domingo, 8 de outubro de 2017

6422. A história por detrás do incansável Fogos.pt

Neste Verão, os incêndios não deram descanso aos bombeiros. Numa posição mais cómoda mas igualmente sem descansar esteve João Pina, criador do Fogos.pt, um site e também duas aplicações para telemóvel que mostram em tempo real os fogos activos em território nacional e que são complementados no Twitter com fotos, vídeos e alertas da comunidade, sobre estradas cortadas e evacuações.
“Estive sempre a receber mensagens pelo Facebook, Twitter e email com imagens e relatos de estradas cortadas e coisas do género. Tentava sempre verificar primeiro se aquelas coisas estavam realmente a acontecer”, explica-nos João Pina, numa breve conversa durante o Pixels Camp. Feita a confirmação, João partilha as informações com os mais de 4 mil seguidores do Fogos.pt no Twitter. “O meu irmão deu-me uma ajuda. Era basicamente eu e o meu irmão nas redes sociais.”
Portugal regista em 2017 a maior área ardida da última década – mais de 215 mil hectares entre 1 de Janeiro e 30 de Setembro, segundo um relatório do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). Junho, Julho e Agosto foram meses de especial aflição, com incêndios de norte a sul do continente. Castelo Branco, Santarém e Coimbra foram os distritos mais afectados e Agosto representa 33% da área ardida total este ano.
O período crítico do Sistema de Defesa da Floresta, que proíbe foguetes, queimadas e fogueiras nos espaços florestais, foi prolongado até 15 de Outubro pelo Governo, depois de um Setembro quente e seco. Aliás, de acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), o mês passado foi o mais quente dos últimos 87 anos no território continental português.
O Fogos.pt conta com mais de 80 mil utilizadores registados nas apps e o site teve, de 1 de Julho a 31 de Agosto, mais de 5,3 milhões de pageviews, num total de mais de 830 mil utilizadores únicos. É um portal que “acaba por ser útil porque as pessoas querem efectivamente saber o que se passa na sua terra ou na zona onde têm familiares”, sintetiza. O passa-a-palavra é, segundo João Pina, o principal motor de crescimento do Fogos.pt: “todo o crescimento tem sido orgânico, não gastei um cêntimo em publicidade ou o quer que seja”.
João Pina criou o Fogos.pt em 2015. “No início estava num sub-domínio meu. Depois começou a ganhar tracção e lembrei-me de comprar o domínio”, conta. O endereço fogos.pt foi comprado em 2016, nascendo um novo site e duas apps móveis, para iOS e Android. O projecto surgiu numa conversa de café: “estava com uns amigos meus, bombeiros e malta do INEM. Eles queixaram-se de que era muito complicado aceder aos dados e, nessa noite, cheguei a casa, comecei a bater um bocadinho código e a coisa ficou mais ou menos feita”.
A publicidade que coloca no Fogos.pt chega para cobrir os custos, que, tirando as licenças para usar os mapas da Google, garante que são baixos. “Cheguei a ter 8 mil pessoas em simultâneo em Agosto e é um servidor de 20 euros que tem lá uma série de tralhas minhas”, refere, acrescentando que fez o site de raiz devidamente optimizado para correr levemente no servidor.
E apoios? “Até agora zero”, diz-nos, apesar de ter existido interesse da Microsoft em disponibilizar os seus servidores Azure para alojar a plataforma: “houve uma troca mas depois acabou por não se concretizar”. João procura para já uma solução para resolver as limitações do Google Maps. “Já estou nos limites pagos de uma conta de um humano normal, agora preciso de uma conta empresarial e preciso de um apoio porque não tenho a capacidade financeira de comprar essa conta”, diz.
No dia-a-dia, o trabalho de João Pina passa por fazer a manutenção do site e das duas apps, assim como responder às mensagens que recebe e que agora são bem menos. De resto, os alertas sobre os fogos activos e outras ocorrências são automatizados, uma vez que é informação pública, disponibilizada pela Protecção Civil – “tenho o código lá a correr e despacha essas coisas todas”“Procuro que o Fogos.pt seja uma ferramenta isenta que dê a informação o mais possível em tempo real sem ter qualquer tipo opinião”, defende. “Sei perfeitamente que conseguia vender isto e meter interesses aqui pelo meio, também pela exposição que já tem. Mas acho que isso não seria correcto, porque é uma ferramenta de utilidade pública
Quanto a próximos passos, João Pina quer integrar o lado comunitário que já surgiu em torno do Fogos.pt no site e aplicações. No fundo, transformar as mensagens privadas num sistema mais eficaz de partilha de informação. “Neste momento, só aparece lá aquilo que a Protecção Civil diz. Faz falta, por exemplo, mostrar se um fogo está a ir na direcção de uma determinada aldeia, de forma a avisar as pessoas que lá estão ou familiares”. João Pina sabe que isto pode abrir portas a trolls, mentiras e interesses, mas “lá no fundo quero acreditar que somos todos boas pessoas e que ninguém vai usar a ferramenta para esse tipo de coisas”, diz.
Mário Rui André
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Fonte (texto e imagens): Shifter

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