sexta-feira, 23 de abril de 2010

2962. Ciência climática ou evangelismo climático?

Como George W. Bush e Tony Blair aprenderam da pior maneira, o público não tolera ser enganado sobre a natureza de ameaças potenciais. A revelação após os factos de que as razões para invadir o Iraque foram largamente exageradas – e, em muitos casos, completamente fabricadas – provocou uma violenta reacção que ajudou a tirar os republicanos do poder nos Estados Unidos e pode fazer o mesmo com o Partido Trabalhista no Reino Unido, ainda este ano.
Está a ocorrer uma mudança semelhante na opinião pública no que diz respeito às alterações climáticas. O processo atingiu o "momentum" no final do ano passado, depois de piratas informáticos terem revelado emails de um importante centro de investigação britânico que mostravam que alguns climatologistas mais influentes do mundo tentaram ocultar erros nos seus trabalhos, bloquear o escrutínio e conspiraram em conjunto para impor uma linha de pensamento sobre as alterações climáticas.
Mais recentemente, o respeitado grupo de aconselhamento das Nações Unidas, o Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (IPCC, sigla em inglês), ficou numa situação bastante embaraçosa depois de ter sido revelado que algumas previsões alarmantes que constavam do importante relatório de 2007 tinham poucas, ou nenhumas, bases científicas. Apesar de nenhuma destas falhas ser razão suficiente para duvidar de que o aquecimento global é real, provocado pelo homem e que vai causar problemas para todos nós, elas estão a ter consequências. De facto, pesquisas recentes mostram que o público confia cada vez menos no consenso científico sobre o aquecimento global.
As maiores manchetes sobre os erros do IPCC estão relacionadas com uma afirmação feita sobre o degelo do Glaciar dos Himalaias no relatório de 2007. "O Glaciar dos Himalaias está a derreter mais rápido do que qualquer outra parte do mundo", referia o relatório, acrescentando que "se o ritmo actual se mantivesse, a probabilidade de este glaciar desaparecer em 2035, ou talvez mais cedo, seria muito elevada". Acontece que esta previsão não se baseou em nenhuma investigação científica aceite pelos pares mas foi copiada de um relatório do Fundo Mundial para Natureza (WWF, sigla em inglês), que repetia uma especulação que não foi provada por nenhum investigador.
A falta de bases científicas não impediu inúmeros activistas do aquecimento global de citarem esta previsão sempre que tinham oportunidade. Quando o governo indiano sugeriu, no ano passado, que o Glaciar dos Himalaias estava em melhores condições do que o IPCC defendia, o presidente do IPCC, Rajendra Pachauri, afirmou que as objecções indianas se baseavam em "ciência vudu".
O governo indiano reagiu às revelações sobre a falta de fundamento das previsões de degelo do Glaciar dos Himalaias, anunciando que pretende criar o seu próprio "IPCC indiano", com o objectivo de avaliar o impacto do aquecimento global. O ministro indiano do Ambiente, Jairam Ramesh, afirmou: "Existe uma linha muito ténue entre a ciência climática e o evangelismo climático. Eu apoio a ciência climática."
O evangelismo climático é uma descrição acertada do que o IPCC tem feito ao exagerar alguns dos efeitos das alterações climáticas para que os políticos tomem nota. Murari Lal, coordenador e principal autor da sessão do relatório do IPCC que continha o erro dos Himalaias, admitiu que eles e os seus colegas sabiam que a previsão dramática não era baseada em nenhum procedimento científico avaliado pelos seus pares. Ainda assim, explicou, "pensamos que ao destacar esta questão, ela teria impacto nos decisores políticos e levaria estes responsáveis a tomarem medidas concretas".
A acção concreta que eles tinham em mente era a drástica redução das emissões de dióxido de carbono. Nos últimos vinte anos, os activistas têm proposto, sem sucesso, esta solução para combater o aquecimento global. A ocasião mais recente ocorreu na falhada Cimeira de Copenhaga, em Dezembro.
O problema é que é uma solução demasiado cara para que os políticos e o público a aceitem facilmente - por isso é que, aparentemente, muitos cientistas ambientais chegaram à conclusão de que, em vez usarem argumentos razoáveis, valia a pena assustar-nos até perdermos a razão.
Analisemos o que o IPCC tem a dizer sobre fenómenos meteorológicos extremos como furacões violentos. O custo desses eventos em termos da propriedade destruída e dos transtornos económicos tem vindo a aumentar. Todos os estudos, analisados por pares, mostram que isto não acontece pela subida das temperaturas mas, sim, porque mais pessoas vivem nos locais onde eles acontecem.
Ainda assim, na influente avaliação sobre as alterações climáticas que o IPCC realizou em 2007, o Grupo de Trabalho II (encarregue de calcular o impacto potencial do aquecimento global) decidiu citar um estudo, que não tinha sido publicado até à altura, que supostamente concluía que os custos dos danos causados pelo aquecimento global tinham duplicado nos últimos 35 anos. De facto, quando este estudo foi finalmente publicado, referia categoricamente que não existiam "evidências suficientes" que ligassem o aumento dos prejuízos ao aquecimento global. Dito de outra forma, o que Grupo de Trabalho II informou era, absolutamente, errado.
Noutra parte do relatório de 2007, o Grupo de Trabalho II afirmou que "até 40% da floresta amazónica" estava em risco iminente de ser destruída pelo aquecimento global. A base para esta informação foi um único relatório do WWF, que por sua vez citava apenas um estudo que nem sequer analisava as alterações climáticas, mas, sim, o impacto de actividades humanas como o corte e queima de lenha.
Da mesma forma, o Grupo de Trabalho II defendeu que "em 2020, em alguns países de África, o rendimento da agricultura podia diminuir até 50%". Esta estatística alarmante baseou-se num único ponto, sem referências, de um relatório de um grupo de análise de temas ambientais.
Há muitos outros exemplos de semelhantes manobras por parte do Grupo de Trabalho II. Contudo, e apesar de ter admitido de forma relutante que as suas previsões sobre o Glaciar dos Himalaias não foram "suficientemente comprovadas", o IPCC ainda não reconheceu nenhum dos seus erros - e muito menos pediu desculpas por eles.
Para que o IPCC faça o seu trabalho de forma adequada, deve aceitar todos os seus equívocos e pôr ordem na casa. Ninguém espera que seja infalível. Mas não devemos tolerar as suas tentativas de assustar os decisores políticos em vez de os informar.
Bjorn Lomborg (Tradução de Ana Luísa Marques)
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1 comentário:

Anónimo disse...

E COMO FICA O HOMEM NESTE CONTEXTO?

Será que não estamos - gradativa e perigosamente - abandonando a discussão para assunir apenas a polarização do tema Aquecimento Global? Será que não estamos discutindo os dois lados de uma mesma verdade?
E como fica a sociedade neste contexto dos opostos? Será que não precisaráimos saber este tipo de informação? Pois é isso que , na Região da Grande Vitória (ES) - 4 municípios - estamos fazendo, analisando a percepção ambiental da sociedade frente à problemática das Mudanças Climáticas. Quem tiver interesse em realizar pesquisa idêntica, nos contate (nosso grupo não tem fins lucrativos)
Núcleo de Estudos em Percepção Ambiental / NEPA
roosevelt@ebrnet.com.br