quinta-feira, 16 de outubro de 2008

2044. Crise financeira agravará falta de comida no mundo

A fome no mundo pode atingir ainda mais gente que os 925 milhões do final de 2007. O alerta foi lançado pela FAO, a propósito do Dia Mundial da Alimentação que se assinala esta quinta-feira. Mais 100 milhões serão afectados.
A FAO, Organização para a Alimentação e Agricultura, fez as contas: a crise financeira vai influir na produção de comida e pode lançar mais 100 millões de pessoas na fome. Já no ano anterior se tinha verificado um agravamento da situação, devido a vários factores conjugados: a alta de preço dos cereais, por especulação e pelo efeito de algumas catástrofes naturais, bem como pelo desvio de muita produção para os biocombustíveis. Esses fenómenos à escala global fizeream passar o número de pessoas que passam fome dos 850 milhões para os 925 milhões no final de 2007. Ora, esta realidade corresponde a um sexto da população mundial com a barriga vazia.
Desta vez, os alertas desta agência das Nações Unidas vão para as consequências da crise financeira sobretudo nos países mais pobres. O Banco Mundial já assinalou 36 países em grande perigo, e que se espalham pela África, Ásia e Médio Oriente. Mais 100 milhões a afundar-se em níveis de pobreza maiores, alertou ontem o director-geral da FAO, Jacques Diouf, que lançou um apelo aos países ricos para que honrem os seus compromissos de ajuda internacional. De igual modo, referiu que as nações desenvolvidas, perante a actual crise, podem ser tentadas a práticas de mercado protecionistas.
De acordo com a FAO, a crise financeira terá impacto no sistema de acesso ao crédito, no investimento directo e mesmo nas remessas feitas pelos emigrantes para os seus países. No que toca à produção de alimentos, o aviso ainda é mais claro: muitos agricultores irão deixar de cuidar das suas terras e lançar sementes á terra devido ao aumento dos custos de produção (sementes, fertilizantes e pesticidas) e à impossibilidade de recorrerem ao crédito. Esta, é, de resto, uma realidade que afecta a agricultura em países como Portugal e de que se queixam até pequenos produtores de países ricos como os EUA.
No caso nacional, recorde-se que o desaparecimento de agricultores foi um dos alertas lançados pelo Presidente da República no seu último Roteiro pelo país, dedicado à Juventude.
A FAO indica nas suas previsões que as colheitas de 2009 podem ser mais reduzidas que as da campanha de 2008 (que acabou por ter bons resultados, com um aumento de 4,8% nos cereais). Em regiões como a Europa e os Estados Unidos as áreas de cultivo vão diminuir. Por isso, a agência das Nações Unidas para a Agricultura e alimentação deixa o alerta de que o próximo ano, por mais escasso em cereais, poderá levar a uma nova alta de preços, o que seria uma catástrofe para milhões de pessoas desfalcadas de dinheiro e sem acesso ao crédito.
Segundo Jacques Diouf, "a crise financeira global não nos pode fazer esquecer a crise da fome. A agricultura precisa de atenção urgente e sustentada por forma a que a fome e a pobreza rural passem a fazer parte de história".
A fome no mundo, segundo assinala a FAO, atinge sobretudo populações rurais e que vivem da agricultura. As previsões indicam que as catástrofes naturais mais frequentes e causadas pelas alterações climáticas vão aumentar o número de famintos nas próximas décadas. O recurso a produções agrícolas para a produção de biocombustíveis também agravará essa realidade.
Eduarda Ferreira
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Fonte:
Jornal de Notícias

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