O clima na Europa tem passado por
extremos nas últimas semanas. No Reino Unido, por exemplo, se o final de Janeiro
trouxe uma vaga de frio que congelou o País, este Fevereiro está a bater
recordes de calor.
Os cientistas são comedidos nas
análises de fenómenos atípicos – porque as excepções devem ser analisadas em
séries longas de 20 a 30 anos e não no imediato – mas cresce a percepção de que
os fenómenos extremos são cada vez mais frequentes. E tudo pode estar
relacionado com o progressivo degelo que se verifica no Árctico, onde ano após
ano os glaciares vão recuando.
Philip Jones, professor da
Universidade de East Anglia, em Inglaterra, e um dos mais reputados
especialistas mundiais em alterações climáticas, explica ao CM a influência do Árctico
no clima terrestre. "É possível que o Árctico seja responsável [por esta
instabilidade] mas teremos que analisar mais anos do que os últimos dois ou
três. As correntes de jacto circulam pelo Hemisfério Norte entre as latitudes
45 e 65N. Em alguns Invernos, isto provoca mais ondas (meandros). À medida que
os meandros sobem a latitudes mais a Norte e depois descem mais para Leste,
isto leva a anormalidades de frio e calor nas latitudes intermédias no
Hemisfério Norte", explica o cientista que assinou vários relatórios para
o Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC), da ONU.
O professor explica que "Se
a formação deste meandro [corrente de ar em serpentina] se deve à redução do
gelo no Oceano Árctico, essa é uma área de pesquisa que tem estado muito activa".
Mais do que em qualquer outro ponto do globo, as temperaturas em redor do Pólo
Norte têm subido ano após ano. O que significa um degelo acelerado, mais calor
a chegar aos oceanos, tudo combinado para criar significativas alterações nas
correntes atmosféricas, que a ciência ainda tenta compreender.
Apesar das dúvidas, há factos
inquestionáveis. Na última segunda-feira, 25 de Fevereiro, bateu-se o recorde
do dia mais quente deste mês alguma vez registado no Reino Unido, com os
termómetros a chegarem acima dos 20 graus em várias zonas no País. Mas, como
lembra Philip Jones, no ano passado, por esta altura, vivia-se no norte da
Europa uma das maiores vagas de frio de sempre, baptizada com o curioso nome de
‘A Besta de Leste’.
O que parece cada vez mais
evidente é que o clima está cada vez mais imprevisível em termos globais. Neste
mês de Janeiro, vivemos em simultâneo a maior vaga de frio registada nos
últimos 50 anos na América do Norte, ao mesmo tempo que a Austrália vivia uma
onda de calor sem precedentes.
Os números mostram que os 20 anos
mais quentes alguma vez registados aconteceram desde 1981. Ou que os 10 anos
mais quentes de sempre ocorreram nuas últimos 12. Os oceanos já registam uma
subida do nível das águas de 17 centímetros desde 1900 (indica a NASA), e as
temperaturas médias subiram 1 grau. Factos que apontam para uma mudança que
muitos consideram já irreversível e que não augura nada de bom.
José Carlos Marques
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Fonte: Correio da Manhã
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