sexta-feira, 1 de agosto de 2008

1926. A crise mundial dos alimentos e o mercado capitalista (Parte 4)

Para evitar o aumento dos preços por causa da especulação em massa nos mercados de futuros, a Comissão de Comércio de Mercado de Futuros de Commodities dos EUA (CFTC) põe limite à quantidade de contratos de mercados de futuros que um especulador individual pode manter. No entanto, de acordo com o depoimento dado ao Congresso em 2007 pelo Director de Monitoramento de Mercado da CFTC, Don Heitman, a CFTC tem feito excepções nesses regulamentos para os bancos de Wall Street desde, pelo menos, os anos 90. Agora, os hedge funds, os fundos de pensão e outros grandes investidores simplesmente entram em acordo com estes bancos de Wall Street para livrarem-se das restrições da CFTC.
Essa especulação tem adquirido formas grotescas. De acordo com o Conselho de Comércio de Chicago, menos de 10% de seus contratos de mercados de futuros de cereais são mantidos por grupos intencionados realmente a comercializar grãos. Grandes investidores rotineiramente procuram lucrar simplesmente através da compra de contratos de mercado de futuros e, pouco antes da data de vencimento destes, os trocam ou os “fazem circular” para expirarem mais tarde. Esse tipo de especulação é construída sobre a premissa de que os preços subirão, e dá aos grandes investidores um poderoso interesse financeiro nos preços mais elevados das commodities.
Os fundos valem dezenas ou centenas de milhares de milhões de dólares, os quais têm gerado retorno de mais de 30%, uma vez que os grandes investidores controlam e lucram com as próprias demandas, cada vez maiores, por suprimento de alimento mundial. O valor dos maiores índices de commodities – o Standard & Poor’s/Goldman Sachs Commodity Index e o Dow Jones-American International Group Index – aumentaram aproximadamente de 20 mil milhões de dólares em 2002 para 110 mil milhões de dólares em 2006, depois, então, para 170 mil milhões de dólares em 2007 e, ainda, para 240 mil milhões de dólares em Março de 2008.
Como o investimento em mercado de futuros de commodities subiu, o aumento dos preços dos alimentos acelerou-se fortemente nos anos 2000-2006. O Instituto Internacional de Pesquisa em Política Alimentar, um grupo de pesquisa de Washington, D.C., escreveu: “Em 2007 os índices de preços internacionais dos alimentos aumentaram quase 40%, comparado com 9% em 2006, e nos primeiros três meses de 2008 os preços aumentaram ainda mais, por volta de 50%.”
Bloomberg News escreveu no dia 28 de Abril: “O índice de fundos das Commodities controla um recorde de 4,51 mil milhões de bushels de milho, trigo e soja através do Conselho do Comércio de Mercado de Futuros de Chicago... Investimentos em cereais e pecuária no mercado de futuros têm mais que dobrado, para aproximadamente 65 mil milhões de dólares dos 25 mil milhões de dólares em Novembro, de acordo com o consultor da AgResource Co., em Chicago. Sozinha, a compra da safra do mercado de futuros é cerca de metade do valor conjunto do milho, soja e trigo cultivados nos EUA, o maior exportador do mundo das três commodities. O Departamento de Agricultura dos EUA “estimou” a colheita de 2007 com o recorde de 92,5 mil milhões.”
Segundo um boletim de 6 de Junho do New York Times, investidores ricos estão vertendo milhares de milhões de dólares na aquisição de propriedades físicas – terras agrícolas, fertilizantes, moinhos de grão e equipamentos de navegação. Brad Cole, presidente da Cole Partners Asset Management, disse ao Times: “Existe um interesse considerável naquilo que chamamos de “proprietários de estrutura”—estruturas como as terras agrícolas americanas, terras agrícolas argentinas e terras agrícolas inglesas—onde quer que o cenário do lucro esteja progredindo.”
O dito em seguida ao Times explicitou a estratégia dos investidores de deliberadamente segurar os grãos do Mercado, afim de adquirirem maiores lucros com a carestia e a fome: “Quando os preços das safras estão subindo, manter o estoque para a próxima venda pode gerar lucros mais altos do que vender para satisfazer a procura actual, por exemplo. Ou se os preços divergem em diferentes partes do mundo, o estoque pode ser transferido para o mercado mais lucrativo.”
O Times também citou um corretor de commodities, Jeffrey Hainline, que apontou o perigo de um catastrófico colapso nos preços caso os investidores especulativos decidirem, em última análise, sacarem o seu dinheiro e venderem os activos que eles adquiriram. Hainline disse: “Terras agrícolas podem ser uma bolha, assim como a bolha imobiliária da Florida. O ciclo de entrar e sair seria muito volátil e perturbador.” Esse tipo de resultado não ameaça somente terras agrícolas, mas, também, os bens agrícolas adquiridos ou comercializados nos mercados de títulos.
A subida dos preços da energia, causa para uma significante extensão da especulação nos mercados de futuros, está massivamente a aumentar os custos para o cultivo básico. O Instituto Internacional de Pesquisa em Políticas Alimentares (IFPRI) observa: “Os preços da energia sempre afectaram os preços agrícolas através de insumos, ou seja, o preço dos fertilizantes, pesticidas, irrigação e transporte. Agora preços da energia também afectam fortemente os preços do montante produzido por meio da concorrência por terras para produzir biocombustível.”
Os preços dos fertilizantes explodiram porque a produção de fertilizantes de nitrogénio requer uma grande quantidade de gás natural, e o preço deste elevou-se junto com o preço do petróleo. Segundo o estudo de uma Universidade de Illinois, de 2000 a 2008, o custo dos fertilizantes dos agricultores de Illinois praticamente dobrou – de aproximadamente 55 para 115 dólares por acre de milho. A subida do preço dos cereais também resulta na subida dos preços das sementes, que praticamente duplicaram de 2000 para 2008. Juntos, os dois somam, aproximadamente, dois terços dos custos de insumos dos agricultores.
O aumento do custo do transporte, impulsionado pela alta dos preços dos combustíveis, tem particularmente afectado os cereais, que representam uma grande porção da carga sólida naval do mundo. De acordo com o Conselho Internacional de Grãos, situado em Londres, a média dos preços dos transportes marítimos por tonelada de cereais mandados da Costa Americana do Golfo para Europa aumentou de 44 para 83 dólares ao longo do último ano; já da Costa do Golfo para o Japão o salto foi de 65 para 165 dólares.
O incentivo dos EUA para o desenvolvimento dos biocombustíveis, em grande parte impulsionado pelo interesse do agronegócio, facilita o aumento dos preços dos alimentos. Numa medida ostensivamente destinada a reduzir as importações de energia dos EUA, a administração Bush permitiu o uso do etanol à base de milho como um combustível substituto, subsidiando-o à taxa de 0,51 dólares por galão. Em 2007, a produção de etanol consumiu 20% da safra de milho dos EUA – cerca de 53 milhões de toneladas de milho, suficiente para alimentar 150 milhões de pessoas ao estilo americano, com dieta baseada no milho.
Alex Lantier
(Continua)
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