segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

6597. Deputados exigem firmeza do Governo sobre mina de urânio espanhola

O presidente da Comissão parlamentar de Ambiente exigiu hoje do Governo firmeza junto de Espanha para que Portugal seja envolvido na avaliação ambiental da mina de urânio de Retortillo, a 40 quilómetros da fronteira, perto de Almeida. "É necessário que o Governo português intervenha rapidamente, com firmeza e exigência porque a razão está do nosso lado, queremos que haja uma avaliação de impacto ambiental transfronteiriço", disse à agência Lusa Pedro Soares.
Deputados da Comissão de Ambiente, Ordenamento do Território, Descentralização, Poder Local e Habitação visitaram o local para onde está planeada a instalação de uma mina de urânio a céu aberto, em Retortillo, Espanha, juntamente com deputados espanhóis. No domingo, os deputados portugueses estiveram com vários autarcas da região da Guarda que transmitiram o desacordo relativamente à instalação da mina e os receios acerca dos seus efeitos para o ambiente e para a saúde.
A delegação da Comissão tem representantes de todos os partidos e "nota-se uma convergência grande relativamente a esta questão no sentido de exigir a participação das autoridades portuguesas na avaliação transfronteiriça", relatou Pedro Soares, do Bloco de Esquerda. Por isso, defendeu ser "possível que a Assembleia da República venha a aprovar em breve um diploma, um projecto de resolução que exija uma posição clara do Governo português".
A instalação da mina em Retortillo pela empresa Berkeley "teria efeitos devastadores sobre o território português, sobre toda aquela região" pois fica em frente do Parque Natural do Douro internacional, realçou. "Queremos é que haja firmeza da parte do Governo português e exigência no cumprimento das normas, não queremos que se repita – e parece que é para ai que vai o caminho – o que se passou em Almaraz", insistiu o presidente da Comissão parlamentar de Ambiente.
Referia-se à ausência de consulta a Portugal na decisão de construir um armazém de resíduos nucleares junto à central de Almaraz, perto do rio Tejo, levando à apresentação de uma queixa à Comissão Europeia, tendo sido conseguido posteriormente um acordo entre os dois países. "Percebemos que, tanto de um lado como de outro da fronteira, há uma grande preocupação dos autarcas e das populações relativamente a esta mina, [que] tem impactos óbvios em termos ambientais e em termos da qualidade de vida das pessoas", salientou Pedro Soares.
O deputado explicou que a mina, cuja instalação tem também suscitado críticas de ambientalistas portugueses e espanhóis, está em cima da bacia hidrográfica do Douro e "todas as escorrências e detritos da produção vão parar" ao rio. "O problema fundamental é que o urânio tem emissões radioactivas que não se controlam e podem, além de via água e aquíferos, também por via aérea chegar a Portugal e a mina está a 40 quilómetros em linha recta da fronteira de Almeida", alertou Pedro Soares.
Um estudo de avaliação de impacto ambiental feito pelo governo regional de Castela e Leon, que autorizou o projecto, define, segundo o deputado, que há "14 impactos severos, é o termo que utilizam, ao nível da avifauna, das questões ambientais, das populações, da água". A Berkeley "tenta manipular isto e diz que vai criar 400 postos de trabalho, vai ser muito importante para o desenvolvimento da região, mas qualquer pessoa minimamente inteligente percebe que isso é uma manobra para tentar manipular a opinião pública", disse ainda o político português.
Pedro Soares relatou que o Governo português já pediu informação a Espanha sobre este assunto e o executivo espanhol terá respondido que não tem de partilhar informação ou fazer avaliação de impacto ambiental transfronteiriço porque considera que não há impactos em Portugal.
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