sexta-feira, 13 de maio de 2011

3503. Preservar pastagens que reduzem o uso de adubos

A Herdade dos Esquerdos, perto de Vaiamonte, na estrada que liga Monforte a Portalegre, é um símbolo da diversidade que existe em Portugal. Nos seus 364 hectares de área encontram-se muitas espécies vegetais em quatro solos diferentes em termos geológicos. "Por isso mesmo, as nossas grandes variações de clima e de solos estimulam a biodiversidade", argumenta David Gomes Crespo.
Aos 79 anos, este engenheiro agrónomo e investigador, que já percorreu meio mundo como especialista da FAO (Organização da Alimentação e Agricultura da ONU) e fundou a Fertiprado, continua muito activo como director científico "da única empresa da Península Ibérica especializada em prados e sementes, e uma das poucas da Europa", com filiais em Espanha, Itália e no Uruguai e 37% das suas vendas no mercado externo. A Fertiprado e o Instituto Nacional de Recursos Biológicos (INRB) ganharam o Prémio BES Biodiversidade com o projecto de pastagens biodiversas ricas em leguminosas, que aposta em processos "que vão melhorar ao mesmo tempo o ambiente, a produção e a qualidade da erva para a criação de gado". E tudo "a custos mais baixos", insiste David Crespo.
Com efeito, este tipo de pastagens "permite a fixação biológica de elevadas quantidades de azoto atmosférico, anulando, ou reduzindo substancialmente, o uso de adubos azotados que, além de poluírem os aquíferos de nitratos, envolvem no seu fabrico grandes quantidades de energia fóssil, com libertação de gases de efeito de estufa", explica Ana Barradas, responsável pela Divisão de Experimentação e Melhoramento da empresa.
Doutorada em Produção na Universidade da Extremadura (Badajoz), com uma tese precisamente sobre pastagens biodiversas, a investigadora faz as contas: "Com este projecto, passámos de 1% a 1,5% para 3% a 5% de matéria orgânica por hectare, o que significa que por cada 0,2% de matéria orgânica a mais há cinco toneladas de dióxido carbono retiradas da atmosfera; assim, conseguimos fixar 110 toneladas de CO2 por hectare".
O aumento de matéria orgânica no solo, rica em carbono, melhora a sua estrutura e fertilidade, as capacidades de infiltração e de retenção de água, com diminuição dos riscos de seca e de inundação. E as pastagens têm um impacto positivo na paisagem, na flora e na fauna envolventes, podendo ser uma ferramenta útil no controlo dos fogos florestais. Um estudo recente do INRB e do Instituto Superior Técnico concluiu que as pastagens biodiversas ricas em leguminosas são várias vezes mais eficientes do que as pastagens naturais no sequestro de CO2.
Como destaca Benvindo Maçãs, coordenador da unidade de investigação do INRB em Elvas, "hoje enfrentamos o duplo desafio de aumentar a produção de alimentos com respeito pelos recursos naturais, e o sistema desenvolvido aqui dá mais resistência às pastagens e tem um potencial de aplicação em 50% da superfície agrícola útil em Portugal, isto é, cerca de dois milhões de hectares".

Virgílio Azevedo

* * * * * * * * * * * *

Fonte: Expresso

Sem comentários: