sábado, 8 de janeiro de 2022

8427. Relâmpagos triplicaram na região do Ártico nesta última década

No Árctico, historicamente os relâmpagos são raros, uma vez que não faz calor suficiente na região para gerar as condições propícias às trovoadas, durante as quais os relâmpagos ocorrem. Contudo, pesquisadores notaram recentemente que estão a ocorrer mais trovoadas nas latitudes mais setentrionais, tendo até registado vários relâmpagos perto do Pólo Norte em Agosto de 2019. As trovoadas que ocorrem no Árctico têm tendência de ocorrer no verão, pois é quando elas têm a maior probabilidade de se formar.

Um novo estudo publicado na revista Geophysical Research Letters, destaca que o número de trovoadas acima da latitude de 65ºN durante os meses de verão triplicou entre 2010 e 2020, se comparado com o número total de trovoadas em todo o planeta durante o mesmo período. Os autores recorreram aos dados fornecidos pela World Wide Lightning Location Network (WWLLN), que mapeou os relâmpagos no mundo inteiro entre 2010 e 2020.

O aumento das descargas eléctricas pode ser atribuído ao aumento de temperatura – O Árctico está a registar um aquecimento muito mais rápido do que qualquer outra região da Terra, sendo que o aumento das descargas eléctricas nesta região esteve associado com o aumento das temperaturas na última década, de acordo com as descobertas dos autores do estudo. A temperatura do Árctico aumentou 0,30ºC entre 2010 e 2020 e este aquecimento forneceu condições mais favoráveis para a ocorrência de trovoadas de verão intensas, que produzem mais raios.

O estudo, elaborado por Bob Holzworth e colegas, teve como objectivo a análise da frequência das descargas eléctricas no Árctico ao longo dos meses de verão (Junho, Julho e Agosto) entre 2010 e 2020. Os pesquisadores puderam notar que a percentagem das descargas eléctricas triplicou neste período de dez anos, passando de 0,2% para 0,6%. Em valores absolutos, o número de descargas eléctricas a norte da latitude de 65ºN foi de cerca de 18.000 em 2010 e de mais de 150.000 em 2020.

Ao longo da última década, as temperaturas no Árctico aumentaram de 0,65ºC para 0,95ºC em relação à média dos tempos pré-industriais. Holzworth e seus colegas atribuem o aumento das descargas eléctricas a este aumento das temperaturas, dado que verões mais quentes apresentam maiores chances de ocorrência de trovoadas intensas e de raios. Os resultados sugerem que os habitantes do Árctico no norte da Rússia, Canadá, Europa e Alasca precisam se preparar para o perigo de raios mais frequentes.

Em outro estudo, publicado na revista Nature, é apontado também a hipótese de que o aumento na ocorrência de raios pode induzir a um maior número de incêndios na tundra árctica, o que aceleraria a migração de árvores boreais para o norte e, como consequência, isto teria potencial para desencadear e acelerar a liberação de carbono em solos congelados, como o permafrost.

Navios de transporte marítimo no Árctico poderão ficar vulneráveis aos raios – Este estudo indica também que os navios de transporte marítimo em todo o Árctico poderiam tornar-se mais vulneráveis aos raios.

"Com longos períodos de oceano livre de gelo e um aumento dos transportes marítimos no Árctico, vai haver o mesmo problema que se tem em latitudes mais baixas: quando há muitas pessoas e elas desconhecem a ameaça dos raios e isso torna-se um problema", disse Bob Holzworth, físico atmosférico e espacial da Universidade de Washington em Seattle e autor principal do novo estudo.

A cada década, o gelo marinho do Árctico tem diminuído cerca de 13%, segundo a NASA. Uma menor quantidade de gelo significa que no futuro mais rotas oceânicas vão ficar disponíveis para a navegação através do Árctico, principalmente no verão. Países como a Rússia, Canadá, China e Estados Unidos começaram agora a preparar-se para a utilização do oceano Árctico como uma rota marítima viável.

Alfredo Graça (MeteoRed Portugal)

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Fonte: Tempo com


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