quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

1474. Barragem de Foz Tua: Autarca de Mirandela revela que Linha do Tua vai ficar submersa

O presidente da Câmara de Mirandela afirmou hoje ter a confirmação oficial de que a barragem de Foz Tua vai acabar com o último troço de caminho-de-ferro na região, submergindo a quase totalidade da linha do Tua. José Silvano garantiu à Lusa ter obtido do Instituto Nacional da Água (INAG) a confirmação de que foi aprovada uma cota de 200 metros para a albufeira projectada no plano nacional de barragens para o Nordeste Transmontano.
"É inacreditável" desabafou o autarca social-democrata, afirmando que não compreende "como é que se toma uma decisão destas ao mesmo tempo que a REFER continua a fazer obras e a investir dinheiro na linha". Os investimentos a que o autarca se refere dizem respeito à reparação e segurança do troço acidentado há quase um ano, a 12 de Fevereiro de 2007.
Uma carruagem do metro de Mirandela, ao serviço da CP, descarrilou por uma ravina de 60 metros devido ao desabamento de pedras, segundo concluíram os inquéritos oficiais. Três funcionários da CP e do metro morreram e dois passageiros ficaram feridos naquele que foi o mais grave acidente nos 120 anos da linha do Tua, desactivada há quase duas décadas, entre Bragança e Mirandela.
O troço acidentado já foi reparado, há mais de dois meses, mas mantém-se encerrado entre a Brunheda e o Tua, apesar da REFER já ter anunciado diversas vezes a reabertura "para breve". Segundo a empresa responsável pela infra-estrutura, estarão a ser implementadas medidas de segurança recomendadas pelo LNEC – Laboratório Nacional de Engenharia Civil. Com o acidente reavivaram-se os receios do fim do caminho-de-ferro no Nordeste Transmontano, agora confirmados.
De acordo com os estudos prévios, mesmo com a cota mínima, a linha só seria circulável a norte do local onde descarrilou a carruagem, nas proximidades da estação de Santa Luzia. A cota máxima prevista nas propostas oficiais era de 210 metros, o que implicava a submersão de mais de metade, cerca de 35 quilómetros, do que resta da linha do Tua entre Mirandela e Foz Tua, onde é feita a ligação à linha do Douro e ao litoral.
Nas diversas sugestões disponíveis na Internet, na página do INAG, referia-se que uma redução da cota para 170 metros permitiria preservar mais 15 quilómetros até à Brunheda. Segundo aquele documento, se a cota ficasse pelos 160 metros apenas os últimos quilómetros ficariam debaixo de água. Por outro lado, conclui o mesmo documento, "a adopção destes valores reduziria a potência a instalar e a energia produzida pelo empreendimento".
A decisão hoje divulgada pelo autarca de Mirandela contraria as recomendações dos estudos prévios e vai inundar a linha até próximo do Cachão. De acordo com José Silvano restarão apenas os carris relativos ao percurso já previsto para o metropolitano de superfície de Mirandela, para servir os trabalhadores do complexo agro-industrial do Cachão. Todas as alternativas desagradam ao presidente da Câmara de Mirandela que reitera que só aceitaria a barragem se a linha fosse salvaguardada.
Para José Silvano, o comboio só tem utilidade se ligar à linha do Douro e prosseguir para o litoral. Por esta razão, a Câmara de Mirandela assinou um dos 28 pareceres negativos e críticos da consulta pública ao projecto. Desta mesma opinião partilham os ambientalistas e o partido ecologista "Os Verdes", que têm protagonizado a oposição nacional ao empreendimento, alegando que "irá destruir uma das mais belas vias estreitas do mundo".
Segundo os ecologistas, acresce ainda o facto da barragem afectar também o Douro Património da Humanidade pela proximidade e consequências para a paisagem classificada pela Unesco.
O autarca de Mirandela disse à Lusa que ainda tem "esperança de que os ambientalistas consigam fazer o Governo recuar". Caso contrário, frisa, espera que "Mirandela seja compensada com o desenvolvimento económico trazido pelos turistas, criando um canal navegável entre o Douro e o Tua".
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