Cinco jovens meteorologistas amadores portugueses querem ir “caçar tornados” na famosa
“tornado alley”, no centro dos Estados Unidos da América, em Maio do próximo
ano. Para isso, o grupo precisa de 15 mil euros, tendo lançado no domingo uma
operação de crowdfunding na internet, para que todos possam ajudá-los a cumprir
esse sonho. Os cinco são sócios fundadores da Troposfera, Associação Portuguesa de
Meteorologia Amadora, criada em Abril passado.
Eles são o algarvio Bruno Gonçalves, de 36 anos,
engenheiro de ambiente, Artur Rebelo Neves, de 38 anos, de Lisboa, formado em
Tecnologias da Informação, Henrique Santos, 25 anos, da Charneca da Caparica,
pós-produtor de vídeo num canal de televisão, Miguel Pereira, 32 anos, de
Setúbal, que trabalha em Gestão e Valorização de Recicláveis, e ainda Saul
Monteiro, 39 anos, de Lisboa, que trabalha numa empresa de catering para
companhias de aviação. Todos eles confessam uma paixão em comum: os fenómenos
atmosféricos, em especial os extremos. E classificam-se como «stormchasers», ou
seja, «caçadores de tempestades». No entanto, apesar de em Portugal haver muitas
trovoadas, chuvadas, alguns tornados e outros acontecimentos meteorológicos de
interesse, a verdade é que nada se compara com a mítica «alameda» ou «corredor»
dos tornados, nas planícies centrais dos EUA, em especial na zona de Oklahoma.
Daí que o quinteto queira ir até lá, não só para conhecer de perto esses
fenómenos que atraem a curiosidade de milhares e até já deram matéria para
filmes, como para recolher dados e ensinamentos que possam ser úteis em
Portugal.
Bruno Gonçalves, que é responsável, em Lagoa, pelo
site Meteofontes e pelas duas
estações meteorológicas municipais, e ainda pela página ExtremAtmosfera, contou ao
Sul Informação que «a ideia da ida aos Estados Unidos foi uma das coisas que
esteve na base da constituição da Troposfera, para consolidar e dar mais peso e
credibilidade à comunidade amadora em Portugal». O objectivo do quinteto de
meteorologistas amadores pretende estar três semanas nos Estados Unidos, em
Maio, em plena época dos tornados, tendo como epicentro o estado de Oklahoma.
«Depois seguiremos para onde o tempo nos disser».
Apesar de serem «caçadores de tempestades», os cinco
têm os pés bem assentes na terra e sabem o suficiente para perceber que a
realidade dos tornados norte-americanos é bem diferente da portuguesa ou sequer
europeia. Por isso, revela Bruno Gonçalves, «estabelecemos uma parceria com uma
equipa de caçadores de tornados muito conhecida, os Tornado Titans, que são
autores de séries e de fotografias sobre o tema». O combinado é que «eles vão
apoiar-nos na divulgação do nosso crowdfunding e nos primeiros dias vamos
acompanhá-los e fazer caçadas em conjunto». O quinteto da Troposfera será a
primeira equipa portuguesa a ir aos EUA atrás dos tornados. «Até agora, só têm
ido pessoas individualmente, e poucos, integrados nas excursões que empresas
especializadas promovem», garante Bruno.
E, além da emoção de ver, ao vivo e a cores, um
poderoso tornado, o que é que leva o grupo lusitano a querer atravessar o
Atlântico? «O objectivo principal é irmos aos Estados Unidos da América conhecer
aquela realidade, contactar com cientistas, com as universidades, nomeadamente
de Oklahoma, falar com outros caçadores, com as autoridades policiais e de
protecção civil. Faremos filmagens e entrevistas também com eles, bem como com a
população, para perceber como é que aquelas pessoas estão preparadas. Queremos
transportar esse conhecimento para a realidade portuguesa, ver o que se pode ou
não adaptar, em termos de previsão meteorológica e de sensibilização da
população, e, sobretudo, ver se há procedimentos que se possa mudar em
Portugal». Com as filmagens, o grupo pretende fazer o documentário «No Caminho
dos Tornados», a dividir por 10 a 12 episódios, e para ser «disponibilizado em
Portugal». Os objectivos, repete Bruno Gonçalves, são «pedagógicos» e uma das
ideias é, por exemplo, «desmistificar se agora há ou não mais tornados em
Portugal». «Será um documentário pioneiro em Portugal e onde se tentará conhecer
as especificidades meteorológicas daquela zona e efectuar uma comparação com a
realidade portuguesa, tentando perceber o que se poderá fazer em Portugal, de
forma a melhorar as previsões e a prevenção da população para este tipo de
situações», explica.
(...) E em que vão eles gastar os 15 mil euros? Não
será, certamente, em hotéis de luxo. Vão gastá-lo na viagem, em «bilhetes de
avião para podermos atravessar o Atlântico» (4000 euros), na estadia, «durante
as três semanas, precisaremos de repousar durante a noite» (2000 euros), nas
deslocações, nomeadamente para «viatura e combustível, para perseguirmos
implacavelmente as tempestades» (3250 euros), alimentação, já que «precisaremos
de muitas calorias para não deixar fugir nenhum tornado» (2000 euros) e ainda
para software, para «sabermos com exactidão onde estão as tempestades e onde
estamos nós» (400 euros). E não, estes cinco jovens não são “maluquinhos das
tempestades”. Todos eles, apesar de amadores (no sentido em que não fazem da
meteorologia a sua profissão) são profundos conhecedores e estudiosos dos
fenómenos atmosféricos. Bruno Gonçalves, por exemplo, até faz parte do restrito
grupo de uma vintena de pessoas em todo o país que integram a rede de
Observadores Meteorológicos Voluntários, lançada recentemente pelo Instituto
Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
Em relação a esta aventura no «corredor do tornados»,
nos Estados Unidos, Bruno tem noção de que «temos de ir com algum cuidado, com a
palavra segurança sempre na cabeça». Em Portugal, o jovem engenheiro de ambiente
já se dedica à caça das tempestades. Ainda há poucos dias, saiu de casa às 2h30
da manhã, de equipamento fotográfico ao ombro, para ir caçar imagens de uma
trovoada. «Saímos de casa a qualquer hora e vamos atrás do que o tempo nos
dita». É que, sublinha, isto de ser caçador de tempestades significa apenas que
«enquanto a pessoa comum, quando há tempestades, se refugia em casa, para não se
molhar, nós estamos sempre atentos às condições meteorológicas e se houver
condições mais severas saímos para a rua».
E será que Bruno Gonçalves já esteve perto de uma
situação perigosa nesta sua caça? «Perigosa, perigosa, nunca estive perto de
nenhuma», admite, com algum desalento. «O mais perto que estive foi o tornado de
Lagoa-Silves, que passou perto de onde eu estava a trabalhar, mas do qual só me
apercebi já o tornado ia em Silves». Desta vez, espera o jovem meteorologista,
«nos Estados Unidos vamos estar mesmo lá ao pé!»
OUTUBRO – 2014
Elisabete Rodrigues
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Fonte: Informação Sul
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