A decisão do governo italiano de centro-esquerda de continuar com o polémico projecto Moisés para salvar Veneza das marés-altas foi duramente criticada nesta quinta-feira pelo presidente da Câmara da cidade, que considera a construção dos diques "muito cara e inútil".
O comité interministerial para salvar Veneza, presidido pelo chefe de governo, Romano Prodi, se pronunciou na véspera a favor do projecto, iniciado durante o governo de Sílvio Berlusconi e garante a disponibilidade de recursos para seu prosseguimento no total de quatro milhões de euros (5,17 milhões de dólares).
A prefeitura de Veneza decidiu, em Junho passado, enterrar o projecto Moisés e ordenou a suspensão dos trabalhos, ao mesmo tempo em que exigiu do governo novos estudos e soluções "menos custosas".
Em entrevista ao jornal La Repubblica, o presidente da Câmara e filósofo Massimo Cacciari, lamentou que esta quantia, "que poderia ir para os cofres de todos os ajuntamentos da península", acabe por financiar um projecto "tão criticado e problemático".
Segundo um relatório elaborado por especialistas apresentado pela Câmara, o projecto baseia-se em dados e previsões de marés que não serão válidos no futuro.
"No fim deste século, o nível médio das águas será de mais de 50 centímetros de altura e o sistema será ineficaz", garantiu. O projecto prevê a instalação de 78 diques, enormes cinturões de cimento, que se elevarão como uma muralha na entrada da lagoa.
Os diques, com 1.600 metros de comprimento, deverão ser instalados em quatro pontos-chave ou em escoadouros, por onde a água do mar entra na lagoa veneziana. Estes diques devem ser instalados no fundo do mar e através de um mecanismo de água e ar, se elevariam caso a maré aumente acima dos 110 centímetros sobre o nível do mar, fechando assim a lagoa.
A obra, cuja construção começou em 2003 com oito anos de duração, é fortemente criticada pelos ecologistas, que apesar das mudanças impostas através dos anos, consideram que o caro sistema de diques afectará o equilíbrio ecológico de Veneza.
A cidade de Marco Pólo, que afundou quase 30 centímetros no século XX, está sendo submergida pelo fenómeno provocado pelas marés, que cobrem de água ruas e praças, obrigando boa parte dos venezianos a morar nos andares altos de suas residências.
O fenómeno, que no ano de 2002 atingiu níveis recorde, tem se multiplicado e enquanto no início do século XX as elevações das águas só eram registradas sete dias por ano, agora ocorrem 200 vezes.
* * * * * * * * * * * * * * *
Fonte: Último Segundo
* * * * * * * * * * * * * * *
Sem comentários:
Enviar um comentário