O mau tempo está a provocar estragos de norte a sul do país. Quatro pessoas foram
desalojadas na madrugada de hoje no concelho de Coimbra devido ao perigo de
desabamento da habitação, disse hoje à agência Lusa fonte dos Bombeiros
Sapadores de Coimbra. Segundo a mesma fonte, um muro de grande porte está em
perigo de colapso em Ceira, junto à Estrada da Beira, por causa do excesso de
água, provocado pelo mau tempo, tendo uma habitação por cima que também corre
perigo. A Protecção Civil de Coimbra está a acompanhar o
caso.
Por sua vez, o acesso ao Bom Jesus, em Braga, está
condicionado devido a uma derrocada também causada pelo mau tempo desta
madrugada, que levou ao corte do trânsito em Tenões, na área de acesso aos
elevadores do santuário, informa a autarquia. Segundo o comunicado enviado hoje
à agência Lusa pela Câmara Municipal de Braga, o referido acesso encontra-se
cortada para que a Protecção Civil possa remover árvores que "oferecem risco à
população" e que "ainda não há previsão para a conclusão" dos trabalhos. No
entanto, informa a autarquia, é possível aceder ao Bom Jesus do Monte pela
Estrada de Este São Pedro ou pela Falperra.
Em Águeda, as ruas estão alagadas e alguns moradores
estão retidos em casa, mas não há pessoas em risco, disse à Lusa Jorge Almeida,
da protecção civil municipal. "Temos uma situação de cheia desde ontem
[quinta-feira], à noite. Durante a noite as águas desceram um pouco, mas já
voltou a subir porque a madrugada foi muito chuvosa. Não há nenhuma situação que
coloque pessoas em risco. Na zona Baixa da cidade temos algumas ruas já
inundadas, com cerca de meio metro de altura. Há estabelecimentos comerciais
afitados e um ou outro morador retido em casa e estamos a promover que chegue lá
a alimentação e outros bens", descreveu.
Segundo Jorge Almeida, que é vice-presidente da Câmara
de Águeda, a situação é agravada pela obra que está a decorrer na ponte de
Águeda, da responsabilidade das Estradas de Portugal. "Os cilindros metálicos de
suporte à construção do novo tabuleiro estão a funcionar como barragem e a
dificultar ainda mais. Uma das grandes operações que estamos a fazer
permanentemente é retirar o que podemos de detritos que vêm rio abaixo, mas não
conseguimos chegar ao meio do rio e acumulam-se ali lenhas, funcionando como um
açude, o que aumenta a altura da água a montante, com repercussões na cidade. Se
não fossem as obras na ponte, seria uma cheia normal",
conclui.
Quanto às medidas anunciadas para controlar as cheias
que ocorrem frequentemente em Águeda, nomeadamente o desvio do caudal para um
canal secundário e a substituição de taludes por pilares, com o prolongamento do
tabuleiro de duas pontes, para que deixem de funcionar como barreiras, o autarca
lamenta a demora do Ministério do Ambiente, que deveria co-financiar as obras.
"O canal secundário não está concluído e ainda não está a fazer a função e nas
duas pontes que se previa o alargamento das secções de vazão ainda não começaram
as obras porque o Ministério do Ambiente reteve essas obras tempo demais, apesar
de serem idealizadas e projectadas pelo então INAG e por técnicos do Estado que
estudaram bem as cheias de Águeda", criticou.
Jorge Almeida referia-se aos projectos de
prolongamento das pontes de Óis da Ribeira e do Campo, e de um novo canal, para
controlar as cheias do rio Águeda na Baixa da cidade, obras que no seu conjunto
ultrapassam 2,6 milhões de euros. A diferença do nível da água a montante e a
jusante das duas pontes, nas grandes inundações de 2001, levou o então Instituto
Nacional da Água a projectar o alargamento da sua secção de vazão, substituindo
por pilares os aterros que foram feitos para as estradas, para facilitar a
passagem da água. A intervenção para fazer face às cheias cíclicas na cidade
comporta também a construção de um canal artificial com 22 metros de largura e
800 metros de extensão, destinado a recolher as águas e a devolvê-las ao rio, a
jusante das pontes, o qual também ainda não está aberto.
Entretanto, no rio Douro a subida do seu caudal obriga
à retirada de materiais de lojas no cais da Régua. O caudal do rio Douro subiu
cerca de “metro e meio” nas últimas horas, atingindo o cais fluvial de Peso da
Régua e obrigando à retirada dos equipamentos dos dois estabelecimentos
comerciais ali instalados, disse fonte dos bombeiros. O comandante dos bombeiros
da Régua, António Fonseca, disse à agência Lusa que os voluntários estão no
local a ajudar à retirada dos equipamentos e mobiliário do bar instalado no
cais, que já foi atingido pelo caudal do rio. “Faltam cerca de 30 centímetros
para atingir o bar”, referiu o responsável. Entretanto, foram também já
retirados os materiais da loja de artesanato da associação Amigos Abeira Douro.
“Já tirámos as coisas com os pés na água”, afirmou à agência Lusa Manuel Mota,
presidente da associação.
O responsável afirmou que a subida das águas “foi
repentina” e de certa forma surpreendente, até porque, segundo disse, tinham a
indicação de que o “caudal iria descer”. Manuel Mota teme que a situação se
possa complicar nas próximas horas, até porque continua a chover neste
território. António Fonseca salientou que o rio “subiu cerca de um metro e meio”
desde quinta-feira. No local estão 16 voluntários, que contam com o apoio de
três viaturas.
Já em Barcelos, a chuva provocou o abate de parte do
teto do Registo Civil. Uma parte do teto da Conservatória do Registo Civil de
Barcelos ruiu na manhã de hoje, na secção de atendimento ao público, mas não
atingiu funcionários nem utentes, informou fonte daquele organismo. Segundo a
fonte, a derrocada deu-se cerca das 09:30, numa altura em que estavam vários
utentes na sala. A conservatória continua aberta ao público, estando o
atendimento a funcionar com a “normalidade possível”. Um buraco no teto e baldes
no chão é o cenário com que se depara quem ali se desloca. A derrocada terá sido
provocada pelas chuvadas dos últimos dias. A Lusa contactou a responsável pela
conservatória, que se escusou a prestar declarações, por questões de
hierarquia.
Agitação marítima provocada pela intempérie põe
bombeiros de Espinho e Ovar em alerta. As corporações de bombeiros de Ovar e
Espinho estão em alerta hoje e no sábado para prevenir estragos decorrentes da
agitação marítima, que poderá pôr em risco zonas de habitação e já obrigou à
abertura de valas preventivas. Em declarações à Lusa, o comandante dos
Voluntários de Espinho, António Proença, revelou que depois de na passagem de
ano as ondas do mar terem galgado a rua 2 e as zonas do bairro dos pescadores e
da capela de Paramos, a situação acalmou, mas espera-se agora "um novo
pico".
"Às cinco da manhã [de sábado] a situação pode
complicar-se, porque será altura da preia-mar, a maré estará bastante alta e há
previsões de ondulação de oito metros e algumas rajadas de vento do noroeste",
explicou António Proença. "Há risco de inundações nas casas, mas as barreiras
que criámos com o Regimento de Engenharia de Espinho devem minimizar o
problema", acrescentou.
O comandante dos bombeiros referia-se às obras
realizadas esta semana, com o envolvimento dos militares que operam no concelho
e os responsáveis autárquicos pela Protecção Civil, com vista à criação de
barreiras em areia para impedimento do avanço do mar e a abertura de valas no
solo para evitar o alastramento da água. "Usámos uma máquina giratória e outra
de rasto para criar barreiras e abrir valas, na tentativa de evitar ao máximo as
inundações", explicou António Proença. "São medidas provisórias e preventivas,
que vão ajudar a lidar com a situação e depois podem ser eliminadas, para a zona
voltar ao seu estado", garantiu.
Miguel Gomes, comandante dos Bombeiros Voluntários de
Esmoriz, admitiu à Lusa que, ao contrário do habitual, desta vez não é o bairro
piscatório dessa localidade do concelho de Ovar o mais afectado pela agitação
marítima e pelo avanço do mar. "A zona que está a ser mais fustigada está a
norte, sobretudo em Silvalde, Paramos e Espinho", explicou. "Em Esmoriz, o
bairro dos pescadores até tem estado calmo para o habitual e a Praia do Campinho
é que tem sido mais afectada", continuou.
Os estragos dos últimos dias prendem-se principalmente
com o arranque das protecções em madeira e pedra, que acabaram lançadas da praia
para a via pública. Mas Miguel Gomes assegurou que a avenida marginal, com as
suas habitações altas, não deverá correr riscos, sendo que as maiores
preocupações para a próxima madrugada são motivadas pelo rio Lambão. "A Barrinha
de Esmoriz ficou tão cheia nestes dias que está a esvaziar para o mar muito
lentamente", revelou o bombeiro. "Se não parar de chover, o caudal do rio vai
aumentar ainda mais e, se ultrapassar a sua cota máxima, quase de certeza
absoluta que a água vai entrar pelas casas que há lá
perto".
* * * * * * * *
Fonte: Jornal
i
Sem comentários:
Enviar um comentário