terça-feira, 7 de janeiro de 2025

Tornado Peniche 5 de Janeiro


Pelas 15 UTC (igual à hora local) de dia 5 de Janeiro de 2025 foi relatado um episódio de vento forte na cidade de Peniche, tendo sido apurada a ocorrência de danos em diversos edifícios e habitações, em particular ao nível dos telhados, em sinais rodoviários e ainda a queda de árvores. De acordo com os elementos disponíveis foi efectuada uma análise preliminar, admitindo-se que o fenómeno tenha alcançado uma intensidade de, pelo menos, F0/T1 (escala clássica de Fujita/escala de Torro), correspondendo a vento na gama 25-32 m/s, ou seja, 90-115 km/h (rajada, média de 3s). Estes valores devem ser considerados como provisórios, podendo vir a ser confirmados ou alterados proximamente.
Durante a madrugada e manhã de dia 5 de Janeiro verificou-se a aproximação e passagem, pelas regiões do norte e centro do território do continente, de uma superfície frontal fria (s.f.f.) de forte actividade. Esta s.f.f. encontrava-se associada a uma depressão nomeada como “Floriane” pela MeteoFrance (Serviço Meteorológico Francês) que, pelas 00 UTC desse dia, estava centrada a sudoeste da Irlanda. A s.f.f. atravessou as regiões do norte e centro a partir da manhã. A massa de ar pré-frontal, transportada por um fluxo de sudoeste bastante forte, tinha as características de ar tropical marítimo, quente e húmido, com elevado conteúdo em água precipitável e instabilidade atmosférica moderada. Após a passagem da referida s.f.f., o território ficou sob influência de uma massa de ar mais fria e seca, mas com notável incremento da instabilidade atmosférica, tendo-se igualmente verificado a aproximação de um ramo da corrente de jacto aos níveis elevados, que favorecia condições de divergência em altitude sobre a faixa costeira. Assim, durante o período da tarde, em particular sobre as regiões do norte e centro, o wind shear (variação do rumo e/ou intensidade do vento), na camada situada entre a superfície e 6 km de altura, era moderado a elevado e capaz de suportar a formação de convecção com algum grau de organização. Na camada 0-1 km o wind shear mantinha uma magnitude também elevada.
Neste contexto meteorológico, observaram-se as assinaturas de diversas perturbações convectivas na massa de ar pós-frontal, com o auxílio de um produto de reflectividade de baixa elevação, processado pelo radar de Coruche/Cruz do Leão (C/CL). Os padrões com maior valor de reflectividade correspondiam a aglomerados nebulosos com desenvolvimento vertical, alguns dos quais apresentando características de Supercélula (SC). Trata-se de aglomerados nebulosos com correntes de ar ascendentes particularmente fortes e que adquirem movimento de rotação ao alcançar os níveis médios, devido às referidas condições de wind shear na camada 0-6 km. Este movimento de rotação, bastante organizado, forma um mesociclone (MC). Esclarece-se que o MC não é um tornado, apenas uma circulação em altitude. Admite-se, no entanto, que a presença de ar seco nas vizinhanças do MC, bem como suficiente wind shear na camada 0-1 km, podem vir a favorecer a formação de um vórtice turbulento, que alcance a superfície – o tornado. Nas condições atmosféricas relativamente marginais deste dia, as SC observadas em ar frio eram relativamente incipientes e, por isso, caracterizadas por ciclos de vida relativamente curtos em comparação com o que é mais comum observar-se.
A SC que viria a produzir o tornado que afectou a cidade de Peniche foi disso exemplo, não apresentando características particularmente distintivas relativamente às demais. Confirmou-se que o tornado iniciou o seu trajecto ainda sobre o Atlântico, pouco antes das 15 UTC, deslocando-se de sudoeste para nordeste, em harmonia com o movimento da nuvem-mãe. É possível seguir os padrões de reflectividade e de velocidade Doppler observados a baixa altitude, correspondentes a esta SC, em dois instantes diferentes. Um pouco a sul desta SC identifica-se uma outra, caracterizada por reflectividade com maior magnitude e assinatura Doppler mais marcada, mas relativamente à qual não foram conhecidos relatos de destruição significativa.
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Fonte (texto e imagem): IPMA

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