A Fundação Oceano Azul, gestora do Oceanário de Lisboa, que participa na Conferência dos
Oceanos, a decorrer na ONU, em Nova Iorque, "tem a ambição de ter uma
palavra na agenda internacional dos oceanos", disse o presidente da
instituição. "Queremos ter essa palavra e uma conferência como esta é
importante para o fazermos", disse Tiago Pitta e Cunha, sublinhando que a
fundação portuguesa é uma de apenas três fundações a participarem na
conferência dedicada à utilização sustentável dos oceanos, que reúne 193
países.
"Entre
todas as organizações não-governamentais registadas na conferência, estão
apenas a Fundação Packard e a Fundação Waitt, que são grandes fundações
americanas, e a nossa. Há, portanto, este espaço que queremos preencher para
exercer liderança na área da conservação do oceano", adiantou o presidente
executivo da Oceano Azul, criada pela Sociedade Francisco Manuel dos Santos. A
Conferência dos Oceanos é o primeiro grande evento da ONU dedicado aos oceanos
desde a negociação da Convenção sobre o Direito do Mar nos anos 1970.
Tiago Pitta
e Cunha defendeu que o evento "tem muita importância porque coloca os
oceanos no centro das deliberações de um organismo tão importante como as
Nações Unidas" e porque se passaram cinco décadas desde que a organização
tomara uma decisão semelhante. "Já na altura os cientistas explicaram que
não podíamos continuar a explorar o mar da forma não sustentável que estávamos
a fazer. De alguma forma, deixámos que se passassem 50 anos, pelo menos duas
gerações, sobre isso", disse.
No Dia
Mundial dos Oceanos, que se assinala hoje, o antigo conselheiro de Cavaco Silva
lamenta que "os oceanos continuem a ser afectados, no seu equilibro
ambiental e climático, muito além daquilo que as pessoas sabem." "Há
um enorme fosse entre o que sabem os cientistas e o que sabem as pessoas e os
próprios decisores. Não existe esta consciência, como já existe em outras áreas,
como das florestas ou do clima", afirmou, adiantando que "ainda se
desconhecem muitas coisas sobre os oceanos, mas o que já se sabe é suficiente
para agir de forma muito decidida."
"Há uma
quantidade de recursos que estão a ser delapidados a uma grande velocidade. Nem
os cientistas mais pessimistas conseguiram prever, no final de 2015, que o ano
passado seria o pior de sempre para os corais e que 40 por cento dos corais
desapareceriam", diz. Pitta e Cunha lamenta que ainda não tenha sido
possível lançar um "apelo à consciencialização que permita gerar acção
concreta", mas defende que essa transformação acontecerá na sociedade
civil.
"Não
vamos conseguir fazer [esse apelo] através de conversas entre especialistas.
Temos de as trazer até à sociedade. O maior peso desta conferência talvez
esteja ligado ao sector não-governamental, onde noto mais dinamismo e onde
foram organizados um conjunto de eventos laterais que reúnem muito
conhecimento, muita informação e muita experiência", explica.
A
Conferência dos Oceanos termina na sexta-feira com a adopção por todos os
países-membros da ONU de um documento político que foi negociado pelo
embaixador de Portugal na ONU, Álvaro Mendonça e Moura, em conjunto com o seu
homólogo de Singapura. Portugal ofereceu-se entretanto para acolher a próxima
edição do evento em 2020.
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Fonte:
Açoriano Ocidental
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