Uma fila de interminável de pessoas dorme, deitadas no passeio, ao lado umas das outras, tapadas por uns panos, a meio da noite, em Daca, capital do Bangladesh. São deslocados, desalojados à força das suas casas pelos deslizamentos de terra constantes, os mesmos que, estimam os cientistas, ditarão o desaparecimento de 20% do território no Sul do país.
Catarina Almeida, relatora das Nações Unidas sobre Direitos Humanos, Água e Saneamento, recorda a noite em que chegou ao Bangladesh. "São milhares de pessoas, sem-abrigo, que fugiram para a capital à procura de um futuro melhor", contou ao JN. O fenómeno que se repete em vários países africanos, asiáticos e da América Latina, de gente que deixou de conseguir viver nas terras habitadas durante anos por outros, antes deles.
Os cientistas explicam-no pelas alterações climáticas que, nos últimos 20 anos, fizeram duplicar o número de desastres naturais. Subiram de 200 para 400. "As populações destes locais estavam habituadas à passagem de uma tempestade grave a cada quatro, cinco anos", exemplifica José Luís Monteiro, técnico de projecto da organização não governamental Oikos, que desenvolve projectos de cooperação em muitos dos países afectados, designadamente em Moçambique e na América do Sul. "Actualmente, são confrontadas com o aumento considerável de furacões de categoria quatro e cinco, que não lhes deixa tempo para criar defesas", explicou. "As alterações climáticas estão a acontecer em fast-forward...".
"Raramente há grandes migrações causadas por uma só razão", explicou José Luís Monteiro. "Mas em situações em que há uma economia fraca, qualquer problema ambiental provoca grandes alterações na vida das pessoas", disse.
Os deslocados, vítimas dos desastres naturais que lhes roubaram o lar, acabam por engrossar a população das capitais, fazendo-o em bairros de lata, sem condições de salubridade e em ambientes propícios à proliferação de doenças e da morte. São e permanecerão vítimas das asneiras que outros países fizeram, lembrou há meses o Governo do Bangladesh, clamando por auxílio às nações responsáveis pelas alterações climáticas.
Há 25 milhões de refugiados ambientais, número que poderá duplicar nos próximos cinco anos e atingir 150 a mil milhões, em 2050, calculam as Nações Unidas. A subida do nível do mar, prevêem os investigadores, terá como consequência a contaminação salina de campos agrícolas e dos lençóis de água doce, pondo em risco a agricultura. E há Estados-Ilha no Pacífico que correm o risco de desaparecer, alerta também a comunidade científica.
Maria Cláudia Monteiro
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Fonte: Jornal de Notícias
Catarina Almeida, relatora das Nações Unidas sobre Direitos Humanos, Água e Saneamento, recorda a noite em que chegou ao Bangladesh. "São milhares de pessoas, sem-abrigo, que fugiram para a capital à procura de um futuro melhor", contou ao JN. O fenómeno que se repete em vários países africanos, asiáticos e da América Latina, de gente que deixou de conseguir viver nas terras habitadas durante anos por outros, antes deles.
Os cientistas explicam-no pelas alterações climáticas que, nos últimos 20 anos, fizeram duplicar o número de desastres naturais. Subiram de 200 para 400. "As populações destes locais estavam habituadas à passagem de uma tempestade grave a cada quatro, cinco anos", exemplifica José Luís Monteiro, técnico de projecto da organização não governamental Oikos, que desenvolve projectos de cooperação em muitos dos países afectados, designadamente em Moçambique e na América do Sul. "Actualmente, são confrontadas com o aumento considerável de furacões de categoria quatro e cinco, que não lhes deixa tempo para criar defesas", explicou. "As alterações climáticas estão a acontecer em fast-forward...".
"Raramente há grandes migrações causadas por uma só razão", explicou José Luís Monteiro. "Mas em situações em que há uma economia fraca, qualquer problema ambiental provoca grandes alterações na vida das pessoas", disse.
Os deslocados, vítimas dos desastres naturais que lhes roubaram o lar, acabam por engrossar a população das capitais, fazendo-o em bairros de lata, sem condições de salubridade e em ambientes propícios à proliferação de doenças e da morte. São e permanecerão vítimas das asneiras que outros países fizeram, lembrou há meses o Governo do Bangladesh, clamando por auxílio às nações responsáveis pelas alterações climáticas.
Há 25 milhões de refugiados ambientais, número que poderá duplicar nos próximos cinco anos e atingir 150 a mil milhões, em 2050, calculam as Nações Unidas. A subida do nível do mar, prevêem os investigadores, terá como consequência a contaminação salina de campos agrícolas e dos lençóis de água doce, pondo em risco a agricultura. E há Estados-Ilha no Pacífico que correm o risco de desaparecer, alerta também a comunidade científica.
Maria Cláudia Monteiro
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