sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

3395. MADEIRA: Falésia sobranceira à marginal entre a Ribeira brava e a Tabua

Os trabalhos de consolidação da escarpa sobranceira à marginal entre a Ribeira Brava e a Tabua deverão ir para o terreno já este ano, segundo adiantou ao JORNAL da MADEIRA o secretário regional do Equipamento Social.
De acordo com Santos Costa, o projecto está neste momento a ser elaborado sendo que a intervenção deverá avançar este ano. «Logo que tenhamos o projecto concluído», a obra vai avançar, disse o responsável.
O governante adiantou que a intervenção não irá incidir sobre a totalidade da arriba, mas sim em determinados pontos localizados da escarpa que precisam de ser intervencionados. Esta é uma obra que, segundo o secretário regional, não deve durar «nunca menos de dois anos».
Esta é apenas uma das várias operações que o Governo Regional tem vindo a fazer e tem previsto no que concerne à consolidação e limpeza de escarpas. Algumas das situações já estavam previamente identificadas e programadas – como é o caso desta ou da Calheta, que, como foi anunciado recentemente, foi adjudicada em Conselho de Governo – ao passo que outras foram surgindo mais recentemente, em consequência das fortes chuvas que têm vindo a atingir a Madeira.
Santos Costa começou por dizer que a Região, dada a sua orografia – com muitas arribas – sempre esteve sujeita a estes fenómenos de quedas de pedras e derrocadas e lembrou que a existência de sítios chamados Fajãs é reveladora da natureza da Madeira. Tal como adiantou, a queda de pedras e as chamadas quebradas acontecem sobretudo na altura de Inverno. «Isso decorre justamente da chuva, sobretudo quando é em grande quantidade, como tem acontecido ultimamente, em que ela vai humedecer os solos, vai saturá-los de água, vai depois provocar instabilidades e escorregamentos e fazer com que os solos se desprendam dos maciços rochosos, provocando as quebradas», explicou, acrescentando que «trata-se pura e simplesmente de um fenómeno da nossa natureza aqui na Madeira, decorrente da formação geológica que a ilha tem».
Assim, referiu que quando há intempéries como a de 20 de Fevereiro e as chuvas intensas que caíram neste ano hidrológico, de Outubro para cá, isso faz aparecer muito mais situações deste género. «Daí que tenhamos assistido ao encerramento de estradas, que é aquilo que provoca, de imediato, a existência das quebradas, o que nos obriga a uma actuação também imediata para libertar as infra-estruturas, nomeadamente as acessibilidades, para que as circulações se possam manter, para além de outras intervenções que se fazem de outro nível mais profundo», frisou.
Luís Santos Costa adianta que a atenção do Governo a estas situações «tem existido sempre», sendo que, a continuar esta tendência de chuvas fortes, este fenómeno «vai obrigar é a um esforço maior de investimento para acorrer a estas situações que estão acontecendo». Entre as várias intervenções, o responsável dá o exemplo das efectuadas no Curral das Freiras, da limpeza da escarpa da Madalena do Mar, da obra numa escarpa na Maiata (Porto da Cruz) e da consolidação da falésia sobranceira à marginal da vila da Ponta do Sol (já prevista anteriormente).
Água tem forte poder de erosão - Na Ilha da Madeira, a água tem um poder de erosão que se destaca dos restantes agentes erosivos. Quem o afirma é o engenheiro geólogo João Baptista, da Universidade de Aveiro, que refere que o agente água, com o nosso declive acentuado e a gravidade, «são factores que noutro tipo de orografia não se colocam», mas que, no caso da Madeira, têm dado um forte contributo para a ocorrência de fenómenos como a recente formação de uma Fajã no Arco de São Jorge ou os deslizamentos e derrocadas que têm acontecido.
No que se refere a este agente erosivo, o último ano foi fértil, tendo em conta as repetidas chuvas fortes que ocorreram. No entanto, o nosso interlocutor adianta que não é só a água em estado líquido que pode contribuir para esta situação.
Nos pontos mais altos, a queda de neve e granizo também poderá ajudar a que tal ocorra, ao congelar nas fendas da rocha. «Para ela congelar precisa de espaço para crescer», explica, acrescentando que a água, ao passar do estado líquido ao estado sólido provoca o fendilhamento da pedra. Por outro lado, os incêndios constituem outra agravante, pois os solos ficam mais vulneráveis. «A partir do momento em que não tenhamos uma planta na área envolvente a uma rocha degradada, uma raiz que sustente essa própria rocha, à mínima chuvada fica tudo mais vulnerável para a pedra poder correr», explicou o engenheiro geólogo, lembrando que nos últimos tempos todos estes factores se verificaram.
Estradas identificadas - Neste momento, a Estradas da Madeira tem cerca de uma dúzia de estradas identificadas e em estudo em toda a ilha para serem intervencionadas. Segundo o secretário regional do Equipamento Social, trata-se de situações que precisam de ser tratadas e que estão identificadas como tal, mas nem todas são necessariamente decorrentes dos temporais.
Um exemplo de uma via sinalizada já há algum tempo e para a qual está a ser preparada uma intervenção definitiva é a antiga estrada regional, nos Moledos, Madalena do Mar. Enquanto a intervenção definitiva não acontece, Santos Costa diz que a estrada vai ser alvo de trabalhos provisórios para assegurar minimamente o funcionamento das infra-estruturas. Tal só poderá acontecer com a reabertura da Via Expresso para o Arco da Calheta (concluída a limpeza da escarpa da Banda D’Além), podendo, assim, ser interrompido o tráfego na estrada antiga.
Diferentes intervenções - O secretário regional do Equipamento Social diz que quando os fenómenos acontecem, o Governo Regional tem de actuar em termos imediatos, para repor a normalidade da situação (por exemplo nos casos de estradas encerradas). No entanto, independentemente destes casos imediatos, Santos Costa refere que há outras situações em que o Executivo vai intervindo ao longo do tempo, conforme as disponibilidades. É o caso de algumas intervenções que já estavam programadas e que não têm que ver com as consequências do mau tempo (tais como a escarpa da Calheta e a da marginal entre a Ribeira Brava e a Calheta).
Nomes dos locais são carga histórica que não pode ser esquecida - O engenheiro geólogo João Baptista afirma que a designação dada pelos nossos antepassados a determinados locais constitui uma carga histórica que «não podemos esquecer e que é importante para nós actualmente percebermos alguns fenómenos que aconteceram no passado e que voltaram a ocorrer nessas mesmas zonas passados alguns séculos». Designações como “Sítio da Quebrada, Sítio da Fajã, Sítio do Rochão, Sítio dos Enxurros, Sítio do Cascalho», são alguns exemplos.
Cartas de risco são importantes - João Baptista refere que os trabalhos que estão a ser feitos pelo Governo e pelas autarquias no sentido da elaboração dos planos de emergência e das cartas de risco são «extremamente importantes» para definir as zonas onde se poderá ou não construir.
Construção em arribas tem de ser «vista com muito cuidado» - Face às situações ocorridas com os sucessivos temporais, o secretário regional do Equipamento Social refere que «tudo aquilo que seja construção em arribas tem de ser vista com muito cuidado, em termos de ordenamento do território, por causa dos riscos associados à ocorrência destes fenómenos (desprendimentos de terras e pedras)». «São situações que têm de ser vistas e ponderadas antes de se licenciar qualquer construção», sustentou.
Fajã no Arco foi estudada pelo Laboratório Regional de Engenharia Civil - Santos Costa diz que a indicação de que dispõe é que não há casas em risco nem infra-estruturas ameaçadas.
Ano com muita precipitação acumulada - A ocorrência de muita precipitação contribui fortemente para que se verifiquem derrocadas e quedas de pedras. Com o temporal de 20 de Fevereiro do ano passado e com as chuvas intensas que caíram neste ano hidrológico, de Outubro para cá, estes fenómenos têm acontecido com muito mais frequência do que em anos hidrológicos normais.
Tal como adiantou o secretário regional do Equipamento Social, se compararmos a ocorrência de precipitação desde 2004 até ao presente, verificamos que, por exemplo, o ano de 2009/2010 em termos hidrológicos teve cerca de 2.400 milímetros de precipitação, ao passo que os anos anteriores tiveram, em média 1.000 milímetros. Por outro lado, de Outubro para cá, num dos postos hidrográficos, na encosta do Trapiche, já se verificaram cerca de 1.700 milímetros de precipitação acumulada.
Ricardo Caldeira
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