Mais de dois
terços das vítimas mortais (47 pessoas) seguiam em viaturas e ficaram cercadas
pelas chamas na Estrada Nacional 236-1, entre Castanheira de Pêra e Figueiró
dos Vinhos, no interior norte do distrito de Leiria, ou em acessos àquela via. As
chamas, que eclodiram pelas 14:00 de 17 de Junho de 2017, foram extintas
passado uma semana (24 de Junho), depois de, em 20 de Junho, se terem juntado
ao fogo que, cerca de dez minutos depois do início daquele incêndio, no
concelho de Pedrógão Grande (em Escalos Fundeiros), deflagrou no município de
Góis (distrito de Coimbra), em Fonte Limpa.
Cerca de 53 mil
hectares de território, 20 mil hectares dos quais de floresta, foram atingidos
por estes fogos, sobretudo nos municípios de Pedrógão Grande, Castanheira de Pêra
e Figueiró dos Vinhos, no distrito de Leiria, de Góis e Pampilhosa da Serra
(Coimbra) e da Sertã (Castelo Branco). Além de terem destruído total ou
parcialmente mais de meio milhar de casas – 264 das quais habitações
permanentes, cerca de 200 secundárias e mais de cem devolutas –, as chamas
também atingiram quase meia centena de empresas, afectando o emprego de quase
400 pessoas.
Estimativas
feitas pouco tempo depois dos incêndios apontavam para que os prejuízos
provocados na floresta ultrapassassem os 83 milhões de euros, enquanto os danos
em habitações estimavam mais de 27,6 milhões de euros, na indústria e turismo
perto de 31,2 milhões de euros, na agricultura 20 milhões de euros e noutras actividades
económicas mais de 27,5 milhões de euros. Os danos provocados em
infraestruturas municipais eram avaliados em cerca de 20 milhões de euros e na
rede viária nacional em perto de 2,6 milhões de euros. O Conselho para a
atribuição de indemnizações às vítimas destes incêndios (e dos de 17 de Outubro
de 2017) fixou, em final de Novembro desse ano, em 70 mil euros o valor mínimo
para privação de vida.
As mortes
provocadas pelo incêndio levaram o Departamento de Investigação e Acção Penal
de Coimbra a abrir um inquérito, que investigou as responsabilidades no fogo com
início em Pedrógão Grande. O despacho de pronúncia acusava 13 arguidos. Na
abertura da instrução, o juiz do Tribunal de Leiria decidiu deixar de fora da
acusação o comandante distrital de operações de socorro de Leiria à data dos
factos, Sérgio Gomes, o segundo comandante distrital, Mário Cerol, e José
Graça, então vice-presidente do município de Pedrógão Grande.
Aguardam
julgamento os presidentes dos municípios de Castanheira de Pêra, Figueiró dos
Vinhos e Pedrógão Grande em funções à data dos factos: Fernando Lopes, Jorge
Abreu e Valdemar Alves, respectivamente. O tribunal decidiu ainda levar a
julgamento a então engenheira florestal no município de Pedrógão Grande,
Margarida Gonçalves; o comandante dos Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande,
Augusto Arnaut; o subdirector da área comercial da EDP José Geria; o subdirector
da área de manutenção do Centro da mesma empresa, Casimiro Pedro; e três
arguidos com cargos na Ascendi Pinhal Interior: José Revés, António
Berardinelli e Rogério Mota.
O Ministério
Público de Leiria, para onde transitou o processo, recorreu da decisão, que se
encontra neste momento no Tribunal da Relação de Coimbra a aguardar o despacho
final. Também o processo de reconstrução das casas ardidas levou o Ministério
Público de Coimbra a abrir um inquérito.
A investigação
resultou numa acusação contra 28 arguidos pela alegada prática de 20 crimes de
burla, 20 crimes de prevaricação de titular de cargo político, 20 crimes de
falsificação de documentos, um crime de falsidade informática e um crime de
falsas declarações. O processo foi para Leiria devido à competência
territorial. O presidente da Câmara de Pedrógão Grande, Valdemar Alves, o
ex-vereador Bruno Gomes e o construtor civil João Paiva pediram a abertura da
instrução. A juíza entendeu que todos devem ser julgados em tribunal colectivo.
O fogo de
Pedrógão Grande foi “muito provavelmente aquele que, em Portugal, libertou mais
energia e o fez mais rapidamente (com um máximo de 4.459 hectares ardidos numa
só hora), exibindo fenómenos extremos de vorticidade e de projecção de material
incandescente a curta e a longa distância", afirma o relatório da Comissão
Técnica Independente (CTI), criada para avaliar os incêndios ocorridos entre 17
e 24 de Junho, em 11 concelhos dos distritos de Leiria, Coimbra e Castelo
Branco.
A Assembleia da
República aprovou, por unanimidade, em 07 de Junho de 2019, um projecto de
resolução que consagra o dia 17 de Junho como Dia Nacional em Memória das
Vítimas dos Incêndios Florestais.
* * * * * * * *
* * * * *
Fonte: SAPO Notícias
Sem comentários:
Enviar um comentário