Quase 80% do território continental de Portugal estão em seca meteorológica “severa”
ou “extrema”, segundo dados do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
Mas as barragens ainda estão razoavelmente cheias e a agricultura por ora não se
está a ressentir. Depois de mais um mês com chuva muito abaixo do que é
considerado normal, Julho terminou com um agravamento da seca, que já afectava a
totalidade do país em Junho. A área em situação “severa” ou “extrema” passou de
68% para 79%. O resto do Continente (21%) está em seca “fraca” ou
“moderada”.
O IPMA caracteriza apenas a seca meteorológica – um
indicador que leva em conta a temperatura, a chuva e a quantidade de água no
solo. No entanto, as barragens não estão em má situação, apesar do seu nível ter
vindo a baixar. Das 60 albufeiras monitorizadas pela Agência Portuguesa do
Ambiente, apenas três estão abaixo de 40% da sua capacidade máxima. Barragens
grandes estão relativamente cheias, como Alqueva (77%) e Castelo de Bode
(80%).
A maior parte das bacias hidrográficas do país está
com 60 a 80% de água. Há seis – Lima, Douro, Mondego, Tejo, Sado e Guadiana –
cujos valores estão abaixo da média para o mês de Julho. Mas as diferenças não
são muito elevadas.
Os dados do IPMA confirmam o que os portugueses
sentiram em Julho: foi um mês quente e seco. Não foram quebrados recordes, nem
foi o Julho mais candente de que se tem notícia – distinção que cabe ao ano de
1989. Mas a temperatura média do país – 23,2 ºC – apenas foi superada em 15% dos
anos desde 1931, quando começam as séries de dados meteorológicas em Portugal.
Já as temperaturas máximas tiveram uma média de 30,4 ºC, a nona mais elevada
desde 1931 e a quinta maior desde 2000. O recorde desta média para o mês de
Julho, nos últimos 85 anos, cabe a 2010: 31,8 ºC.
As médias escondem o que os cidadãos realmente sentem
no dia-a-dia. E em quatro estações meteorológicas, Mirandela, Reguengos de
Monsaraz, Amareleja e Mértola, em todos os dias de Julho, sem excepção, os
termómetros subiram acima dos 30 ºC. Em Reguengos, em particular, houve 25 dias
com mais de 35 ºC. Mas quem ficou com a maior temperatura do mês foi Mirandela:
42,1 ºC, no dia 16 de Julho, em meio a uma onda de calor que durou seis dias
naquele ponto do país. Em mais quatro estações meteorológicas, Guarda,
Portalegre, Évora e Mértola, houve também uma onda de calor de seis
dias.
Chuva foi o que pouco se viu na generalidade do país.
O normal para o mês de Julho são 13,8 milímetros de precipitação. Mas caíram
apenas 3,5 milímetros. Desde Dezembro que a quantidade de chuva tem sido menor
do que o normal. Mas em Novembro e Outubro a precipitação tinha sido elevada,
reduzindo o impacto da seca meteorológica que agora se verifica. Ainda assim,
desde Outubro – o início do ano meteorológico – em praticamente todo o país, a
precipitação acumulada até agora represente 50 a 75% da
média.
Os agricultores, os primeiros a se ressentirem da
falta de chuva, não têm sido muito afectados pela situação deste ano. “As
pastagens e as culturas nas terras mais fracas tiveram alguma diminuição”,
afirma Luís Mira, secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal
(CAP). “Mas não se pode dizer que é um ano de seca”, acrescenta. Luís Mira
explica que algumas culturas foram já colhidas e muitas outras não dependem
tanto da meteorologia, dado que já utilizam a rega – como a vinha, os olivais e
culturas de frutas em geral.
As condições do tempo estão, este ano, particularmente
favoráveis aos fogos florestais. Segundo a Autoridade Nacional de Protecção
Civil, é o pior dos últimos 16 anos, em termos de severidade meteorológica – um
indicador médio associado ao risco de incêndios. Os fogos, no entanto, dependem
muito de factores de curto prazo, como dias de temperaturas muito extremas ou
ondas de calor prolongadas. Entre Janeiro e finais de Julho, arderam 28.781
hectares de matos e florestas em Portugal, um valor próximo da média da década
anterior.
Ricardo Garcia
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Fonte: PÚBLICO
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