A depressão Elsa
não chegará a tocar o solo nacional, mas uma corrente que resulta da acção da
depressão e do anticiclone que se localiza a sul do arquipélago dos Açores
promete complicar a vida dos portugueses nas próximas horas. Aos avisos laranja
e vermelho emitidos pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) para
precipitação e vento forte só escapa Évora (que está a amarelo) e a protecção
civil contou já mais de 1800 ocorrências, maioritariamente a norte com os
distritos de Porto e Braga a serem os mais afectados.
Quedas de
árvores, falhas de energia, quedas de estruturas móveis (andaimes, por exemplo)
em construções, ou danos em habitações são algumas das ocorrências reportadas
por fonte da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil (ANEPC) à
Rádio Observador. Os efeitos da depressão Elsa fizeram sentir-se com maior
intensidade durante a noite na zona norte do país, sendo expectável que
a
partir das 15 horas o tempo piore na zona centro e centro sul, atingindo a
região de Lisboa com maior intensidade a partir das 18 horas,
de acordo com as informações dadas numa conferência de imprensa da ANEPC cerca
das 13 horas.
A queda de árvores já fez
20 desalojados,
ainda que temporariamente. Em Almada, nove pessoas, de duas famílias, foram
retiradas de casa por precaução e realojadas pela câmara municipal. A
presidente da autarquia deslocou-se ao local durante a manhã para garantir que
as famílias tinham recebido, do município, a ajuda social, mas que optaram por
passar a noite num hotel na Costa de Caparica. Também em Santo Tirso, sete
pessoas foram acolhidas em casa de familiares devido à queda de árvores sobre a
casa onde vivem, esclareceu à Lusa o comandante da protecção civil, Rui
Laranjeira. Em Vila Verde, Braga, um eucalipto caiu sobre uma casa desalojando
os quatro habitantes — dois adultos e dois menores — segundo fonte dos
bombeiros à agência Lusa. O alerta para a ocorrência foi dado durante a
madrugada, pelas 2h30.
A corrente
ligada à depressão Elsa desloca-se de norte para sul, sendo expectável que a
situação se complique ao longo do dia, com a zona de Lisboa a ser mais afectada
a partir das 18 horas. Durante o briefing na sede da ANEPC, Pedro
Nunes, comandante adjunto de operações da Protecção Civil deu nota que “a
situação de seca hidrológica já não se verifica no centro e norte do país”,
havendo neste momento algumas bacias de rios que “preocupam a ANEPC”.
Em causa a bacia
do rio Lima (“muito perto dos caudais de cheia para que possam provocar
inundações, quer em Ponte da Barca quer em Ponte de Lima”), do Tâmega (“perto
do caudal limite para provocar cheias em Amarante”), do Águeda (“o caudal está
pouco estabilizado e são esperadas no princípio da noite inundações na zona de
Águeda”), do Douro (“em monitorização com especial atenção para a zona da régua
e para a foz do Douro”) e do Mondego (“o caudal apresenta um aumento
significativo e não há previsão de descida”). Segundo Pedro Nunes, são
esperados ventos na ordem dos 80/100 km/h em todo o país, ainda que a ANPC não
pondere “elevar o nível de alerta para vermelho em nenhum distrito”.
Já sob aviso vermelho do IPMA estão os distritos de Aveiro
(precipitação e vento entre as 15 horas desta quinta-feira e as 3 horas de
sexta-feira), Braga (precipitação entre as 12 horas e as 21 horas desta
quinta-feira), Castelo Branco, Coimbra, Guarda e Viseu (vento entre as 18 horas
desta quinta-feira e as 3 horas de sexta-feira), Porto (precipitação entre as
15 horas e as 21 horas desta quinta-feira), Viana do Castelo (precipitação
entre as 12 horas e as 18 horas desta quinta-feira) e Vila Real (precipitação
entre as 12 horas e as 21 horas desta quinta-feira).
Sob aviso laranja do IPMA estão Beja e Faro (agitação
marítima entre as 15 horas desta quinta-feira e as 6 horas de sábado), Bragança
(precipitação e vento entre as 12 horas desta quinta-feira e a meia-noite de
sexta-feira), Leiria, Lisboa e Setúbal (agitação marítima e vento entre as 6
horas desta quinta-feira e as 12 horas de sexta-feira), Portalegre e Santarém
(vento entre as 12 horas desta quinta-feira e as 3 horas de sexta-feira).
Nos Açores, a
depressão Elsa provocou duas quedas de árvores nas ilhas Terceira e São Miguel,
e a Protecção Civil continua a acompanhar a evolução do estado do tempo. “A
nível pessoal não há qualquer dano, a nível material são danos de pequena
monta”, avançou, em conferência de imprensa, o vice-presidente do Serviço
Regional de Protecção Civil e Bombeiros dos Açores (SRPCBA), Osório Silva. Na
madrugada passada, tinham sido registadas outras seis ocorrências de pequena
dimensão nas ilhas de São Jorge, Terceira e São Miguel.
O IPMA colocou todas
as ilhas dos Açores sob aviso laranja até às 18:00 de hoje (hora local, mais uma em Lisboa), devido às
previsões de vento forte, com rajadas até 130 km/hora do quadrante oeste e
agitação marítima, com ondas de altura significativa entre seis a nove metros
de oeste/noroeste. A rajada máxima registada esta madrugada ocorreu em Ponta
Delgada, na ilha de São Miguel, com 102,6 km/hora, às 6:50. A Protecção Civil
dos Açores apela à população para que “continue a cumprir com medidas de
autoproteção”. “Segundo as previsões do IPMA, a partir do meio-dia, o tempo irá
ficar mais calmo na região, mas até lá vamos manter a prudência e acompanhar o
evoluir do estado do tempo”, salientou Osório Silva.
EDP: Milhares de casas sem
energia eléctrica – Depois de ter activado
às 18 horas de quarta-feira o estado de alerta, durante a madrugada desta
quinta-feira, a EDP alterou o estado para “perturbado”, em cumprimento com o
seu plano operacional de actuação em crise, para responder às ocorrências que
resultam dos ventos fortes e chuva que se fazem sentir. Ao Observador, Fernanda
Bonifácio directora de comunicação da EDP distribuição afirmou que esta foi uma
noite “muito difícil” e que a empresa está a fazer “todos os possíveis” para
conseguir restabelecer o fornecimento de energia eléctrica às áreas afectadas. “As
zonas mais fustigadas estão localizadas nos distritos de Viana do Castelo,
Braga, Porto e Vila Real, tendo o fornecimento regular de energia eléctrica
sido interrompido em milhares de lares. Os municípios mais afectados, até ao
momento, são: Amarante, Braga, Guimarães, Esposende e Barcelos”, esclarece a
empresa num comunicado.
Altice Portugal activa gabinete
de crise para as zonas afectadas pela depressão Elsa – Em comunicado, a Altice Portugal anunciou ao início da tarde que
“reforçou as suas equipas e meios técnicos no terreno, sobretudo nos distritos
de Braga, Porto, Viana do Castelo, Viseu, Vila Real e Aveiro”. A empresa
assinala que “mais de 50% das avarias têm como origem falhas de energia” o que
condiciona os trabalhos de recuperação dos serviços. “Apesar de todos os
esforços encetados pela Altice Portugal, em estreita colaboração com a ANEPC,
as previsões meteorológicas adversas que se estimam para a tarde do dia de
hoje, torna impossível, neste momento, fazer uma previsão para a normalização
das comunicações nas regiões mais afectadas”, escreve a empresa na nota.
Recomendações da Protecção Civil
e da Marinha – Aos condutores, a Protecção
Civil recomenda que a precaução seja redobrada, com especial atenção para a
possibilidade de formação de lençóis de água nas entradas. A Marinha e
Autoridade Marítima Nacional reforçaram hoje o alerta para o agravamento do
estado do mar nos próximos dias, pedindo especiais precauções a pescadores e
marinheiros de recreio, assim como à população em geral junto à costa.
Numa nota publicada na sua página
oficial, a Marinha alerta que “está previsto um agravamento excepcional das
condições meteorológicas e do estado do mar para Portugal continental e para o
sector Norte da região de busca e salvamento de Santa Maria, nos Açores, no
período compreendido entre a tarde de 19 de Dezembro e a manhã de 22 de Dezembro”.
A ondulação pode atingir uma altura significativa de 11 metros e “períodos
médios entre os 12 e os 15 segundos” e o vento deverá registar velocidades
superiores a 75 quilómetros por hora e rajadas acima dos 100 quilómetros por
hora. “É expectável que neste período ocorram aguaceiros fortes com
precipitação superior a 04 milímetros por hora. Assim, a Marinha e a Autoridade
Marítima Nacional reforçam a recomendação, em especial à comunidade piscatória
e da náutica de recreio que se encontra no mar, o eventual regresso ao porto de
abrigo mais próximo e a adopção de medidas de precaução. Recomenda-se o reforço
da amarração e vigilância apertada das embarcações atracadas e fundeadas, bem
como evitar passeios junto ao mar, de onde se destacam os molhes das entradas
das barras e zonas nas praias junto à água”, lê-se na nota.
A Marinha
recomenda “um estado de vigilância permanente” e acompanhamento das informações
meteorológicas e avisos à navegação e outros aspectos como as condições de
acesso aos portos, pedindo que se evite sair para o mar até à melhoria das
condições.
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Fonte: Observador
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