inundações verificaram-se de madrugada nos distritos de Leiria e Santarém, especialmente nos concelhos de Ourém, Leiria, Pombal e Porto de Mós, de acordo com o Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil. O plano distrital de cheias de Santarém foi activado esta manhã, após uma das barragens do Rio Tejo ter atingido a capacidade máxima.
O tempo no centro do país melhorou ao final da madrugada, com diminuição da precipitação, mantendo-se dezenas de inundações em vários distritos. A par da diminuição das chuvas fortes e persistentes que se abaterem sobre aquela zona, também a acção dos bombeiros, cujos meios foram totalmente mobilizados, permitiu uma melhoria da situação. Cinco pessoas tiveram de ser retiradas de madrugada no concelho de Porto de Mós, distrito de Leiria, devido a inundações nas suas residências.
Os concelhos de Coimbra, Condeixa, Souselas e Montemor, distrito de Coimbra, também registaram muitas inundações, especialmente de carácter urbano, embora em menor grau.
Tomar deverá sofrer uma inundação devido à forte precipitação e a zona ribeirinha de Águeda foi a primeira no país a ficar inundada, segundo o Instituto da Água. A escola básica do 1º Ciclo de Porto da Lage, Tomar, foi evacuada ao final da manhã, devido à subida do nível das águas da Ribeira da Bezelga, afluente do Rio Nabão.
O mau tempo provocou durante a madrugada inundações em Aveiro, Albergaria-a-Velha, Anadia e Mealhada.
A subida do caudal do Rio Mondego inundou hoje de manhã várias habitações da zona do Vale do Mondego, próximo da Guarda. Duas estradas estavam cortadas na Serra da Estrela às 09:00, devido ao desabamento de terras.
Os Sapadores Bombeiros de Lisboa registaram, entre as 20:00 de terça-feira e as 11:00 de hoje, 230 pedidos de auxílio, a maioria relacionados com algerozes entupidos, inundações e quedas de árvores, mas cerca das 12:30 a situação estava normalizada. Com maior intensidade até às 01:40, os pedidos de ajuda diminuíram nas duas horas seguintes e cerca das 04:00 eram já praticamente nulos. Os locais mais problemáticos foram a Calçada de Carriche, à entrada de Lisboa, e a zona do Estádio da Tapadinha, em Alcântara, bem como a Rua Vítor Cunha Rego e Rua Eduardo Covas, no Lumiar. Todas as viaturas dos Sapadores de Lisboa (25) saíram para a rua para acorrer a situações de inundações e quedas de árvores.
Fonte da corporação disse à Lusa que se registaram inundações em habitações e na via pública, mas sem danos materiais. O trânsito na Calçada de Carriche, sentido Odivelas-Lisboa, foi reaberto às 02:15, depois de ter estado encerrado desde as 23:45, devido às chuvas, informou a Divisão de Trânsito da PSP. O mau tempo que fustigou a área da Grande Lisboa durante a noite causou inundações em vários pontos do concelho de Odivelas, disse o comandante dos Bombeiros Voluntários locais. O mau tempo que se fez sentir durante a madrugada um pouco por todo o país provocou cortes de energia eléctrica em várias zonas de Lisboa, que entretanto já foram resolvidos.
A queda de mais de uma centena de árvores ocupou durante toda a noite os bombeiros dos distritos a Sul do Tejo, onde o vento soprou com intensidade, segundo os centros distritais operacionais de socorro. A chuva e vento forte que fustigaram de madrugada a região do Alentejo causaram a queda de dezenas de árvores e inundações em habitações e vias públicas, disse à Lusa fonte dos bombeiros.
A circulação ferroviária na Linha do Algarve, entre Tunes e Faro, foi restabelecida às 09:00, após a resolução da queda de uma catenária, enquanto a Linha do Norte, entre Souselas e Coimbra B, foi normalizada às 12:30, depois de ter sido cortada devido a acumulação de água.
Um aluimento de terras na Estrada Nacional 220, em Moncorvo, e inundações em garagens foram as principais consequências do mau tempo ao longo da noite nos distritos de Porto, Bragança, Viana do Castelo e Vila Real.
A quantidade de chuva registada desde o início do mês em Portugal Continental excedeu já, à excepção de Faro, a média mensal para Outubro, segundo o Instituto de Meteorologia.

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Bragança sem 112 em dia de inundações
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Uma avaria telefónica silenciou hoje o 112 em Bragança, deixando a população sem número de emergência numa manhã de inundações devido ao mau tempo, disse à Lusa fonte da Protecção Civil. De acordo com o comandante do Centro Distrital de Operações de Socorro (CDOS), Melo Gomes, a avaria atingiu toda a parte alta da cidade onde estão localizadas as forças de segurança e os bombeiros.
A linha do 112 funciona precisamente no comando da PSP, que não tem comunicações telefónicas à semelhança do que sucede com todos os serviços da GNR, incluindo a Brigada de Trânsito e a corporação de Bombeiros. O comandante dos bombeiros, José Fernandes disse à Lusa que a avaria ocorreu por volta das "cinco, seis da manhã".
"Logo hoje, que tem sido um pandemónio", afirmou o comandante, numa alusão às solicitações para várias ocorrências, sobretudo inundações provocadas pela chuva das última horas. O comandante disse que "as pessoas têm-se deslocado ao quartel a pedir a ajuda dos bombeiros ou ligam para os números de telemóveis, quando têm conhecimento deles". O comandante dos bombeiros disse à Lusa cerca das 12:45 que a avaria foi de imediato comunicada à PT, mas que até essa altura ainda prosseguia. "Até ao momento ainda ninguém informou sobre o que se está a passar ou adiantou previsões para a resolução", disse .
Apesar de o 112 ser o número mais conhecido das populações para casos de emergência, o comandante do CDOS acredita que "as pessoas conhecem o 117", um número criado para os incêndios florestais, mas que aquele responsável garantiu estar a ser "bastante solicitado para as ocorrências do mau tempo". Segundo disse, "a situação no Distrito de Bragança é considerada normal para a época", apesar das inundações que ocorreram nas últimas horas e que provocaram abatimentos de terras e alagaram algumas casas.
A situação mais crítica ocorreu no concelho de Vila Flor, onde além de uma casa e lojas comerciais alagas, o desabamento de um muro danificou duas viaturas e há registo de prejuízos em terrenos agrícolas.

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Mau tempo provoca inundações na zona centro do país
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O mau tempo que assola o país provocou até às 11 horas de hoje, 679 inundações, 19 deslizamentos de terras, 34 desabamentos e 335 quedas de árvores. Os distritos mais afectados são Lisboa, Leiria, Santarém, Castelo Branco, Coimbra e Guarda, segundo a mesma fonte.
Um mar de lama nas ruas e nas lojas, alguns serviços públicos fechados, gente a chorar e muitos empregados do comércio de esfregona na mão constituem o quadro visível ao fim da manhã na cidade de Pombal. A tromba de água que esta madrugada se abateu sobre Pombal deixou marcas que vão demorar algum tempo a ser disfarçadas. Passeios literalmente arrancados, jardins destruídos, estabelecimentos comerciais com muitos prejuízos e muitos carros danificados por terem estado submersos são alguns dos efeitos da forte precipitação registada entre a 01:00 e as 02:00 horas de hoje. No centro da cidade, trabalhadores da Câmara de Pombal, escuteiros e bombeiros, ajudados por muitos populares, tentam remover o lixo e o entulho acumulados, por forma a que ainda hoje seja possível recuperar a normal circulação rodoviária em Pombal, interdita desde meio da manhã.
Uma das situações mais problemáticas ocorreu num centro comercial da cidade, onde a água inundou quatro pisos inferiores e um supermercado, estando os bombeiros a retirar a água, uma intervenção que atraiu dezenas de curiosos, que invadiram as ruas para verem "um espectáculo como não há memória". Visivelmente triste e afirmando que nunca teve tanto medo na vida, Olinda Marques, empregada no centro comercial, disse à Lusa que "deve haver muitos carros na cave do edifício". "Normalmente, estão sempre lá muitos carros estacionados", acrescentou. Apesar dos prejuízos da maioria dos comerciantes, a tromba de água abriu uma "janela de oportunidade" para outros. É o caso de uma loja de artigos de caça e pesca, onde, depois de limpo, o passeio foi transformado em montra de galochas. Jorge, funcionário da loja, diz que "hoje já se venderam algumas". Entretanto, com a aproximação da hora do almoço são cada vez mais os populares que vão passando pelo centro da cidade para verem os efeitos da tempestade, demonstrando todos um sentimento de pesar. Frases como "isto é uma desgraça", "nunca vi nada assim" ou "isto foi Deus que se virou contra nós" são alguns dos desabafos saídos da boca dos pombalenses.
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ALERTA AMARELO TERMINA HOJE ÀS 21h00
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O alerta amarelo de mau tempo vai ser levantado hoje às 21:00, prevendo-se uma melhoria gradual das condições meteorológicas, disse à agência Lusa fonte do Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil (SNBPC).

"Segundo indicações do Instituto de Meteorologia, prevê-se uma melhoria do estado do tempo nas próximas horas e, a partir das 21:00 o estado de alerta amarelo termina", afirmou. O alerta, decretado na terça-feira, estava previsto durar até à manhã de hoje, período em que se registaram centenas de inundações e quedas de árvores. Os distritos mais afectados foram Lisboa, Santarém, Leiria, Coimbra, Castelo Branco, Guarda e Setúbal, informou a fonte. Até às 11:00 de hoje, o SNBPC tinha registado em Portugal 679 inundações, 335 quedas de árvores, 34 desabamentos e 19 deslizamentos de terras.

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MURO E ARCADAS DO MIRADOURO DO CASTELO DE OURIQUE RUÍRAM
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O muro e as arcadas do secular miradouro do Castelo de Ourique ruíram hoje devido à chuva intensa e vento forte que fustigaram aquele concelho do distrito de Beja, revelou hoje o município. "Trata-se de um duro golpe para o Castelo de Ourique porque foi destruída de toda a zona envolvente do miradouro, incluindo as arcadas", lamentou hoje o presidente da autarquia, Pedro do Carmo.
Em declarações à agência Lusa, o autarca adiantou ainda que a reparação dos estragos, que aconteceram de madrugada, vai implicar "custos elevadíssimos". A intempérie naquele concelho, acrescentou, causou também o corte temporário do Itinerário Complementar 1 (IC- 1), de ligação ao Algarve, e de duas estradas municipais, devido à queda de árvores e aluimento de terras. "As estradas foram limpas e a circulação dos automóveis foi restabelecida ainda durante a madrugada", referiu a autarquia.
A chuva e o vento fortes fustigaram também o concelho de Ferreira do Alentejo, igualmente no distrito de Beja, onde vários edifícios públicos foram danificados. O presidente da autarquia, Aníbal Costa, explicou à Lusa que o vento "arrancou" o tecto do edifício principal do Estaleiro Municipal e danificou a vedação exterior, os painéis de publicidade e as cabines dos jogadores do Estádio Municipal de Futebol. O mau tempo em Ferreira do Alentejo provocou ainda a queda de dezenas de árvores de grande porte em todo o concelho e no recinto da Piscina Municipal, e a destruição de vários sinais verticais de trânsito e painéis de publicidade.
Na região de Évora caíram entre as 00:00 e as 18:00 de hoje 29 árvores e registaram-se 14 pequenas inundações domésticas, revelou o Centro Distrital de Operações de Socorro (CDOS) à Lusa. "Verificaram-se ainda quatro acidentes de trânsito, só com feridos ligeiros, e os bombeiros realizaram cinco limpezas de via, que estavam com lamas e terra arrastadas pela chuva e pelo vento", acrescentou a fonte.
Já o CDOS de Portalegre, revelou que, de madrugada, cerca de dez árvores caíram no distrito e que, durante o dia, os bombeiros socorreram três pequenas inundações em habitações.

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DUAS DEZENAS DE FAMÍLIAS RETIRADAS
DE CASA NA CIDADE DE TOMAR
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Duas dezenas de famílias de um bairro degradado de Tomar foram hoje à tarde retiradas de casa devido à subida das águas do rio Nabão, revelou fonte da Protecção Civil. Segundo Carlos Carrão, vereador responsável pela Protecção Civil, o bairro do Flecheiro foi parcialmente evacuada e os serviços da autarquia já retiraram os bens das habitações precárias para as oficinas da Câmara, onde ficarão depositadas até que os níveis da água baixem.
"A situação está controlada", afirmou o vereador, salientando que as famílias serão recolhidas num ginásio escolar ou em instalações da autarquia, caso assim seja necessário.
O pico do nível do rio Nabão foi atingido pouco depois das 16:00, obrigando ao corte de uma ponte e ao fecho de uma rua, onde a água atingiu os 60 centímetros. A partir das 17:00, o nível começou a baixar e as autoridades esperam que a situação fique regularizada nas próximas horas.
Hoje de manhã, a protecção civil distribuiu folhetos junto dos comerciantes, alertando para as cheias na cidade e as lojas foram encerradas e protegidas com tapumes. Nestas cheias, foi visível a grande quantidade dos detritos arrastados pelas águas, até porque o rio Nabão destruiu muita vegetação das margens nos vales a norte da cidade de Tomar. "É um problema frequente", reconheceu Carlos Carrão, apontando a falta de meios financeiros da administração central como uma das razões para a falta de limpeza das matas nas zonas rurais.
No resto do distrito de Santarém, a situação está normal e o afluxo de água do rio Nabão não deverá causar grandes constrangimentos no caudal do rio Tejo, que apresenta "ainda muita capacidade para receber água", disse fonte do Governo Civil de Santarém.

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TOMAR PREPARA-SE PARA AS CHEIAS
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Dezenas de militares e bombeiros distribuíam ao início da tarde sacos com areia e tapumes para fechar as lojas da zona mais baixa de Tomar, prevendo a subida do rio Nabão. "Vamos ter cheias durante a tarde, mais hora menos hora", afirmou António Paiva, presidente da Câmara de Tomar, enquanto assistia, impotente, à força das águas dos dois braços de rio que se dividem e unem junto à ilha do Mouchão. A zona da Levada já foi fechada ao trânsito porque a estrada estava inundada e alguns carros tiveram de ser rebocados pelas autoridades.
Mais a norte, o caudal do Nabão na zona do Agroal, entre Tomar e Ourém, "já atingiu o limite" e a esse volume vai somar-se a água de várias ribeiras que compõem a bacia hidrográfica do rio Nabão, explicou o autarca. "Isto de quatro em quatro anos há uma cheia. Não há nada a fazer", desabafou João Inácio, proprietário de uma pastelaria na zona da Levada, enquanto pedia aos clientes para deixar o estabelecimento. "Renovei a casa há um mês e isto vão ser umas bodas demolhadas", ironizou o comerciante, que vai agora ter de desmontar as máquinas e colocá-las num sítio mais alto para prevenir qualquer problema. "A instalação eléctrica e os esgotos já estão preparados", mas se os "níveis da água subirem eu tenho que vir cá tirar as máquinas, nem que seja com um barco", afirmou João Inácio.
No terreno, os bombeiros, os militares do Regimento de Infantaria 15 e a polícia ajudam os comerciantes a proteger os seus bens, colocando tapumes para impedir a entrada de água. No entanto, alguns dos donos de lojas olham com cepticismo para estas soluções, considerando que as protecções "não impedem que a água entre, mas que ela saia". "É que a água vai entrar nas lojas nem que seja pelos esgotos", salientou João Silva, um dos empresários que reside na zona.
No resto do distrito, o caudal dos rios não é tão preocupante e o Tejo tem revelado capacidade para receber o volume de água adicional, quer da barragem do Fratel, quer de Castelo de Bode. "A única situação mais preocupante é a bacia do Nabão", afirmou Luís Ferreira, do Governo Civil de Santarém.

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Fonte: Agência Lusa 25 de Outubro de 2006

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