A produção de vinho na região do Dão vai ter, este ano, uma quebra na ordem dos 40 por cento devido aos ataques de míldio e oídio que surgiram após as chuvas fora de época de Maio e Junho. A previsão é da Comissão Vitivinícola da Região do Dão.
Alberto Coimbra, dirigente e técnico da Comissão Vitivinícola a Região do Dão, explica que a situação só não é pior porque, pelo menos os grandes produtores, “estiveram atentos e atacaram o mal com repetidas curas fitossanitárias”. Na região do Dão, mas também na Bairrada, “houve produtores que chegaram a fazer dez curas - o normal é duas a três - para minimizar os prejuízos” mas, disse à Lusa Alberto Coimbra, “mesmo assim, não foi possível evitar, salvo raras excepções, perdas volumosas”.
“São poucos os produtores, mesmo os maiores - onde os vinhedos são acompanhados diariamente por técnicos -, que ficaram imunes às doenças que atacaram as vinhas este ano, que foi, do ponto de vista climatérico, verdadeiramente excepcional”, disse ainda Alberto Coimbra. Este responsável, que já leva décadas ligado ao vinho, admite mesmo que não se lembra de uma situação assim. No entanto, o cenário poderia ser “mais negro” se a qualidade “da fruta que foi possível salvar” não fosse “boa”, de molde a permitir prever “uma boa qualidade para o vinho” deste ano.
No entanto, este volume de perdas, 40 por cento, é só a média da região, porque em algumas micro-áreas do Dão, como Silgueiros, alguns produtores de pequena e média dimensão, tiveram perdas que chegam aos 70 por cento. É o caso de João Teixeira, que nos cerca de cinco hectares de vinha que tem “a razia foi, no mínimo, de 70 por cento, quando comparada com os últimos anos”. Este pequeno produtor disse à Lusa que, a par das perdas em quantidade de vinho, há ainda que “juntar” aos prejuízos o aumento dos gastos com as “curas” fitossanitárias, apesar de estas terem sido “quase” inócuas face à intensidade dos ataques do míldio, numa primeira fase, e depois do oídio.
“No meu caso, mas também nos produtores vizinhos, a produção deste ano está longe de poder compensar minimamente o trabalho e o investimento feitos”, lamentou João Teixeira. O mesmo afirma João Almeida, também ele pequeno produtor do Dão, em Penalva do Castelo, para quem o míldio “foi arrasador”, admitindo, no entanto, que não reforçou os tratamentos já a pensar que “os gastos poderiam não compensar os resultados”.
Já em Junho, Valdemar Freitas, presidente da CVRD alertava para os ataques de míldio, oídio e da podridão cinzenta à espreita por detrás da chuvas fora de época, tendo, na altura, enfatizado os alertas feitos pela comissão no sentido de os interessados estarem “duplamente atentos”. Já Casimiro Gomes, presidente do Conselho de Administração da Dão Sul, uma da maiores empresas do país no sector, lembrou à Lusa que “hoje em dia as pessoas já se tinham esquecido que há umas décadas atrás era normal o surgimento de surtos de doenças como o míldio e o oídio”, pelo menos no Dão e na Bairrada. Gomes alertava em Junho para o risco de as pessoas já se terem esquecido que estas situações, hoje anormais, eram o pão-nosso de cada dia há umas décadas atrás.
Mas os problemas podem ainda não ter acabado. Se os ataques do míldio e oídio estão ultrapassados devido à fase adiantada da maturação da fruta (uva), as chuvas que têm caído nos últimos dias e as que estão previstas para os próximos podem voltar a fazer estragos. E, assim, poderão estar criadas as condições para o surgimento da podridão cinzenta, também uma doença da vinha que resulta da humidade em excesso ou fora de época, que pode atacar os cachos independentemente da sua fase de maturação.
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Fonte: O Primeiro de Janeiro
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