sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

2288. Cientistas fazem plástico com penas

A indústria avícola produz por ano, em Portugal, 20 mil toneladas de penas, um subproduto desvalorizado e encarado como um resíduo que representa custos adicionais para os produtores de aves. Preocupados com a contaminação do meio ambiente, um grupo de cientistas da Escola Superior de Tecnologias de Viseu está desenvolver um projecto inovador para converter as penas de aves em bioplásticos, criando uma alternativa para a utilização dos resíduos.
Durante ano e meio, os cinco cientistas procuraram desenvolver "novos bioplásticos a partir das queratinas das penas, que são compostas por 91 por cento desta proteína, e glicerol, utilizando uma tecnologia convencional para a produção de bioplásticos (lavagem, moagem, prensagem). De acordo com o investigador responsável, que apresentou as conclusões preliminares do projecto, o bioplástico produzido no laboratório na ESTV "possui propriedades mecânicas similares às do polietileno, plástico produzido com derivados do petróleo, é estável até 200 ºC e totalmente biodegradável". O que permite que o bioplástico de penas possa ter aplicações industriais.
Polímeros para embalagens de alimentos e sacos descartáveis são alguns dos usos potenciais do novo bioplástico. "Esta tecnologia permite valorizar um subproduto, aumentando a competitividade da indústria avícola. E permite substituir parcialmente os plásticos sintéticos, com consequente redução da poluição e diminuição da dependência do país pelo petróleo", referiu o mesmo responsável pelo projecto.
A produção de filmes e vasos utilizados na agricultura é, segundo o cientista, uma mais valia para diversas indústrias. "Quando se plantam as árvores e as plantas têm que se retirar as plantas do saco ou cortar o plástico. Se utilizarmos o bioplástico produzido à base de penas, podemos enterrar directamente o saco com a planta. Perde-se menos tempo e não se geram novos resíduos", salientando que os próprios sacos agrícolas compostos por esta nova tecnologia funcionam fonte de alimento para as plantas.
A nova tecnologia pode, segundo o responsável da investigação, não só valorizar a indústria avícola, que tem uma grande expressão no distrito de Viseu, como gerar um novo tipo de indústria. "Com 20 mil toneladas de penas, a indústria conseguiria por ano gerar um volume de negócios de 10 milhões de euros. É uma indústria que pode gerar emprego e trazer riqueza à sociedade", refere.
O investigador teme que o projecto, que define como "inovador" não seja desenvolvido à escala industrial, por falta de envolvimento do sector avícola. "Esperávamos uma maior receptividade, mas nenhum industrial compareceu [na sessão de apresentação das conclusões preliminares]".
O projecto de "Conversão de Penas de Aves em Bioplásticos", que contou com o financiamento de 50 mil euros por parte da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Centro, vai continuar a ser desenvolvido pelos cinco investigadores. Ultrapassar a medida de 10 centímetros e criar um exemplar de bioplástico à medida de unidade piloto industrial é um dos objectivos futuros da equipa.
Ana Filipa Rodrigues
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