Provavelmente para comemorar o dia mundial do ambiente o Economist de 2 a 8 de Junho traz um ensaio grande sobre o tema do aquecimento global. E como os correios fatídicos que nós temos não permitem aceder ainda ao novo número da revista passado uma semana tenho ainda tempo para ler essas dezenas de páginas que nos dão uma informação actualizada e esclarecedora sobre as questões em torno do aquecimento global; não tanto das consequências catastróficas que são anunciadas mas sobretudo acerca das diferentes políticas que nos são sugeridas.
Quem fala das consequências catastróficas está normalmente interessado em vender qualquer solução com que ganhe algum dinheiro ou, miseravelmente, a anunciar catástrofes. Quem prefere abordar as políticas trata de saber quais são as mais eficientes na aplicação dos recursos escassos e, desejadamente, a apresentar soluções.
Mas vamos ao dito ensaio informativo. Na página 2 esclarece-se que a produção de electricidade e calor contribui com 25% para o aquecimento global, a desflorestação com 18%, a indústria com 14%, a agricultura com 14%, o transporte com 14%, o lixo com 3% e o resto com 12%.
A página 12 do dito ensaio é muito esclarecedor. Existem muitas formas de reduzir as emissões de CO2 mas há umas bastante mais eficientes do que outras. Algumas delas até representam um ganho económico mesmo aos preços actuais. As mais eficientes são o isolamento, a construção de veículos eficientes, a implementação de sistemas de iluminação mais baratos, o aquecimento de água e o uso de bio-combustível a partir de cana de açúcar.
A energia nuclear é neutra em termos de eficiência aos preços actuais o que indica que muito há a fazer antes de retomar aquela opção arriscada. No entanto existem uma série de tecnologias ineficientes que nem por isso não nos deixam de ser vendidas e propagandeadas como magníficas.
O vento, a florestação, a energia solar, a passagem do carvão para o gás, ou o armazenamento de CO2 no subsolo têm um custo marginal muito elevado face às alternativas atrás indicadas. Na página 20 é-nos revelado que nem tudo o que parece é. Basta olhar para a proporção das várias fontes de energia primária para percebermos que os bonitos anúncios com eólicas, paineis solares e energia geotérmica pouco tem a ver com a realidade: 34% da energia vem do petróleo, 25% do carvão, 21% do gás, 7% do nuclear e 13% são renováveis.
A maior parte das energias renováveis cabe à biomassa ou lenha com 10% e à energia hídrica 2%. A parte geotérmica é só 0.4%, a energia eólica 0,06%, a solar 0,04% e as marés 0,004%. Não é grande coisa. Sobretudo tendo em atenção o que para aí se anuncia e proclama em todo o mundo.
Na página 29 vem alguma propaganda velada aos carros japoneses e franceses. Na verdade são marcas como a Nissan, a Toyota e a Renault aquelas que têm melhor desempenho na redução no custo maior aposta nas tecnologias com menos emissões de CO2. Também nos é dito, na mesma página, que devido às restrições americanas e europeias à importação de bio-combustível feito à base de cana do açúcar proveniente do Brasil, se tenta produzir o dito bio-combustível com base do milho, sem grandes vantagens para o aquecimento global e com desvantagens nítidas para ao lavradores açorianos que vêm o preço do milho aumentar de dia para dia.
Mas o aspecto mais espantoso do referido ensaio é-nos trazido pelo caso de políticas desconsertantes. O mundo baniu um dos factores mais poluidores da atmosfera, os HFC-23 que é um subproduto do HFC-22 cujo impacto no efeito estufa é 11700 vezes superior ao do CO2. O custo de eliminá-lo é baixo. No entanto, como a China não assinou o acordo, a indústria moveu-se para aquele país que beneficia com o monopólio que criou. Ao fim e ao cabo todo o mundo está a financiar a China para poluir todo o mundo.
Em suma, se queremos combater o aquecimento global é bom que o façamos sem cegueira.
Tomás Dentinho
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Fonte: A União
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