Vamos já de início explicar o que é a serapilheira, e porque ela pode ser considerada o símbolo das medidas ditas não estruturais de combate às enchentes. Bem, de quebra vamos todos também saber que as medidas não estruturais são aquelas que, inteligentemente, atacam directamente as causas das enchentes e não somente as suas consequências.
Serapilheira é aquele espesso colchão de folhas caídas e restos vegetais que vai se acumulando no chão das florestas naturais. É a serapilheira que proporciona a protecção do solo contra a erosão, dá vida biológica ao solo e o enriquece agronomicamente, torna o solo mais fofo e permeável. Outra característica formidável da serapilheira é absorver ela própria de imediato uma grande quantidade de água das chuvas, reduzindo em muito o volume de água que escorre sobre a superfície do solo e que acabaria chegando aos cursos de água. Importante aqui também saber que as florestas são os espaços que maior capacidade têm de absorver águas de chuva, chegando essa capacidade a até 80% do volume de um temporal.
Sobre as principais causas de nossas enchentes urbanas, não há mais a menor dúvida sobre quais sejam: a impermeabilização generalizada da cidade, o excesso de canalização de cursos de água e a redução da capacidade de vazão de nossas drenagens pelo volumoso assoreamento provocado pelos milhões de metros cúbicos de sedimentos que anualmente provém dos intensos processos erosivos que ocorrem nas frentes periféricas de expansão urbana. Esse quadro determina o que podemos chamar a equação das enchentes urbanas: volumes crescentemente maiores de água, em tempos sucessivamente menores, escoados para drenagens naturais incapazes de lhes dar vazão.
Diante de um cenário assim colocado, qual seria a providência mais inteligente e imediata para combater as enchentes? Claro, sem dúvida, concentrar todos os esforços em reverter a impermeabilização das cidades fazendo com que toda a região urbanizada recupere sua capacidade original de reter as águas de chuva, seja por infiltração, seja por acumulação. Concomitantemente, promover um intenso combate técnico à erosão provocada por obras pontuais ou generalizadas de terraplenagem. Ou seja, fazer a lição de casa, parar de errar.
Para tanto, deve haver a necessária disposição de se promover uma radical mudança na cultura técnica que vem até hoje comandando o crescimento de nossas cidades, e que confunde a noção de limpeza com a noção da impermeabilização, e que acha que os processos erosivos, frutos do uso intensivo da terraplenagem, são inevitáveis e até aceitáveis.
Tomada a decisão dessa mudança cultural, haverá à mão, inteiramente já desenvolvido, um verdadeiro arsenal de expedientes e dispositivos técnicos para que esse esforço de redução do escoamento superficial das águas de chuva seja coroado de sucesso: calçadas e sarjetas drenantes, pátios e estacionamentos drenantes, valetas, trincheiras e poços drenantes, reservatórios para acumulação e infiltração de águas de chuva em prédios, empreendimentos comerciais, industriais, desportivos, de lazer, multiplicação dos bosques florestados, ocupando com eles todos os espaços públicos e privados livres da cidade. E, para esse último caso, como marca de nossa inteligência, e símbolo da necessária mudança da cultura técnica urbana, esses bosques não mais teriam sua serapilheira absurdamente raspada, varrida e removida pelos serviços públicos e privados de limpeza pública, como hoje acontece, mas sim protegida, conservada e, porque não, reverenciada pelo bem que irá nos fazer.
Diga-se, de passagem, que a decisão de manutenção da serapilheira não exige nenhum dispositivo legal para acontecer. É uma iniciativa que pode desde já didacticamente ser adoptada por nossos paisagistas, arquitectos, urbanistas, líderes comunitários, ou quaisquer cidadãos que possam ter algum poder de influência sobre um espaço urbano privado ou público. Ah, aproveitem também para plantar mais algumas árvores, de forma a conformar um bosque florestado mais compacto quanto possível.
Geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos
santosalvaro@uol.com.brSerapilheira é aquele espesso colchão de folhas caídas e restos vegetais que vai se acumulando no chão das florestas naturais. É a serapilheira que proporciona a protecção do solo contra a erosão, dá vida biológica ao solo e o enriquece agronomicamente, torna o solo mais fofo e permeável. Outra característica formidável da serapilheira é absorver ela própria de imediato uma grande quantidade de água das chuvas, reduzindo em muito o volume de água que escorre sobre a superfície do solo e que acabaria chegando aos cursos de água. Importante aqui também saber que as florestas são os espaços que maior capacidade têm de absorver águas de chuva, chegando essa capacidade a até 80% do volume de um temporal.
Sobre as principais causas de nossas enchentes urbanas, não há mais a menor dúvida sobre quais sejam: a impermeabilização generalizada da cidade, o excesso de canalização de cursos de água e a redução da capacidade de vazão de nossas drenagens pelo volumoso assoreamento provocado pelos milhões de metros cúbicos de sedimentos que anualmente provém dos intensos processos erosivos que ocorrem nas frentes periféricas de expansão urbana. Esse quadro determina o que podemos chamar a equação das enchentes urbanas: volumes crescentemente maiores de água, em tempos sucessivamente menores, escoados para drenagens naturais incapazes de lhes dar vazão.
Diante de um cenário assim colocado, qual seria a providência mais inteligente e imediata para combater as enchentes? Claro, sem dúvida, concentrar todos os esforços em reverter a impermeabilização das cidades fazendo com que toda a região urbanizada recupere sua capacidade original de reter as águas de chuva, seja por infiltração, seja por acumulação. Concomitantemente, promover um intenso combate técnico à erosão provocada por obras pontuais ou generalizadas de terraplenagem. Ou seja, fazer a lição de casa, parar de errar.
Para tanto, deve haver a necessária disposição de se promover uma radical mudança na cultura técnica que vem até hoje comandando o crescimento de nossas cidades, e que confunde a noção de limpeza com a noção da impermeabilização, e que acha que os processos erosivos, frutos do uso intensivo da terraplenagem, são inevitáveis e até aceitáveis.
Tomada a decisão dessa mudança cultural, haverá à mão, inteiramente já desenvolvido, um verdadeiro arsenal de expedientes e dispositivos técnicos para que esse esforço de redução do escoamento superficial das águas de chuva seja coroado de sucesso: calçadas e sarjetas drenantes, pátios e estacionamentos drenantes, valetas, trincheiras e poços drenantes, reservatórios para acumulação e infiltração de águas de chuva em prédios, empreendimentos comerciais, industriais, desportivos, de lazer, multiplicação dos bosques florestados, ocupando com eles todos os espaços públicos e privados livres da cidade. E, para esse último caso, como marca de nossa inteligência, e símbolo da necessária mudança da cultura técnica urbana, esses bosques não mais teriam sua serapilheira absurdamente raspada, varrida e removida pelos serviços públicos e privados de limpeza pública, como hoje acontece, mas sim protegida, conservada e, porque não, reverenciada pelo bem que irá nos fazer.
Diga-se, de passagem, que a decisão de manutenção da serapilheira não exige nenhum dispositivo legal para acontecer. É uma iniciativa que pode desde já didacticamente ser adoptada por nossos paisagistas, arquitectos, urbanistas, líderes comunitários, ou quaisquer cidadãos que possam ter algum poder de influência sobre um espaço urbano privado ou público. Ah, aproveitem também para plantar mais algumas árvores, de forma a conformar um bosque florestado mais compacto quanto possível.
Geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos
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Fonte: PINIweb
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