Nas minhas caminhadas matinais, quando faço o percurso pela Beira-Mar, observo, sempre, o desfile de várias garças, mormente quando a maré se encontra em baixa. Entre elas, noto sempre duas, em situação de contraste. Uma limpa e elegante, está sempre a olhar para o mar, empolgada com o deslumbrante horizonte que a natureza nos propicia, como se exclamasse: Que bela natureza!. A outra enlameada, em uma posição que denota tristeza e desânimo, contempla a nossa cidade, como se estivesse a dizer: deixem de poluir, deixem de jogar o lixo no mar, deixem de destinar ao mar os seus dejectos, via seus imundos esgotos!
A Assembleia Geral da ONU deliberou reconhecer o ano de 2008 como o Ano Internacional do Planeta Terra, com o propósito de chamar a atenção para a imperiosa necessidade de preservarmos os recursos que a natureza nos legou, buscando sempre o desenvolvimento sustentável incompatível com o “Aquecimento Global” caracterizado pelo aumento da temperatura do globo terrestre, com crescimento estimado entre 1,5ºC a 5.9ºC, até 2.100, face ao efeito-estufa decorrente da emissão de poluentes, cujos gases - derivados da queima de combustíveis fósseis (gasolina, diesel etc.) na atmosfera, assim como pelo desmatamento e queimadas - criam na atmosfera uma capa protectora que impede o escape para o exterior do calor absorvido da irradiação solar.
Por consequência do aumento da temperatura global temos: os ciclones, tufões, crescimento dos desertos pela seca, fortes furações, derretimento das calotes polares e consequente avanço dos oceanos sobre cidades do litoral, desequilibro dos ecossistemas pela morte de vários animais e vegetais, epidemias, falta de chuva etc.
Destaco do Relatório do Desenvolvimento Humano, RDH, 2007/2008 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, “Combatendo a Mudança Climática”: “Solidariedade Humana num Mundo Desenvolvido” o que se segue: os países pobres são os que menos causam o aquecimento global, todavia serão os que sofrerão as maiores consequências por tal fenómeno climático; 13% da população do planeta vivem nos países mais desenvolvidos economicamente, que respondem por mais da metade da emissão dos gases causadores do efeito estufa; 23 milhões de habitantes do Texas são responsáveis por mais emissão de gás carbónico em quantidade superior aos 690 milhões de habitantes da África Subsaariana; em média, um residente nos EUA responde pela emissão de 20,6 toneladas de gás carbónico por ano, um chinês por 3,8 toneladas e um etíope por 0,1 tonelada; os EUA e a União Europeia são responsáveis por 35% do total de gás carbónico liberado anualmente em todo o planeta; se todos os habitantes do planeta terra emitissem, em média, a mesma quantidade de gás carbónico que emite um habitante dos EUA, seriam necessários nove planetas terra para absorção, em condições de segurança, do total de gás carbónico emitido.
Porém, diante de tais estatísticas, lamentavelmente os EUA, via Bush, se negou a ratificar o Tratado de Kyoto, que visa controlar as emissões de gases causadores do efeito-estufa, pois, no seu entendimento haveria prejuízos para a economia americana. Em 15/12/2007, terminou mais um evento promovido pela ONU, para tratar da Mudança Climática, que ficou conhecida como “Conferência de Balí”, na Indonésia, tendo durado 13 dias, e da qual participaram representantes de 190 países.
Ficou estabelecido um “Mapa de Caminho”, para as negociações nos dois anos seguintes. Todavia, o sentimento que temos é que não se avançou muito na discussão de tão importante tema, além de não ter tido o destaque merecido na comunicação social. O Brasil tem muito a contribuir e ganhar com as medidas que venham ao encontro do desenvolvimento sustentável, tais como: pesquisa e utilização de energias (eólica, solar, nuclear etc.) e combustíveis alternativos, como o álcool; redução das queimadas; preservação e plantação de árvores e exploração do mercado de carbono.
Por outro lado, os povos do mundo deverão tomar consciência das consequências do aquecimento global, pois poderemos estar sendo empurrados para a tragédia humana do século XXI, como afirmou Kevin Watkins, principal autor do RDH 2007/2008 do PNUD, ou para o “Apocalipse (Consumista) Now”, conforme texto de Manoel Neto e Flávio Shirahige do “Lê Monde Diplomatique”. Nossos filhos, netos e bisnetos poderão enfrentar o fantasma da catástrofe ecológica. Os sinais já foram anunciados. Ainda há tempo e recursos para evitarmos mais tragédias decorrentes das agressões à natureza.
Manoel Rubim da Silva
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Fonte: Jornal Pequeno
2 comentários:
Adorei a sua crítica sobre o Aquecimento Global. Acabei encontrando no meio de uma pesquisa sobre o assunto. Me ajudou bastante, muito obrigada. :) continue assim
Deve enviar os agradecimentos ao autor do texto:
Manoel Rubim da Silva
manoel_rubim@uol.com.br
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