sexta-feira, 16 de maio de 2008

1773. Política do filho único amplia dor das famílias

A perda de um filho é sempre uma tragédia irreparável. Mas a dor dos pais que perderam a sua criança no sismo de Sichuan, na China, é amplificada pela controversa política do filho único seguida neste país.
As imagens mais trágicas em Sichuan são as escolas reduzidas a ruínas e a angústia dos pais que esperam a retirada das crianças dos escombros, frequentemente sem vida. O primeiro-ministro Wen Jiabao, que supervisiona as operações de socorro directamente na zona, não pára de encorajar os socorristas a procurarem primeiro as crianças, dizendo que "um minuto pode significar uma vida salva".
As aulas estavam cheias na segunda-feira ao fim da manhã, quando o sismo destruiu em poucos segundos as escolas e encurralou no seu interior milhares de crianças e de professores. Em Hanwang, cidade de 70 mil habitantes a 50 quilómetros do epicentro, todos os edifícios até aos arredores ficaram arrasados, entre eles várias escolas.
O mais trágico para os socorristas e pais foi ouvir as vozes que se elevavam dos escombros nas primeiras horas a seguir à catástrofe e que se foram calando à medida que o tempo passou."Antes, ainda os ouvi. Se tivesse havido uma intervenção mais cedo, a minha filha ter-se-ia salvado", diz, a tremer de cólera Wen Huayoung, de 39 anos, que espera ainda notícias da filha de 18 anos. Uma amiga reconforta-a e diz-nos porque é ainda mais difícil de aceitar a eventual perda de um filho.
"Estamos apenas autorizados a ter um." Esta regra só conhece excepções em algumas zonas rurais e nas famílias das minorias nacionais. Os bebés tornaram-se valiosos na China desde que o Governo interditou à maioria da população ter mais de um filho, isto há mais de 30 anos, numa tentativa de controlar o crescimento demográfico do país mais populoso do mundo.
Esta opção permitiu reduzir em 400 milhões o número de nascimentos, de acordo com o Governo, mas causou também um desequilíbrio demográfico, com um número reduzido de jovens obrigados a financiar as reformas dos mais velhos.Existem hoje 80 milhões de filhos únicos na China. Conhecidos como "pequenos imperadores", têm sob os seus ombros todas as esperanças dos pais e são cobertos de mimos por toda a família.
BENJAMIN MORGAN
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