Vale a pena obter informações sobre a situação do Tejo em Espanha. Como parte dos
problemas do rio no nosso país vêm de lá, conheçamos o que se passa e faz pensar
no grande problema futuro do acesso à água. Acesso à água em quantidade e
qualidade que se agudizará devido às alterações climáticas geradas pelo
aquecimento global. No caso da Península Ibérica, a disponibilidade de água
diminuirá significativamente e afectará, também, as dinâmicas dos rios. O
encontro, na semana passada, de eurodeputados da Comissão de Petições do
Parlamento Europeu com representantes de associações de defesa do Tejo e
cientistas das universidades Autónoma de Madrid e de Castilla-La Mancha,
permitiu a revelação de alguns dos problemas do Tejo.
Por exemplo, o caudal legal estabelecido para Talavera
de la Reina e Toledo deveria ser, pelo menos, o dobro e está comprovada a
violação da garantia de caudais ecológicos nestas duas cidades e em Aranjuez que
o Tejo atravessa a montante. O troço Aranjuez – Toledo – Talavera, onde os
eurodeputados passaram, é particularmente preocupante. Com condições climáticas
de precipitação fraca e de grande variabilidade, a capacidade de recuperação do
rio é diminuta, pois o caudal já chega reduzido pelo transvase de 292 km para o
rio Segura que, com elevado custo financeiro, vai regar as terras do
Levante.
"Como parte dos problemas do rio no nosso país vêm de
lá, conheçamos o que se passa e faz pensar no grande problema futuro do acesso à
água" Em Talavera, esta situação teve
como consequência o aparecimento das agora conhecidas como ilhas do Tejo que não
existiam há três décadas e “são criadas pelos sedimentos que o rio não é capaz
de arrastar”. Teme-se que “o rio possa ficar tamponado”.
Nem em zonas protegidas se cumprem os valores
estipulados para o caudal ecológico e os eurodeputados puderam testemunhar como
se converte o Tejo “num rio parado com um ecossistema palustre mais próprio de
um delta ou de um açude”. Quando chega a Aranjuez, tem, muitas vezes, caudal
inferior a 6 m³/s, mínimo estabelecido pela normativa que regula o discutido
transvase do Tejo para o Segura. Antes da inauguração do transvase em 1979, o
rio fluía na cidade com um volume médio de 30 m³/s. A normativa prevê que possam
retirar, para transvase, até 70,29% da água que o rio recebe nas cabeceiras,
valor que os especialistas consideram, na realidade, ser muito maior. E
perguntam: “Como podemos ter um rio quando 90% se considera
excedente?”
Também entre Aranjuez e Talavera, a água se apresenta
em mau estado visível, e com efeitos negativos para os ecossistemas. As
afluências de contaminantes provenientes de várias actividades e da comunidade
de Madrid, criam novos problemas, além dos efeitos nas espécies piscícolas, com
a perda de capacidade de autodepuração e o desaparecimento dos bosques
ribeirinhos. Confrontados com estes efeitos, os eurodeputados apenas puderam
responder que a resolução das doenças transmitidas ao Tejo pertence às
instâncias de poder espanholas e estas, tal como as portuguesas, continuam a
desviar o olhar. Mas, os eurodeputados não se deslocaram a jusante de Talavera,
onde poderiam ter-se apercebido da grande ameaça que a central nuclear de
Almaraz representa. Nem, se aproximaram da barragem de Cedillo onde a quantidade
e qualidade da água que Espanha entrega a Portugal terão de ser asseguradas.
Está claro que, se tivessem passado a fronteira, haveriam de confrontar-se, por
exemplo entre Vila Velha de Ródão e Abrantes, com o mesmo tipo de problemas. E
também diriam que isso é com as autoridades portuguesas.
Manuel Costa Alves
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Fonte: Reconquista
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