Trás-os-Montes: Barragem de Vale
da Vilariça deixou de regar – A principal barragem do Vale da Vilariça, no
Nordeste Transmontano, deixou de regar por falta de água, pondo em causa a
produção e o investimento numa das zonas mais férteis do país, confirmou esta
segunda-feira a Associação de Regantes. O presidente daquela organização,
Fernando Brás, adiantou à Lusa que a barragem da Burga foi fechada no sábado
por ter atingido a cota mínima de exploração, a partir da qual não é permitido
retirar mais água.
Segundo a descrição feita por
aquele responsável, apesar de nesta altura o pêssego estar em final de
colheita, ainda há fruto nas árvores que fica comprometido, a azeitona de
conserva dificilmente atingirá o calibre necessário e os pomares do Vale da
Vilariça podem não resistir se a seca se prolongar. "As árvores não
conseguirão frutificar em condições no próximo ano e perdem-se milhões de
investimento", afirmou.
Há quase um ano que os
agricultores do vale vêm alertando para o problema e, em Fevereiro,
transmitiram as suas preocupações directamente à ministra da Agricultura, numa
visita de Assunção Cristas à região. Naquela ocasião, a falta de pastos era a
consequência mais visível da seca, mas também já era notória a falta de água na
principal das três barragens do regadio, a da Burga, que este ano ficou a um
terço da sua capacidade de armazenamento, devido à falta de chuva no Inverno.
Em Junho, no início do período
crítico de rega, o presidente da Associação de Regantes, Fernando Brás, voltou
a alertar que as reservas existentes seriam insuficientes para aguentar a rega
durante todo o verão, o que veio a confirmar-se. A associação que representa
cerca de 800 beneficiários tem um projecto para minimizar a situação que já tem
assegurado financiamento do PRODER para os 2,2 milhões de euros necessários,
mas que "continuam à espera que o Ministério da Agricultura desbloqueie as
verbas comunitárias e a respectiva comparticipação nacional de 25 por
cento", segundo o dirigente agrícola.
O projecto prevê a construção de
um dique para reforço do caudal da barragem da Burga, embora o presidente da
associação defenda que a solução definitiva para o problema de armazenamento de
água terá de passar pela construção de mais uma pequena barragem no caudal da
Burga. O projecto contempla ainda a instalação de contadores para racionalizar
o uso da água e faz parte de um plano de investimentos da organização agrícola
que abrange também a actualização do cadastro, a elaboração de um sistema de
informação geográfica e a reorganização cultural do vale para adequar o tipo de
cultura ao clima e solo. Nos planos estão também a criação de um agrupamento de
produtores para comercializar os produtos da zona, nomeadamente a fruta.
Menos água nos rios – As barragens
portuguesas estão com menos água e há casos, como a bacia hidrográfica do
Arade, no Algarve, que começam a preocupar: está com apenas 12,6 por cento da
capacidade de armazenamento, quando a média para esta altura do ano é de 34,1
por cento.
As duas barragens que constituem
esta bacia são as que menos água têm em todo o território nacional: 11,9%
(Funcho) e 13,8% (Arade).
O último relatório do Instituto
da Água apresenta os dados relativos a 31 de Agosto. Em 11 bacias
hidrográficas, o volume de água é inferior à média dos últimos vinte anos.
Apenas as bacias do Ave e do Mira apresentam volumes de armazenagem superiores
à média. Das 57 albufeiras monitorizadas, apenas duas têm disponibilidades
hídricas superiores a 80 por cento; 16 têm menos de 40 por cento da capacidade
preenchida.
Portugal atravessa uma situação
de seca meteorológica: segundo o último relatório de acompanhamento e avaliação
dos impactos da seca, publicado pelo Ministério da Agricultura a 14 de Agosto,
58% do País está em seca extrema e 26% em seca severa. A ausência de chuva –
que se deve manter nos próximos dias – levou a uma quebra de 62% na produção de
energia hídrica nos últimos meses, obrigando à importação de energia – subiu
129 por cento.
Edgar Nascimento
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Fonte: Correio da Manhã
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