Neste
Verão, os incêndios não deram descanso aos bombeiros. Numa posição mais cómoda
mas igualmente sem descansar esteve João Pina, criador do Fogos.pt, um
site e também duas aplicações para telemóvel que mostram em tempo real os fogos
activos em território nacional e que são complementados no Twitter com
fotos, vídeos e alertas da comunidade, sobre estradas cortadas e
evacuações.
“Estive sempre a receber mensagens pelo
Facebook, Twitter e email com imagens e relatos de estradas cortadas e coisas
do género. Tentava sempre verificar primeiro se aquelas coisas
estavam realmente a acontecer”, explica-nos João Pina, numa breve conversa
durante o Pixels
Camp. Feita a confirmação, João partilha as informações com os mais de 4
mil seguidores do Fogos.pt no Twitter. “O meu irmão deu-me uma
ajuda. Era basicamente eu e o meu irmão nas redes sociais.”
Portugal
regista em 2017 a maior área ardida da última década – mais de 215
mil hectares entre 1 de Janeiro e 30 de Setembro, segundo um
relatório do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).
Junho, Julho e Agosto foram meses de especial aflição, com incêndios de norte a
sul do continente. Castelo Branco, Santarém e Coimbra foram os
distritos mais afectados e Agosto representa 33% da área ardida total
este ano.
O período
crítico do Sistema de Defesa da Floresta, que proíbe foguetes,
queimadas e fogueiras nos espaços florestais, foi prolongado até 15 de
Outubro pelo Governo, depois de um Setembro quente e seco. Aliás, de
acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), o
mês passado foi o mais quente dos últimos 87 anos no território
continental português.
O Fogos.pt conta com mais de
80 mil utilizadores registados nas apps e o site teve, de 1 de Julho a
31 de Agosto, mais de 5,3 milhões de pageviews, num total de
mais de 830 mil utilizadores únicos. É um portal que “acaba por ser
útil porque as pessoas querem efectivamente saber o que se passa na sua terra
ou na zona onde têm familiares”, sintetiza. O passa-a-palavra
é, segundo João Pina, o principal motor de crescimento do Fogos.pt: “todo
o crescimento tem sido orgânico, não gastei um cêntimo em publicidade ou o quer
que seja”.
João Pina criou
o Fogos.pt em 2015. “No início estava num sub-domínio meu. Depois
começou a ganhar tracção e lembrei-me de comprar o domínio”, conta. O
endereço fogos.pt foi comprado em 2016, nascendo um novo site e duas
apps móveis, para iOS e Android. O projecto surgiu numa conversa de
café: “estava com uns amigos meus, bombeiros e malta do INEM.
Eles queixaram-se de que era muito complicado aceder aos dados e, nessa noite,
cheguei a casa, comecei a bater um bocadinho código e a coisa ficou mais ou
menos feita”.
A publicidade
que coloca no Fogos.pt chega para cobrir os custos, que, tirando as licenças
para usar os mapas da Google, garante que são baixos. “Cheguei a ter 8
mil pessoas em simultâneo em Agosto e é um servidor de 20 euros que tem lá uma
série de tralhas minhas”, refere, acrescentando que fez o site de raiz
devidamente optimizado para correr levemente no servidor.
E
apoios? “Até agora zero”, diz-nos, apesar de ter
existido interesse da Microsoft em disponibilizar os seus servidores Azure para
alojar a plataforma: “houve uma troca mas depois acabou por não se
concretizar”. João procura para já uma solução para resolver as
limitações do Google Maps. “Já estou nos limites pagos de uma conta de um
humano normal, agora preciso de uma conta empresarial e
preciso de um apoio porque não tenho a capacidade financeira de comprar essa
conta”, diz.
No dia-a-dia, o
trabalho de João Pina passa por fazer a manutenção do site e das duas apps,
assim como responder às mensagens que recebe e que agora são bem menos. De
resto, os alertas sobre os fogos activos e outras ocorrências são
automatizados, uma vez que é informação pública, disponibilizada pela Protecção
Civil – “tenho o código lá a correr e despacha essas coisas todas”. “Procuro
que o Fogos.pt seja uma ferramenta isenta que dê a informação o mais
possível em tempo real sem ter qualquer tipo opinião”, defende.
“Sei perfeitamente que conseguia vender isto e meter interesses aqui pelo meio,
também pela exposição que já tem. Mas acho que isso não seria
correcto, porque é uma ferramenta de utilidade pública”
Quanto a próximos
passos, João Pina quer integrar o lado comunitário que já
surgiu em torno do Fogos.pt no site e aplicações. No fundo,
transformar as mensagens privadas num sistema mais eficaz de partilha de
informação. “Neste momento, só aparece lá aquilo que a Protecção Civil diz.
Faz falta, por exemplo, mostrar se um fogo está a ir na
direcção de uma determinada aldeia, de forma a avisar as pessoas que lá
estão ou familiares”. João Pina sabe que isto pode abrir
portas a trolls, mentiras e interesses, mas “lá no fundo
quero acreditar que somos todos boas pessoas e que ninguém vai usar a
ferramenta para esse tipo de coisas”, diz.
Mário Rui André
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Fonte (texto e
imagens): Shifter
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