Os sinos vão tocar a rebate, nas vilas de Benavente e Samora Correia, às 17:05 desta quinta-feira, hora a que, há precisamente 100 anos a terra tremeu, destruindo grande parte dos edifícios dos aglomerados do concelho. Com uma magnitude estimada entre 6 e 7,6 graus na escala de Richter, o sismo de 23 de Abril de 1909 provocou 30 mortos e 38 feridos, balanço que só não foi mais dramático porque, à hora em que ocorreu, 17:05, a grande maioria da população estava ainda a trabalhar nos campos.
De acordo com um documento do Museu Municipal de Benavente, o forte abalo, que se sentiu em todo o país (é considerado o mais destruidor em Portugal continental no século XX), destruiu quase por completo os aglomerados de Benavente, Samora Correia, Santo Estêvão e Salvaterra de Magos. Testemunhos da época referem as “casas que se desmoronam em nuvens colossais de poeira que se elevam nos ares”, o “aspecto desolador da vila em ruínas” e as populações em pânico a reunirem-se no Largo do Chaveiro ou em fuga para os campos.
Dois quintos das habitações de Benavente ficaram totalmente destruídas, outros dois quintos sem condições para voltarem a ser habitadas e apenas um imóvel em cada cinco estava recuperável depois de obras de reparação, referem os dados da Biblioteca Municipal de Benavente. Dos edifícios públicos, apenas a Câmara Municipal (construída em 1874) e a Biblioteca Municipal resistiram, mesmo assim com danos relevantes, tendo o património religioso praticamente desaparecido.
O sismo terá durado 22 segundos e as réplicas fizeram sentir-se durante muito tempo, a mais forte das quais sentida a 02 de Agosto. Sem comunicação telegráfica, a notícia do sismo chegou à capital do distrito, Santarém, através de um lavrador que para aí se dirigiu de automóvel, referem os documentos. O Governador Civil de Santarém, o chefe da polícia, guardas e bombeiros chegaram a Benavente ainda no dia da tragédia, por volta das 23:00. No dia seguinte, o rei D. Manuel II visitou a zona sinistrada e as forças militares começaram a instalar tendas de campanha e a fornecerem mantas, camas, roupas, enviando o Hospital Militar da Estefânia, médicos e enfermeiras.
Por iniciativa do Diário de Notícias e do Clube de Fenianos, do Porto, foram edificados dois bairros para as famílias mais pobres, ainda hoje conhecidos por Bairros Novos, enquanto a Cruz Vermelha mandou edificar barracas de zinco. Bárbara Ganhão, hoje à beira dos 106 anos, recordou, para o Boletim Municipal de Benavente, a tragédia que viveu nesse dia, quando teve de ser retirada de debaixo dos destroços de uma casa que desabou quando se encontrava lá dentro na companhia da mãe e de uma vizinha. Já com dificuldade em fazer-se entender, a centenária relatou como foi retirada dos escombros e teve de viajar até Benavente numa carroça que transportou igualmente os corpos da mãe e da vizinha.
A data vai ser assinalada com um vasto conjunto de iniciativas preparadas pelo município de Benavente, não só pelas marcas que o terramoto deixou, mas também para “lembrar os procedimentos a ter em conta em caso de sismo”.
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Fonte: O Mirante
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