"O sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão", disse um dia António Conselheiro, que nem entendia de meteorologia. Na semana passada, a chuva alagou as ruas de Salvador. Enquanto isso, a Floresta Amazónica enfrenta um dos seus piores períodos de seca.
“A causa das chuvas dos últimos dias em Salvador é o aquecimento global", explica Ednaldo Araújo, chefe do Instituto Nacional de Meteorologia. Para ele, “no futuro vamos ter uma ocorrência maior de fenómenos climáticos extremos, como temporais, secas e furacões”. Aparentemente, já começamos a presenciar a intensificação desses eventos. É que a temperatura do planeta subiu 0,7º C e o aumento pode chegar a 5,8º C em 100 anos.
“O que pode acontecer é que regiões como a Floresta da Amazónia fiquem secas e quentes, enquanto o semi-árido do Nordeste vire um deserto. Um clima quente e seco nos afecta através de doenças respiratórias e um clima quente e húmido nos afecta na forma de mais casos de doenças como o cólera e a malária", explica José Marengo, do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos [Cptec/Inpe].
POLUIÇÃO - “É consenso que esse aumento tem a ver com a emissão de gases de efeito estufa, por meio de combustíveis fósseis e queimadas”, explica Carlos Nobre, coordenador do Cptec/Inpe. Durante milhares de milhões de anos, a presença na atmosfera de vapor d’água e do dióxido de carbono [CO2], entre outros gases, deu origem ao efeito estufa. Esses gases absorvem parte da energia do Sol, reflectida pela superfície do planeta. Com o aumento das emissões dos gases de efeito estufa, observado principalmente nos últimos 150 anos, mais calor passou a ficar retido.
“Reverter completamente esse quadro não é mais possível, mas é fundamental reduzir as emissões de gases, através da diminuição do uso de combustíveis fósseis e pela adopção de formas limpas de energia", explica Carlos. Para ele, “cada pessoa, cidade ou país deixa uma pegada ecológica. Precisamos ter uma pegada sustentável e plantar árvores que retirem da atmosfera a mesma quantidade de carbono que emitimos para viver”.
DINHEIRO - Assinado em 1990, o Protocolo de Kyoto obrigava 35 países industrializados a cortar a emissão de gases-estufa em 5%. Mas o presidente dos EUA, George Bush, manteve seu país – o maior emissor de gases poluentes – fora do tratado, com o argumento de que a diminuição seria ruim para a economia americana. Mas, segundo um relatório divulgado pelo governo britânico, o aquecimento global devastará a economia numa escala comparável à das duas guerras mundiais e causará um prejuízo de 20% do PIB mundial. Ao contrário, medidas urgentes para resolver o problema teriam, para o PIB mundial, um custo de apenas 1%.
Agora que Sterne falou a língua de Bush, talvez ele entenda. Em alguns casos é melhor, mais barato e mais limpo queimar dinheiro em usinas termo-elétricas do que continuar a emitir gases de efeito estufa na escala actual.
Em Nairobi, capital do Quénia, mais de 5 mil pessoas participaram de dois encontros sobre aquecimento global: o 2º Encontro dos Estados-parte do Protocolo de Kyoto e a 12ª Sessão da Conferência dos Estados-parte da Convenção sobre Mudanças Climáticas. As reuniões chegaram ao fim e concluíram que a participação do Brasil no combate ao aquecimento global é ambígua.
O País ficou em oitavo lugar em um ranking que analisou os países que mais combateram mudanças climáticas no último ano. O trabalho foi divulgado pela ONG alemã Germanwatch.
A partir de dados da Agência Internacional de Energia, o estudo analisou a situação de 56 países que respondem por mais de 1% das emissões globais de carbono, cada um. O Brasil não ficou melhor colocado por não ter políticas mais eficientes para o combate do aquecimento e por não ter uma postura mais "progressista" no cenário internacional, explica a ONG.
ALGOZ - Por outro lado, o Brasil está em quarto lugar no ranking de países que mais emitem gases de efeito estufa. A participação industrial na emissão é pequena, mas a maioria [75%] dos poluentes liberados pelo País é causada pelas queimadas e desmatamento em florestas. Segundo dados do Instituto de Pesquisas da Amazónia, entre os anos de 2000 e 2005, o Brasil perdeu 130 mil km2 de floresta.
A boa notícia é que, segundo os cálculos do governo federal, o desmatamento da Amazónia caiu 30% entre Agosto de 2005 e Julho de 2006. “É aqui que o Brasil deve agir para contribuir com o esforço mundial de redução das emissões. Os desmatamentos diminuíram nos dois últimos anos, mas temos que nos esforçar mais. Só esse esforço já derrubaria as emissões brasileiras de gases de efeito estufa”, diz Carlos Nobre.
Em Nairobi, o Brasil propôs a adopção de um mecanismo para compensar financeiramente os países que conseguirem reduzir as emissões de gases estufa provenientes do desmatamento. Este fundo seria composto por doações feitas por países desenvolvidos a países com florestas que conseguissem reduzir os índices de desmatamento em relação a taxas de referência. O Greenpeace critica a ausência de metas específicas de redução do desmatamento na proposta. “Temos só duas décadas para salvar a Amazónia e o clima do planeta”, alerta Carlos Rittl, coordenador de clima da ONG.
Para Marcelo Furtado, director de campanhas da ONG no Brasil, “o governo brasileiro e os governos internacionais devem estabelecer um cronograma de acções políticas e compromissos para atingir o nível zero de desmatamento, ao invés de limitar-se apenas a sistemas voluntários de compensação financeira pela redução das emissões”.
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Fonte: Vestibular (Danilo Fraga)
“A causa das chuvas dos últimos dias em Salvador é o aquecimento global", explica Ednaldo Araújo, chefe do Instituto Nacional de Meteorologia. Para ele, “no futuro vamos ter uma ocorrência maior de fenómenos climáticos extremos, como temporais, secas e furacões”. Aparentemente, já começamos a presenciar a intensificação desses eventos. É que a temperatura do planeta subiu 0,7º C e o aumento pode chegar a 5,8º C em 100 anos.
“O que pode acontecer é que regiões como a Floresta da Amazónia fiquem secas e quentes, enquanto o semi-árido do Nordeste vire um deserto. Um clima quente e seco nos afecta através de doenças respiratórias e um clima quente e húmido nos afecta na forma de mais casos de doenças como o cólera e a malária", explica José Marengo, do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos [Cptec/Inpe].
POLUIÇÃO - “É consenso que esse aumento tem a ver com a emissão de gases de efeito estufa, por meio de combustíveis fósseis e queimadas”, explica Carlos Nobre, coordenador do Cptec/Inpe. Durante milhares de milhões de anos, a presença na atmosfera de vapor d’água e do dióxido de carbono [CO2], entre outros gases, deu origem ao efeito estufa. Esses gases absorvem parte da energia do Sol, reflectida pela superfície do planeta. Com o aumento das emissões dos gases de efeito estufa, observado principalmente nos últimos 150 anos, mais calor passou a ficar retido.
“Reverter completamente esse quadro não é mais possível, mas é fundamental reduzir as emissões de gases, através da diminuição do uso de combustíveis fósseis e pela adopção de formas limpas de energia", explica Carlos. Para ele, “cada pessoa, cidade ou país deixa uma pegada ecológica. Precisamos ter uma pegada sustentável e plantar árvores que retirem da atmosfera a mesma quantidade de carbono que emitimos para viver”.
DINHEIRO - Assinado em 1990, o Protocolo de Kyoto obrigava 35 países industrializados a cortar a emissão de gases-estufa em 5%. Mas o presidente dos EUA, George Bush, manteve seu país – o maior emissor de gases poluentes – fora do tratado, com o argumento de que a diminuição seria ruim para a economia americana. Mas, segundo um relatório divulgado pelo governo britânico, o aquecimento global devastará a economia numa escala comparável à das duas guerras mundiais e causará um prejuízo de 20% do PIB mundial. Ao contrário, medidas urgentes para resolver o problema teriam, para o PIB mundial, um custo de apenas 1%.
Agora que Sterne falou a língua de Bush, talvez ele entenda. Em alguns casos é melhor, mais barato e mais limpo queimar dinheiro em usinas termo-elétricas do que continuar a emitir gases de efeito estufa na escala actual.
Em Nairobi, capital do Quénia, mais de 5 mil pessoas participaram de dois encontros sobre aquecimento global: o 2º Encontro dos Estados-parte do Protocolo de Kyoto e a 12ª Sessão da Conferência dos Estados-parte da Convenção sobre Mudanças Climáticas. As reuniões chegaram ao fim e concluíram que a participação do Brasil no combate ao aquecimento global é ambígua.
O País ficou em oitavo lugar em um ranking que analisou os países que mais combateram mudanças climáticas no último ano. O trabalho foi divulgado pela ONG alemã Germanwatch.
A partir de dados da Agência Internacional de Energia, o estudo analisou a situação de 56 países que respondem por mais de 1% das emissões globais de carbono, cada um. O Brasil não ficou melhor colocado por não ter políticas mais eficientes para o combate do aquecimento e por não ter uma postura mais "progressista" no cenário internacional, explica a ONG.
ALGOZ - Por outro lado, o Brasil está em quarto lugar no ranking de países que mais emitem gases de efeito estufa. A participação industrial na emissão é pequena, mas a maioria [75%] dos poluentes liberados pelo País é causada pelas queimadas e desmatamento em florestas. Segundo dados do Instituto de Pesquisas da Amazónia, entre os anos de 2000 e 2005, o Brasil perdeu 130 mil km2 de floresta.
A boa notícia é que, segundo os cálculos do governo federal, o desmatamento da Amazónia caiu 30% entre Agosto de 2005 e Julho de 2006. “É aqui que o Brasil deve agir para contribuir com o esforço mundial de redução das emissões. Os desmatamentos diminuíram nos dois últimos anos, mas temos que nos esforçar mais. Só esse esforço já derrubaria as emissões brasileiras de gases de efeito estufa”, diz Carlos Nobre.
Em Nairobi, o Brasil propôs a adopção de um mecanismo para compensar financeiramente os países que conseguirem reduzir as emissões de gases estufa provenientes do desmatamento. Este fundo seria composto por doações feitas por países desenvolvidos a países com florestas que conseguissem reduzir os índices de desmatamento em relação a taxas de referência. O Greenpeace critica a ausência de metas específicas de redução do desmatamento na proposta. “Temos só duas décadas para salvar a Amazónia e o clima do planeta”, alerta Carlos Rittl, coordenador de clima da ONG.
Para Marcelo Furtado, director de campanhas da ONG no Brasil, “o governo brasileiro e os governos internacionais devem estabelecer um cronograma de acções políticas e compromissos para atingir o nível zero de desmatamento, ao invés de limitar-se apenas a sistemas voluntários de compensação financeira pela redução das emissões”.
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Fonte: Vestibular (Danilo Fraga)
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