sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

7598. Hélder Silvano

Foto: Hélder Silvano

Foi na quarta-feira, 15 de Janeiro, por volta da hora de almoço que o céu ficou cinzento e uns instantes de muito vento e chuva forte. Não havia qualquer alerta meteorológico ou da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil [os avisos para a depressão Glória viria a entrar em vigor apenas no fim de semana]. Tínhamos, portanto uma normal quarta-feira de Inverno.
Na sexta-feira, dia 17 de Janeiro, quase por acaso o presidente da Junta de Freguesia de Bemposta, Manuel João passou por aquela zona, afastada das aldeias. Algures entre Chaminé e Água Travessa detectou uma quantidade de árvores arrancadas e partidas a meio. Surpreendido, entrou pelos terrenos adentro e percebeu que tinha acontecido ali um fenómeno qualquer, pois havia uma quantidade enorme de árvores arrancadas pela raiz, umas, e partidas a meio, outras.
(...) Hélder Silvano, responsável pela estação meteorológica MeteoAbrantes foi ao local ver os estragos e, como meteorologista amador, fazer um levantamento dos danos para enviar ao instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). Diz que ficou registado de imediato, agora é preciso a clarificação científica dos especialistas para classificar o fenómeno como tornado, mas afirma não ter dúvidas que foi isso que se passou. “Face ao grau de destruição visível não tenho dúvidas que foi um tornado que passou ali. E pode ter sido um F1 [ventos até 180 km/h] face às árvores arrancadas e à forma como algumas estão torcidas”, vinca Hélder Silvano que acrescenta que ter-se-á criado ali “uma supercélula que andou os cerca de três quilómetros e depois desapareceu”. Aliás, explica, que mesmo sem alertas ou avisos meteorológicos havia condições favoráveis à ocorrência destes fenómenos, porque um tornado forma-se e depois desaparece. Neste caso terá percorrido uma distância de três mil metros, mas longe de povoados por isso não foi visível.
Hélder Silvano recolheu imagens, até de drone, para fazer um relatório para o IPMA que regista os fenómenos e pode avançar com outro tipo de investigações. E relembra que para a ocorrência destes fenómenos não é necessário a existência de qualquer aviso meteorológico, o que os torna ainda mais perigosos face à sua imprevisibilidade.
Já sobre o grau de destruição ainda tem a ver com a velocidade dos ventos e com a sua rotação, até porque um tornado pequeno pode ser mais violento do que um dos grandes. “Não é a sucção que conta no grau de destruição ou até a velocidade dos ventos, mas sim a força da rotação”, garante o responsável pela MeteoAbrantes revelando que daquilo que viu umas árvores foram arrancadas pela raiz, como demonstram as fotos, outras partiram a meio “por estarem mais secas”.

Jerónimo Belo Jorge



O antigo professor de Português nunca seguiu profissionalmente a carreira de meteorologista, devido "às fracas perspectivas de emprego", mas manteve o hobby sempre perto. Passou por todas as fases: do aparelho para ligar à TV cabo e que dava acesso às previsões do canal italiano RAI, a uma primeira estação meteorológica logo que a sua venda foi liberalizada - "houve uma altura que só o instituto de meteorologia é que podia ter" - até à actual estação que tem em casa e à variedade de programas informáticos que permitem calcular com precisão o que acontece a pelo menos a três dias de distância.
A colaboração com a Protecção Civil é cada vez mais estreita: "Estou presente nas reuniões, entro em campo nas situações mais especiais, como o risco de incêndio ou de tempestade. Nos fogos do ano passado, fui algumas vezes entregar previsão mais fina, de períodos de 30 minutos, com velocidade e direcção do vento, humidade, temperatura", descreve. Passou também a ter acesso a mais dados das estações meteorológicas da protecção civil distrital, o que lhe permitiu aumentar o nível de dados que disponibiliza na sua página online e também integrar a rede Ciclope (Sistema Integrado de Vigilância Florestal).


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