segunda-feira, 9 de junho de 2008

1821. Ainda o temporal na Madeira em Abril: “Que isto sirva de lição”

O presidente da Quercus é peremptório na análise das consequências provocadas pelo temporal que se abateu sobre a Região. “Quando acontecem este tipo de situações vêm ao de cima os erros de ordenamento do território que têm sido cometidos na Madeira, em especial na última década”, considera.
O ambientalista enumera as situações mais graves: “O estreitamento das linhas de água, o entulhamento das ribeiras com lixo e terra, a construção em zonas indevidas e a impermeabilização dos solos.” No seu entender, estas constituem situações que caracterizam boa parte da Região, em particular a Costa Sul e o Funchal.
“Os estragos causados pela tempestade no litoral são uma consequência da construção de infra-estruturas em zonas risco”, acrescenta ainda. “Esperemos que estas situações sirvam de lição para não voltar a cometer os mesmos erros. Não podemos nos desculpar com o facto de se ter verificado uma situação fora do normal.”
Segundo diz, as situações de mau tempo continuarão a ocorrer, já que o contexto de alterações climáticas traz situações extremas mais frequentes. “Infelizmente, a Região não está preparada para enfrentar esta nova realidade”, critica. “Independentemente destes cenários preocupantes, a estratégia continua a ser a mesma.” “Continuamos a projectar determinadas obras sem ter em conta as zonas de risco e a necessidade de respeitar os constrangimentos naturais do próprio território”, lamenta. “O somar dos erros do passado com os de hoje e mais alguns do futuro tornarão ainda mais preocupantes as consequências deste tipo de situações climatéricas.”
Helder Spínola ressalva o trabalho positivo desenvolvido ao nível das serras. “Se não tivesse sido feita a retirada do gado e a reflorestação, o problema seria ainda maior”, reconhece. Contudo, defende que não basta cobrir as serras com floresta. “É fundamental que cá em baixo não sejam cometidas as asneiras que têm sido feitas”, finaliza.
Ao todo, 111 litros de água por metro quadrado (a média mensal é de 40 litros) – junto com vento e ondulação fortes – provocaram resultados desastrosos por toda a Região, num início de semana que tardará a ser esquecido por muitos madeirenses. Resultado: casas, lojas e parques de estacionamento inundados, derrocadas, escolas fechadas, famílias realojadas, quedas de árvores, estradas encerradas, navegação interrompida e tráfego aéreo condicionado.
Os bombeiros não tiveram mãos a medir num dia em que as linhas de emergência não pararam de tocar. A baixa do Funchal foi uma das zonas da Região mais afectadas pela intensa chuva. Para além das inundações em inúmeros estabelecimentos comerciais e residências, o trânsito tornou-se caótico devido ao levantamento de adufas e à água que invadiu algumas artérias da baixa da cidade. Vários parques de estacionamento (Dolce Vita, Anadia, Cruz Vermelha) tiveram de ser encerrados.
O rasto de destruição estendeu-se a toda a Ilha, afectando concelhos a Leste, Oeste e Norte. O panorama de estradas encerradas, derrocadas e inundações repetiu-se um pouco por toda a Região. A via rápida também não escapou à fúria da chuva e do vento. O Aeroporto Internacional da Madeira foi obrigado a cancelar voos na terça-feira: 12 aviões foram desviados para o Porto Santo, Faro, Lisboa, Tenerife e Palma de Maiorca, enquanto outros tiveram mesmo de voltar aos aeroportos de origem.
Na conferência de imprensa para fazer o balanço do temporal que se abateu sobre a cidade, o presidente da Câmara do Funchal recusou ser “bode expiatório” da situação ocorrida. No entender de Miguel Albuquerque, a cidade viveu uma situação de excepção, alertando que os munícipes devem estar preparados “para a adversidade”.
A autarquia ignora o valor exacto dos prejuízos, estimando que deverá atingir vários milhares de euros. Nesse sentido, comprometeu-se a pagar as horas extras aos bombeiros, as obras nas estradas afectadas e, ainda, nos complexos balneares. Albuquerque admitiu ainda a necessidade de resolver situações pontuais como o escoamento de água na Rua do Seminário e da Carreira, além da zona do Ribeiro da Nora.
Carmen Vieira
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Fonte (Texto e imagem):
Portal do Tribuna da Madeira

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