As temperaturas negativas
registadas na América do Norte podem ajudar a explicar as ondas gigantes do
inverno passado em Portugal, fenómeno que os meteorologistas querem perceber se
foi excecional ou fruto de alterações climáticas mais duradouras.
Portugal registou durante o
inverno de 2013/2014 períodos prolongados de chuva acima dos valores
considerado normais, ventos e forte agitação marítima, com ondas gigantes que
em zonas como na Costa de Caparica ou na Nazaré galgaram a costa, causando
milhares de euros de prejuízos. Baixas temperaturas, neve e tempestades foram
outros fenómenos que marcaram o inverno passado e que os especialistas procuram
agora perceber se foram excecionais ou prenúncio do clima que irá marcar
Portugal no futuro.
O presidente da Associação
Portuguesa de Meteorologia e Geofísica (APMG), Luís Pessanha, diz que é
consensual que o inverno "foi muito prolongado" e
"particularmente intenso e severo", mas, considerou, importa agora
perceber se se tratou de um fenómeno inédito, se vai voltar a repetir-se e com
que frequência. Para responder a esta e outras questões, a APMG e o Instituto
Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) juntaram em Lisboa especialistas nas
áreas de mar, tempo e clima e representantes de instituições afetadas pelos
temporais, como a Rede Elétrica Nacional (REN), num colóquio que pretendeu
avaliar os impactos do inverno passado.
A ideia é, explicou Luís Pessanha
à agência Lusa, analisar o que aconteceu, qual a sua relação com "uma
eventual anomalia" em termos de clima e se se enquadra nos efeitos das
alterações climáticas. Luís Pessanha sublinhou a intensidade dos temporais de
mar que ocorreram neste inverno, mas lembrou que "em 1978/1979 o molhe de
Sines foi derrubado duas vezes em anos seguidos". "Aparentemente este
fenómeno tem um período de retorno de 50 em 50 anos, mas isso não prova nada em
matéria de alterações climáticas", disse.
Para Pedro Viterbo, diretor do
departamento de Meteorologia e Geofísica do Instituto Português do Mar e da
Atmosfera (IPMA), a pergunta "Inverno de 2013/14: Excecionalidade?" -
que dá nome ao colóquio - não é de resposta pronta, como também não é fácil encontrar
um "culpado evidente" pelo inverno rigoroso. "Temos diagnóstico
de um continente norte-americano muito frio em dezembro e janeiro e isso
contribuiu com certeza para aumentar a frequência das depressões e a geração de
depressões muito intensas", disse Pedro Viterbo.
O especialista explicou que a
diferença de temperaturas entre um "continente muito frio", que
registou várias vezes temperaturas de 10 graus negativos, e um oceano Atlântico
"relativamente quente" cria um grande potencial de energia. Energia
que se traduziu, segundo Pedro Viterbo, em "desenvolvimentos
explosivos" gerados na Costa Leste dos Estados Unidos, que se propagaram
muito rapidamente pelo Atlântico até chegar à Europa, sobre a forma de ventos e
agitação marítima.
Para Pedro Viterbo, esta é uma
parte da explicação do "inverno invulgar" que Portugal viveu este
ano, mas não se consegue ainda dizer se "estamos ou não a ver uma coisa
que não é deste clima, mas prenúncio do clima que aí vem". "Foi
excecional do ponto de vista do número de depressões muito cavadas. Contei pelo
menos 10 depressões que de um dia para o outro cavaram mais de 20 hectopascal
[unidade de medida da pressão atmosférica]. Isso é muito invulgar. Acontecem
três ou quatro no inverno, acontecerem 10 repentinas é muito invulgar. A
persistência destas depressões, uma a seguir à outra, é qualquer coisa de muito
excecional", disse.
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Fonte: RTP Notícias
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