terça-feira, 10 de agosto de 2010

3086. Grandes fogos voltam a consumir a floresta

No dia em que se confirmou o regresso dos grandes fogos à floresta nacional, um bombeiro morreu e outro ficou gravemente ferido, em S. Pedro do Sul, quando o tanque de combate a incêndios em que seguiam se despistou. Segundo fonte da Autoridade Nacional de Protecção Civil, este acidente veio aumentar para dois o número de mortos e para seis o de feridos graves, em 2010, entre os bombeiros que combatem as chamas.
Em S. Pedro do Sul ou em Tabuaço, os incêndios duram há vários dias e estão a consumir extensas áreas de mato e de floresta, fazendo regressar o perfil dos grandes incêndios da primeira metade da década. Os fogos em S. Pedro do Sul e Tabuaço, ambos no distrito de Viseu, são dois bons exemplos do regresso dos grandes fogos, tanto em termos de extensão de área ardida como no que diz respeito à sua durabilidade.
O primeiro deflagrou durante a tarde da passada sexta-feira e, segundo soube o PÚBLICO, já consumiu cerca de três mil hectares de floresta. Ontem encontravam-se a combater as chamas, em S. Pedro do Sul, 375 bombeiros apoiados por 89 viaturas e sete meios aéreos. O fogo em Tabuaço, que já terá consumido mais de dois mil hectares, deflagrou também na sexta-feira e a combatê-lo estavam ontem envolvidos 146 homens, 40 viaturas e dois meios aéreos.
Mas o que motivou o regresso dos grandes incêndios? Para os especialistas ouvidos pelo PÚBLICO, são duas as razões fundamentais para que os incêndios deste ano consumam mais área florestal e durem, em média, mais tempo do que os dos últimos cinco anos.
Rosário Alves, directora executiva da Forestis, e Paulo Fernandes, investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), partilham da opinião de que as condições climatéricas adversas, que conjugam altas temperaturas com ventos mais secos, são uma das razões que dificultam a extinção dos fogos e contribuem para a sua grande extensão. Porém, a falta de investimento na gestão do território e um sistema deficiente no combate às chamas são também, segundo os dois especialistas, responsáveis pelo regresso dos grandes incêndios.
Paulo Fernandes queixa-se de "muita desorganização no combate aos incêndios" e de "problemas na formação de quem comanda". Para o investigador da UTAD, os comandantes das operações no terreno "não sabem ler o incêndio". O investigador recomenda ainda que em Portugal se adoptem outras técnicas de combate às chamas que não envolvam apenas água, como é o caso da "abertura de faixas para circunscrever o fogo".
Rosário Alves defende um "contrato social entre proprietários, indústria e Estado" para tornar a floresta mais "resiliente". A directora executiva da Forestis diz que falta concretizar "no terreno" as medidas planeadas aquando da criação das "zonas de intervenção florestal": "O PRODER tardou a iniciar-se e não há ainda reflexos desse investimento."
"Há falta de gestão do território", argumenta Rosário Alves, enumerando uma maior limpeza, a criação de mais redes viárias e de pontos de água como medidas concretas que trariam resultados positivos.
Tiago Carvalho
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Fonte (Texto e imagem): PÚBLICO

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