No passado dia 7 de Junho de 2015, o território do continente encontrava-se sob a
influência de uma depressão centrada em Marrocos e de um vale em altitude, que
promoviam condições de instabilidade sobre a região. Durante a tarde, na
circulação do referido vale, organizou-se uma banda nebulosa como resultado de
convecção de base elevada, sobre os distritos de Lisboa, Setúbal, Évora e Beja.
Esta actividade convectiva resultava de instabilidade disponível apenas acima
dos 3500 m de altitude tendo-se desenvolvido sobre uma camada de ar extremamente
seco. Na camada correspondente à banda nebulosa, o conteúdo em água precipitável
era, pelo contrário, elevado, garantindo potencial precipitante à
mesma.
Este contexto é favorável à ocorrência de fenómenos de
tipo downburst seco (da nomenclatura anglo-saxónica). Em áreas localizadas das
nuvens, como é normal, produzem-se correntes de precipitação. Se estas, ao longo
do seu trajecto descendente encontrarem ar extremamente seco nas vizinhanças,
vão sofrendo evaporação e, portanto, arrefecendo. Se, como foi o caso, existir
uma camada seca bastante extensa verticalmente, este mecanismo de arrefecimento
pode ser muito pronunciado. Nestas condições, a corrente descendente vai-se
tornando mais densa (portanto, mais pesada) e acelerando progressivamente até à
superfície. No contacto com esta, o escoamento descendente adquire um movimento
tipicamente divergente, susceptível de produzir circulações secundárias e,
consequentemente, vento forte à sua passagem. Estas circulações podem elevar
poeira e detritos, o que as torna visíveis à sua passagem, sendo por vezes
confundidas com fenómenos de tipo tornado. O downburst, embora constitua um
fenómeno repentino, pode afectar o mesmo local durante um período razoavelmente
longo, até dezenas de minutos, e propagar-se a alguma distância do ponto
inicial.
A análise das observações disponibilizadas pela rede
de superfície do IPMA aponta para que diversos downbursts se tenham desenvolvido
em associação à passagem da banda nebulosa mencionada e, consequentemente,
tenham afectado diversos locais das áreas de Lisboa e Setúbal durante a tarde do
passado dia 7 de Junho. Os valores de rajada máxima registados nas estações
meteorológicas da rede do IPMA são representativos apenas dos locais onde foram
medidos, admitindo-se que valores superiores possam ter afectado outros
locais.
Chama-se a atenção para o facto de este tipo de
fenómeno não ser incomum em território nacional. Naturalmente, a sua ocorrência
em áreas densamente povoadas, como foi o presente caso, permite que seja
testemunhado por um grande número de pessoas.
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Fonte: IPMA
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