Houve aplausos quando o Acordo de Paris foi aceite, no sábado (12 de Dezembro),
pelos representantes de mais de 190 países na cimeira do clima, na capital
francesa. Depois de duas décadas de duras negociações, de avanços e recuos e de
impasses prolongados, o novo documento traça agora um rumo comum para travar o
aquecimento do planeta. A contagem decrescente para o fim da utilização dos
combustíveis fósseis, ou pelo menos para a sua redução drástica, começou
finalmente. Mas o caminho ainda é longo, e com obstáculos. Há uma visão positiva
consensual: o acordo estabelece uma meta, traça um caminho e pela primeira vez
envolve todos os países. Como os não desenvolvidos queriam, ele prevê que a
subida da temperatura do planeta não deve exceder o valor de 1,5 graus Célsius
até final do século, em relação à média na era pré-industrial, e afirma que,
algures na segunda metade do século, as emissões de gases com efeito de estufa
deverão cessar – uma parte pode ser absorvida, ou por novas manchas florestais
ou com tecnologias entretanto operacionalizadas.
A maior fraqueza do documento é a de não estabelecer
metas concretas de reduções de gases com efeito de estufa, deixando a cada país
o encargo de as anunciar, a partir de 2020, ano em que ele entra em vigor. Até
lá, o acordo ainda vai ser assinado em Nova Iorque, na sede das Nações Unidas,
no Dia da Terra, a 22 de Abril, e terá ainda de ser ratificado nos vários
países. Para a generalidade dos observadores, este é sobretudo o início de uma
nova fase na luta contra as alterações climáticas, uma vez que o texto contempla
a obrigação da revisão das metas de redução de emissões apresentadas pelos
diferentes países, a cada cinco anos, a partir de 2023, o que vai permitir
ajustar o caminho à meta da descarbonização total na segunda metade do
século.
Até à última, esta foi uma negociação renhida. Já com
o documento pronto e apresentado, houve uma divergência final: um tempo verbal,
que os Estados Unidos conseguiram mudar de shall (deverá) para should (devia), o
que evita que o documento tenha que passar pelo senado, onde seria provavelmente
chumbado. Até 2020, entretanto, as emissões de gases com efeito de estufa ainda
vão aumentar – alguns países em desenvolvimento garantiram essa permissão – e,
ainda antes de 2030, atingirão o pico máximo. A partir daí, terá de ser sempre a
reduzir. Para as petrolíferas, este não é, portanto, um problema para já. E é
bem provável que os preços do barril de crude se mantenham baixos e assim acabem
por dar o empurrão necessário a uma mudança, para que nessas grandes empresas
passem a investir em energias limpas.
Filomena Naves
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Fonte: DN
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