Na sequência da
notícia “Episódio de tempo excepcionalmente quente no Funchal (8 a 10 de
Agosto)” do dia 10 de Agosto de 2016, o IPMA tem vindo a aprofundar a análise
da situação meteorológica que levou à ocorrência de valores extremos de
temperatura e humidade relativa nas vertentes sul da ilha da Madeira.
A acção conjunta
de um anticiclone localizado a noroeste da Península Ibérica e de uma depressão
centrada em Marrocos influenciaram o estado do tempo no arquipélago da Madeira
no período compreendido entre 5 e 10 de Agosto de 2016. Neste evento ocorreu
uma advecção de ar quente e seco em todo o arquipélago, tendo-se atingido, aos
1500 m de altitude, valores de temperatura do ar da ordem de 25-26 ºC e de
humidade relativa do ar na gama de 10-20 %.
Neste intervalo
de 6 dias, nas estações do Areeiro (1590 m) e Bica da Cana (1560 m), foram
registados valores máximos de temperatura a 2 m de, respectivamente, 27.2 ºC e
28.1 ºC. Em ambas as estações, os valores mais baixos de humidade relativa a 2
m observados foram da ordem de 10 a 20 %. Devido a uma circulação
predominantemente de este/nordeste, nas estações a baixa altitude localizadas
na vertente norte da ilha da Madeira, bem como na ilha de Porto Santo, os
valores máximos de temperatura a 2 m foram da ordem de 30 ºC e humidade
relativa do ar a 2 m na ordem de 40 %.
Nas estações
localizadas na vertente sul, a situação foi mais extrema, com valores de
humidade relativa do ar a 2 m a atingirem mínimos de 10-20 % e de temperatura
máxima do ar a 2 m da ordem de 34-36 ºC, de uma forma generalizada. Em
particular, na zona do Funchal foram registados, no dia 9, os valores mais
elevados da temperatura do ar a 2 m, com máximos de 38.2 ºC e 37.8 ºC, respectivamente,
nas estações do Funchal/Observatório e Funchal/Lido.
Mais relevante
será o facto da temperatura horária, na estação do Funchal/Observatório, ter
apresentado uma subida de cerca de 7 ºC numa hora (entre as 23 horas locais de
dia 4 de agosto e as 00 horas de 5 de agosto), tendo-se observado valores da
ordem dos 30 a 32 ºC durante toda a noite de 5 de agosto. Entre o fim da tarde
de dia 8 e a manhã de dia 9 a situação foi ainda mais extrema, com registos de
temperatura de 30 a 35 ºC.
Estes valores de
temperatura e humidade registados na vertente sul da ilha da Madeira não são
integralmente justificáveis pelo transporte de ar quente e seco induzido pela
larga escala, já que no decurso do fim-de-semana de 6 e 7 de agosto a
temperatura máxima nas vertentes sul da ilha da Madeira foi da ordem dos 28 a
31 ºC. Assim sendo, as observações sugerem que fenómenos de escala local terão
contribuído de forma relevante para a situação de temperaturas anormalmente
elevadas registadas nesta zona.
Em particular,
os registos da estações do IPMA na região do Funchal e em altitude sugerem que
na madrugada de 5 de agosto e entre as 6 horas locais de dia 8 de agosto e as 5
horas de dia 10 de agosto, terá predominado uma circulação com sentido
descendente (da montanha até ao nível médio do mar) nas vertentes sul da ilha,
a qual propiciou uma rápido aquecimento do ar e uma descida acentuada da
humidade relativa do ar a 2m, fenómeno que é habitualmente designado como
efeito de foehn. Esta situação é comprovada pelos registos do IPMA, tendo-se
observado, às 6 h de dia 9, temperaturas de cerca de 25 ºC na estação do Pico
Alto (1118 m) e de 34 ºC no Funchal/Observatório, com vento de nordeste com
cerca de 35 km/h e rajadas da ordem dos 80 km/h. A diferença de 9 ºC entre as
estações do Pico Alto e do Funchal é consistente com o aquecimento que uma
partícula de ar pode sofrer numa descida de cerca de 1000 metros quando a massa
de ar é seca (processo conhecido por compressão adiabática seca).
Face ao carácter
local deste episódio, é expectável que os modelos de maior resolução espacial
exibam um melhor desempenho de previsão. O IPMA irá continuar a analisar este
evento, em particular, as características do escoamento atmosférico na ilha,
para permitir descrever em mais detalhe a situação meteorológica.
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Fonte: IPMA
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