sexta-feira, 7 de setembro de 2012

3993. PORTUGAL CONTINENTAL: O drama da seca


Trás-os-Montes: Barragem de Vale da Vilariça deixou de regar – A principal barragem do Vale da Vilariça, no Nordeste Transmontano, deixou de regar por falta de água, pondo em causa a produção e o investimento numa das zonas mais férteis do país, confirmou esta segunda-feira a Associação de Regantes. O presidente daquela organização, Fernando Brás, adiantou à Lusa que a barragem da Burga foi fechada no sábado por ter atingido a cota mínima de exploração, a partir da qual não é permitido retirar mais água.
Segundo a descrição feita por aquele responsável, apesar de nesta altura o pêssego estar em final de colheita, ainda há fruto nas árvores que fica comprometido, a azeitona de conserva dificilmente atingirá o calibre necessário e os pomares do Vale da Vilariça podem não resistir se a seca se prolongar. "As árvores não conseguirão frutificar em condições no próximo ano e perdem-se milhões de investimento", afirmou.
Há quase um ano que os agricultores do vale vêm alertando para o problema e, em Fevereiro, transmitiram as suas preocupações directamente à ministra da Agricultura, numa visita de Assunção Cristas à região. Naquela ocasião, a falta de pastos era a consequência mais visível da seca, mas também já era notória a falta de água na principal das três barragens do regadio, a da Burga, que este ano ficou a um terço da sua capacidade de armazenamento, devido à falta de chuva no Inverno.
Em Junho, no início do período crítico de rega, o presidente da Associação de Regantes, Fernando Brás, voltou a alertar que as reservas existentes seriam insuficientes para aguentar a rega durante todo o verão, o que veio a confirmar-se. A associação que representa cerca de 800 beneficiários tem um projecto para minimizar a situação que já tem assegurado financiamento do PRODER para os 2,2 milhões de euros necessários, mas que "continuam à espera que o Ministério da Agricultura desbloqueie as verbas comunitárias e a respectiva comparticipação nacional de 25 por cento", segundo o dirigente agrícola.
O projecto prevê a construção de um dique para reforço do caudal da barragem da Burga, embora o presidente da associação defenda que a solução definitiva para o problema de armazenamento de água terá de passar pela construção de mais uma pequena barragem no caudal da Burga. O projecto contempla ainda a instalação de contadores para racionalizar o uso da água e faz parte de um plano de investimentos da organização agrícola que abrange também a actualização do cadastro, a elaboração de um sistema de informação geográfica e a reorganização cultural do vale para adequar o tipo de cultura ao clima e solo. Nos planos estão também a criação de um agrupamento de produtores para comercializar os produtos da zona, nomeadamente a fruta.
Menos água nos rios – As barragens portuguesas estão com menos água e há casos, como a bacia hidrográfica do Arade, no Algarve, que começam a preocupar: está com apenas 12,6 por cento da capacidade de armazenamento, quando a média para esta altura do ano é de 34,1 por cento.
As duas barragens que constituem esta bacia são as que menos água têm em todo o território nacional: 11,9% (Funcho) e 13,8% (Arade).
O último relatório do Instituto da Água apresenta os dados relativos a 31 de Agosto. Em 11 bacias hidrográficas, o volume de água é inferior à média dos últimos vinte anos. Apenas as bacias do Ave e do Mira apresentam volumes de armazenagem superiores à média. Das 57 albufeiras monitorizadas, apenas duas têm disponibilidades hídricas superiores a 80 por cento; 16 têm menos de 40 por cento da capacidade preenchida.
Portugal atravessa uma situação de seca meteorológica: segundo o último relatório de acompanhamento e avaliação dos impactos da seca, publicado pelo Ministério da Agricultura a 14 de Agosto, 58% do País está em seca extrema e 26% em seca severa. A ausência de chuva – que se deve manter nos próximos dias – levou a uma quebra de 62% na produção de energia hídrica nos últimos meses, obrigando à importação de energia – subiu 129 por cento.
Edgar Nascimento
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