O Sistema Nacional de Defesa da
Floresta Contra Incêndios assenta em grande parte no saber empírico, levando a
que muitas das decisões tomadas no terreno tenham por base "percepções
normalmente questionáveis", necessitando de conhecimento técnico, segundo
a comissão técnica independente.
"O Sistema Nacional de
Defesa da Floresta Contra Incêndios carece de uma forte incorporação de
conhecimento. Muitas das decisões são tomadas apenas com base em conhecimento
empírico e baseadas em percepções normalmente questionáveis", refere o
relatório da comissão técnica independente designada para analisar os fogos de Junho
na região Centro, entregue esta quinta-feira na Assembleia da República e
tornado público. Assim, os peritos desta comissão defendem que a integração do
conhecimento técnico com a acção "deverá ser uma trave mestra" na
organização futura do sistema.
"O aproveitamento das
melhores condições para o combate, a fluidez da informação técnica do IPMA
[Instituto Português do Mar e da Atmosfera], a capacidade de interpretar a
complexidade das situações, a integração de especialistas de análise do fogo,
assim como a intervenção de operacionais profissionais especializados convergem
num fluxo onde o conhecimento deverá ser o factor privilegiado de
conjugação", sublinha o relatório. O documento acrescenta que os
mecanismos de simulação e de apoio à decisão "estão em estado incipiente e
não têm permitido dar suporte qualificado às intervenções operacionais".
Ainda no domínio do conhecimento,
os autores do relatório frisam que "é fundamental" que a capacidade e
os recursos da investigação científica instalados em instituições nacionais,
designadamente em universidades e nos laboratórios de Estado, seja confrontada,
mobilizada, utilizada e integrada em programas de investigação aplicada que
associem empresas, associações, forças operacionais profissionais e centros de
investigação. "O tradicional desajustamento entre a investigação e a
solução concreta das problemáticas nacionais deve, também neste sector, ser
ultrapassado, garantindo uma crescente incorporação do conhecimento nessas
problemáticas", salienta o relatório.
Domínios como a gestão do fogo,
incluindo o comportamento de fogos extremos, os modelos de ordenamento e de
silvicultura preventiva, os instrumentos e aplicações de apoio à decisão, e os projectos
na área da meteorologia são alguns dos aspectos que devem corresponder a linhas
de investigação a estruturar no futuro, é referido. "É neste quadro que se
avança com a proposta de criação de um Laboratório Colaborativo, impulsionado
por empresas e outras entidades florestais, permitindo estruturar um programa
especial dedicado, integrando linhas de investigação aplicada e proporcionando
soluções adequadas aos problemas relacionados com o SNDFCI [Sistema Nacional de
Defesa da Floresta Contra Incêndios]", defendem os autores do relatório.
O documento entregue no
parlamento analisa os fogos ocorridos entre 17 e 24 de Junho nos concelhos de
Pedrógão Grande, Castanheira de Pêra, Figueiró dos Vinhos, Ansião, Alvaiázere,
Figueiró dos Vinhos, Arganil, Penela, Oleiros, Sertã, Góis e Pampilhosa da
Serra. O fogo que deflagrou em Pedrógão Grande no dia 17 de Junho só foi
extinto uma semana depois, tal como o incêndio que teve início em Góis
(distrito de Coimbra). Os dois fogos, que consumiram perto de 50 mil hectares
em conjunto, mobilizaram mais de mil operacionais no combate às chamas.
O incêndio que deflagrou em
Pedrógão Grande, tendo alastrado a vários municípios vizinhos, causou 64 mortos
e mais de 200 feridos.
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Fonte: Jornal de Notícias
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